A arte de Jill Thompson em Sandman: Os pequenos perpétuos
Introdução
Sandman, de Neil Gaiman, é uma série de quadrinho aclamada e já estabelecida na nona arte. Publicada sob o selo Vertigo pela DC Comics, sua narrativa acompanha o protagonista homônimo, por vezes variado para sinônimos como Morpheus, Senhor dos sonhos, etc. Membro da família dos Perpétuos, esta composta pelos irmãos: Sonho, Morte, Delírio, Destino, Desejo, Destruição e Desespero, são entidades que representam os aspectos comuns para a vida de todos os seres vivos, assumem a responsabilidade de ordenar a realidade. Aqui, o ponto a se destacar é o trabalho de Jill Thompson (1966-) no título em questão e, mais além, na obra paralela Os pequenos perpétuos (2013).
A artista é desenhista, roteirista, colorista e ilustradora estadunidense de histórias em quadrinhos, além disso, escreve também para cinema, teatro e televisão. Frequentou a American Academy of Art, em Chicago, possuindo um diploma em ilustração e aquarela, é, também, ganhadora de diversos prêmios Eisner – o “Oscar” dos quadrinhos – pelo seu trabalho.
Começando sua carreira na década de 1980, tornou-se parte da equipe da DC Comics em 1990, assumindo a arte da série Mulher-Maravilha. Passando à Sandman, a artista assumiu as ilustrações do arco Vidas Breves, compondo as edições 41 a 49, também ilustrou parte da coleção Fábulas e Reflexões com a história O Parlamento das Gralhas, na quadragésima edição. Foi nesta última que criou as versões infantis do Sonho e da Morte.
Foi entrevistada para o filme She Makes Comics, um documentário sobre mulheres que atuam na indústria das histórias em quadrinhos e, em 2015, ficou na quarta posição na pesquisa elaborada pela Comic Book Resources sobre as “Top 50 Quadrinistas do sexo feminino”.
Os pequenos perpétuos é uma história em quadrinhos publicada no Brasil, em 2013. Acompanha a história da irmã mais nova dos perpétuos, Delírio (ou Delirium, como está na obra em questão), que se perdeu de seu cãozinho Barnabás. Este assume a responsabilidade de ser seu protetor e parte em busca de sua dona que é uma entidade infantil distraída e que acaba por se perder ao caminhar por aí. Repleta de combinações de cores e com harmonia entre narrativa e ilustrações, o diálogo estabelecido flui de forma orgânica tanto para uma leitura infantil como para uma leitura madura.
A produção dos pequenos perpétuos
Thompson trabalhava na história O Parlamento das Gralhas, de Sandman, quando escreveu um trecho sobre os personagens Sonho e Morte quando crianças, como supracitado. A artista buscava fazer uma homenagem aos personagens Sugar e Spike (conhecidos como Tutuca e Teleco-Teco, no Brasil), porém acabara por decidir dar uma “fofura” ao estilo japonês para eles.
Tendo aparecidos, primeiramente, a Morte e Sonho em miniatura, ela decidiu “encolher” os outros membros da família dos perpétuos. Com isso, enviou um desenho para Neil Gaiman por fax, deixando os fãs animados e querendo comprar pôsteres e cards, além de solicitarem edições em que estrelassem os pequenos perpétuos recém-imaginados e criados.
Então, em 1993, a artista criou as versões de Sonho e da Morte em pequenos bonecos artesanais. A partir disso, os fãs pediam para que fizesse bonecos para eles também, porém era trabalho demasiado para uma pessoa só, em vista de que levou dois dias apenas para prender os fios do cabelo. Porém, embora ela não pudesse fazer os bonecos em larga escala, encaminhou aos interessados que solicitassem à DC Comics as figuras de pelúcia. Tal apelo dos fãs e com as ideias, o esboço e o modelo de Jill, a DC Direct produziu uma série de pelúcia dos Pequenos Perpétuos anos mais tarde. Conta, também, que Neil Gaiman tem os bonecos originais e que Paul Dini tem o único outro par de bonecos que fez.
Após os bonecos vieram as estatuetas, Jill fez os esboços das estátuas e foram esculpidas por Barsom, então foram produzidas em 2003. O conjunto pode ser exposto de forma isolada ou em conjunto, formando um arco, e contém a família de perpétuos em suas versões infantilizadas, cada figura está sob um suporte de “rocha” que contém seu símbolo esculpido, com exceção de Delírio e Desespero, que estão nas extremidades e nos finais do arco.
A produtora da HQ conclui dizendo que gosta de todos os personagens de Sandman que criou em suas novas versões, mas tem um apreço maior em desenhar Desespero por possuir um jeito muito deformado, também adora a Delirium, personagem central da história em questão.
Conclusão
Em síntese, é possível notar o caminho traçado por Jill Thompson e em como os trabalhos que realizou acabaram por influenciar seu percurso, da mesma forma que ela influenciou os rumos que os títulos pelos quais passou. Havia trabalhado em Sandman na década de 1990 e retornou com Os Pequenos Perpétuos, praticamente, duas décadas depois. Destaco, mais uma vez, tanto a qualidade e fluidez da narrativa como também das ilustrações e em como, a partir disso, é estabelecida uma harmonia que enchem os olhos dos leitores. De fácil e leve leitura, a obra agrada uma ampla possibilidade de públicos, e é por isso que todos ganhariam em dar uma chance para esta história em quadrinhos.
Referência bibliográfica
THOMPSON, Jill. Os pequenos perpétuos. Barueri, SP: Panini Books, 2013.
Este artigo foi escrito por Maurício Brugnaro Júnior e publicado originalmente em Prensa.li.