A corrida dos 30
Em outubro de 2021, a Netflix lançou o filme intitulado “Tick, Tick…BOOM!” que impactou, principalmente, a geração Millennials — os nascidos entre 1981-96. A grande base do filme é a corrida dos 30 anos, em que nos vemos obrigados a atingir o sucesso tão esperado antes de atingir os 30.
Aqui não falaremos de forma analítica sobre a obra, então, caso queira de aprofundar, recomendo o Omelete e o podcast Cinemático para se aprofundar nas entranhas de Jonathan Larson - grande nome do teatro musical e de quem a história se trata.
Com a pandemia, muitos de nós perdemos (aos poucos) a vontade de projetar o nosso futuro, planejar as próximas etapas e definir os grandes sonhos. Fato esse compreensível, já que o COVID-19 trouxe a incerteza de um futuro.
Jonathan foi um legítimo Aquariano, que sempre sentiu todo o potencial que tem para entregar ao mundo como compositor de musicais. Como os grandes nomes da Broadway não lhe retornavam os telefonemas, ele tentou provar o seu valor por toda sua vida e lutou pelos seus sonhos antes dos 30.
Aos 29 anos, ele esteve empenhado em concluir seu grande projeto que serviu como uma autobiografia, contando todo o seu processo em construir uma peça que nunca saiu do papel: Superbia (lê-se supurbia). Assim, ele escreveu sobre o grande problema de sua vida e de muitos: ser artista.
Mas, durante o processo de Superbia ele abdicou das suas amizades, de seu relacionamento e até do trabalho no café — sua única fonte de renda. Dessa forma, Jonathan se torna um artista egoísta, onde seus amigos (e seu relacionamento) tornam-se meros espectadores e personagens de seu espetáculo. A vida vai passando diante de seu computador com páginas em branco, escancarando seu bloqueio criativo.
Copyright Macall Polay/Netflix
Como um legítimo Novaiorquino, ele enfrentou grandes barreiras internas para fazer Tick, Tick… Boom! ter todas as suas músicas completas. Achou que passar o dia sentado de frente ao seu Macintosh o tornaria produtivo. Lin-Manuel Miranda, diretor do filme musical, mostra esse processo de Jonathan sem romances — com louças sujas, roupas maltrapilhas, comida por todo lado e muito estresse entre ele e sua namorada, Susan.
O que quero dizer é: ao assistir à obra, pude sentir a nuvem trazida pela pandemia se dissolver aqui dentro. Junto dos acontecimentos, aos poucos, percebi a caminhada de Jonathan Larson se reavivar em mim.
Existe um inconsciente coletivo instalado no mundo que nos faz acreditar na curva final, como uma corrida contra o tempo. Vemos o ponto final cravado em nossa linha temporal: dos 0 aos 30. Acreditamos em frases formadas sobre sucesso, baseadas em dinheiro, casa, família, carro. A fórmula perfeita.
Esquecemos que a vida é um grande equilíbrio entre profissional e família. A astrologia nos mostra como esses dois extremos se ligam como uma balança: seus sonhos e metas (casa 10 no mapa natal: profissional) precisam estar alinhados com a família (casa 4) que nos nutre de valores. Estamos falando de tempo de qualidade para si, família e trabalho.
Não importa qual seja a sua linha de chegada, não se limite ao peso da sociedade e nem ao seu grande plano detalhado com um passo a passo infalível. O caminho pode ser melhor aproveitado com leveza e amor. Ter o apoio da família e amigos é importante, mas também é necessário atentar-se ao que acontece com eles. Nenhum objetivo é maior que o do outro. Nenhuma arte é maior que a do outro.
Olhar para a minha vida e enxergar esse desequilíbrio foi como um tapa na cara. Me vi inteiramente no papel de Jonathan Larson. Com os olhos vendados ao que acontece no mundo ao meu redor. Priorizando uma corrida imaginária e sem sentido. Desesperando-me e tropeçando em meus próprios passos.
Foi importante lembrar que receber nãos e aceitar a hora de desistir são obstáculos necessários, que nos motivam a se reinventar. Olhar com os olhos de uma criança. É sobre aceitar a vida para criar novos objetivos. E entender que nem tudo o que acreditamos ser nosso — ou para nós — de fato é. Ninguém, ninguém, acerta de primeira.
Precisamos nos tornar os nossos próprios pesquisadores: testar e experimentar. Fazer de novo e de novo e de novo e de novo… sempre e o tempo todo. E, então, olhar para trás e se perguntar: o que eu evoluí e amadureci nos últimos anos?
Este artigo foi escrito por Daniely Favilla e publicado originalmente em Prensa.li.