A Cultura do Erro para a Inovação - não é a busca pelo erro, mas pelo aprendizado
A cultura da experimentação e a cultura da aceitação do erro são elementos imprescindíveis para a totalidade de uma boa cultura de inovação nas empresas.
Erros já foram muito condenados pela sociedade empresarial, mas foi só a partir de muitos erros que surgiram as grandes inovações que moldaram o mundo tecnológico que temos hoje.
Para realizar mudanças importantes para o mercado, criar produtos jamais imaginados e iniciar novas rotinas, mais frenéticas ou mais equilibradas, não temos um manual de instruções nítido ou absoluto.
No mundo informatizado de hoje, podemos encontrar diversos relatos, cases, exemplos e inspirações. Contudo, se o que buscamos é algo novo, valioso e incerto, estarmos abertos a assumir o risco de experimentar atitudes diferentes e novos processos, sem mesmo a certeza de que dariam certo, é o que pode gerar as grandes soluções e os resultados inovadores não conhecidos e tão desejados.
Como em um laboratório de química, analisando e combinando elementos distintos e de maneiras distintas das tradicionais, incríveis descobertas e criações só podem ser feitas se nos aventurarmos no desconhecido, aceitando e compreendendo os erros nesse caminho de incertezas.
Contudo, diferentemente do que o nome pode indicar, a cultura de aceitação do erro é mais delicada e, ainda assim, mais segura do que parece.
Aceitar o erro não é errar deliberadamente! Ninguém quer realmente sair errando por aí, gastando tempo e dinheiro. Não aplicamos nossos recursos em algo que sabemos que certamente dará errado. Da mesma forma, aceitar o erro não é simplesmente passar a mão na cabeça e deixá-lo passar livremente.
Por meio da Teoria do Caos, seus cálculos e provas matemáticas, bem como a famosa, porém satirizada, Lei de Murphy, compreendemos que se algo tem a ínfima possibilidade de acontecer, em algum momento ela consequentemente acontecerá – queiramos isso ou não.
Errar é humano. Na cultura do erro, o que aceitamos, na realidade, é o fato de que erros podem sim acontecer em algum momento e que isso é inevitável, mas não que o trabalho termina por conta disso.
Com essa clareza de pensamento, não perdemos tempo com estresses desnecessários e nem com grandes surpresas. Entendemos que devemos valorizar o aprendizado feito com base no erro para acelerar o acerto nas futuras inovações desejadas.
Se o erro ocorreu, é um indicativo de que já não estávamos no caminho certo e que a falha surgiria indiscutivelmente se seguíssemos o mesmo ritmo.
Precisamos utilizar as análises feitas sobre esse erro para tomar melhores atitudes, corrigindo o curso dos processos, e perceber oportunidades futuras antes que a situação se torne inviável ou fatal, interrompendo a continuidade dos negócios devido ao que foi experimentado ou aos eventuais erros futuros que deixaríamos de tratar.
Uma cultura de aceitação do erro, mais do que só “aceitar” o erro, requer realizar os esforços corretos e suficientes para identificar, mitigar, entender, corrigir e impedir que eles ocorram novamente.
É necessário fazer os cálculos dos riscos e das probabilidades dos erros que podem ocorrer e que afetariam o negócio. Com isso, priorizamos as atitudes sobre os que mais impactariam esses processos ao longo do tempo.
Ferramentas como uma Matriz de Risco, identificando possibilidades e o impacto que essas possibilidades causariam se realmente acontecessem, nos ajuda a visualizar os riscos de erros ocorrerem e a tomar as decisões para mitigá-los ao máximo e com antecedência.
A técnica de Análise PESTEL é outro item útil e forte no portfólio de gestão de riscos e de erros. Como um acrônimo para Política (P), Economia (E), Social (S), Tecnologia (T), “Environmental” (E) e Legal (L) – sendo “Environmental” o termo em inglês para “Ambiental” – essa análise nos ajuda a listar, expor e refletir com prontidão sobre os principais fatores, áreas e novidades externas, envolvendo ameaças e oportunidades, que viriam a impactar o negócio de uma organização.
Ferramentas, pesquisas e análises tão profissionais como essas proporcionam uma melhor visão do que pode afetar os trabalhos. Com elas, aumentamos nossa sabedoria e nossas chances de evitar que determinados erros ocorram ou ao menos mitigar e minimizar as consequências deles.
Além de calcular os erros antes deles surgirem, em uma cultura de aceitação de erros, um dos grandes princípios é a noção do que fazer após eles ocorrem – lembrando que nada é realmente evitável com exatidão, mesmo com tantas análises anteriores.
No caso de um ou mais erros acontecerem em um processo de trabalho, as coisas só podem ser corrigidas quando sabemos quais são elas e como realmente ocorreram, sem olharmos para a direção errada.
O Diagrama de Ishikawa (ou Digrama Espinha de Peixe) é uma excelente ferramenta gráfica que nos ajuda a identificar e entender corretamente as causas originais de um evento e seus efeitos gerados.
Junto a ela, com a técnica dos “5 porquês sequenciais” para a busca da causa raiz de um problema, difundida pela Toyota, podemos ser capazes de responder e expor de forma clara e fácil qual a atitude, recurso ou motivo realmente originou as primeiras falhas experimentadas em uma situação.
Registrar o erro ocorrido, entender a sua formação e medir os seus impactos é o conjunto de etapas que permite às empresas aprender como e por qual motivo esse erro ocorreu. Logo com isso, elas podem definir quais as melhoras atitudes que, de fato, corrijam os erros listados e impeçam que se repitam, descobrindo oportunidades de melhorias e novidades onde nem se imaginava.
Sem gastar esforços e melhorias nas áreas erradas que nem precisam de correção, e nem apenas enxugando gelo, permitindo que o erro continue onde ele se esconde e realmente se origina, uma cultura de aceitação do erro permite minimizar os acontecimentos negativos e usar todos os que já ocorreram como lições aprendidas em uma forma de identificar oportunidades para novas melhorias e soluções mais assertivas.
Há uma frase atribuída para o cientista Thomas Edison que diz que ele não falhou 1000 vezes antes de inventar a lâmpada, mas sim que ele descobriu 1000 maneiras diferentes de fazer lâmpadas até que chegasse, de fato, a melhor solução funcional que é a origem da lâmpada que usamos hoje.
O termo “diferente” deve ser frisado nessa frase. Ainda que Edison não trabalhasse sozinho – na verdade, ele financiava um laboratório com uma grande equipe de outros inventores – os erros encontrados não foram repetidos 1000 vezes de maneira igual como um retrabalho absurdo, esperando resultados diferentes com as mesmas execuções
O que houve é que aconteceram descobertas de 1000 variações diferentes entre si de materiais e comportamentos, não totalmente funcionais, da versão do produto que eles realmente almejavam ao final. E o produto desejado só foi alcançado porque as falhas eram registradas e as criações modificadas com base em cada aprendizado e correção anterior.
Em um ciclo de melhoria contínua, utilizando dessa cultura de experimentação, aceitação dos erros e registro para aprendizado com eles, usando dados e pareceres de especialistas, os erros podem ser minimizados e os efeitos que eles causariam podem servir de grande valia para próximas ações em busca de inovações.
Aceitar que erros ocorrem e aprender com eles proporciona decisões novas e mais assertivas sobre o que realmente fazer, quais grandes novidades podem ser criadas e implementadas a partir do conhecimento disso.
Este artigo foi escrito por Gabriel Tessarini e publicado originalmente em Prensa.li.