A dificuldade da ciência em vencer o domínio cultural tradicional
"Minha Nossa Senhora!" ou "Vá com Deus!"
Frases como essa fazem parte do vocabulário de todo brasileiro, independente de cor, partido político, time do coração ou a própria religião.
Apesar do ateísmo ou do agnosticismo ter sido muito crescente no mundo e mesmo num país como o Brasil, que é majoritariamente cristão, mesmo dentre os descrentes, retirar as expressões de fé tradicionais do dia a dia não é nada fácil nem comum.
Ainda mais tendo uma cidade como São Paulo, um dos maiores centros econômicos do mundo, cujo nome veio de um dos principais santos católicos e outra tanta enormidade de santos batizando cidades e bairros pelo país afora.
Qual o motivo de trazer esse assunto à tona?
Cultura e costumes. A identidade cultural de uma nação, suas tradições, sua sabedoria popular e até mesmo suas manias e auto-imagem crítica, sempre foram importantes para um povo para manter a unidade social, a identificação e noção de pertencimento e sua coesão.
Sem contar que conhecer e respeitar sua própria história e de seus antepassados parece o mais correto para um animal pensante, que aprendeu a ler, escrever e dessa forma repassar adiante seus aprendizados, erros e acertos.
Porém, na sociedade moderna, começamos a perceber que alguns comportamentos passaram a ser limitantes, não permitindo sua evolução. Nós já passamos a era da chamada Globalização, no final do século passado e início desse século, onde essas culturas começavam ainda a se conectar. A disseminação do conhecimento e sua popularização passou a conflitar com muitos costumes e tradições. O Brasil já passou por algo parecido na verdade. Mas nossas tradições culturais foram sedimentadas pela invasão europeia desde o "descobrimento".
Felizmente ou infelizmente, as descobertas científicas, sejam nas humanas, histórico-geográficas, biológicas, médicas, sociais, apesar de fazerem cair por terra diversos conceitos tradicionais enraizados a força por diversas elites dominantes, não usam a mesma técnica de imposição cultural para se firmarem.
As grandes descobertas científicas não são noticiadas como eventos esportivos. As maiores possibilidades de mudanças e melhorias na vida das pessoas em grande escala não são financiadas em larga escala como os produtos mais supérfulos com maior portencial viral de venda.
E aquilo que é tradicional só começa a perder um pouco de importância quando atrapalha comercialmente algum interesse. Rapidamente aquele conceito é substituído ou adaptado. Afinal, conceitos que nos são impostos desde que nossa sociedade se formou e passados, não pelos de fora, mas obrigatórios, dentro do seio familiar, de pais para filhos, não podem ser simplesmente substituidos.
É nessa lógica que faz-se urgente que a ciência possa iniciar um trabalho para ainda se manter viva e nos manter vivos, e é fundamental que não seja feita uma luta contra a fé ou contra a política pública, ao contrário, seja feito uso desses mecanismos para que o conhecimento passe a fazer parte da tradição, agregado aos costumes e evoluindo nossas tradições. Vale lembrar que o fato de termos nos tornado a pátria da vacina por décadas, com políticas públicas que sedimentaram esse conceito em nossa população, estamos usufruindo de um cenário bem diferente do resto do mundo no que diz respeito a pandemia de COVID-19.
Que nossa tradição e nossos costumes passem a nos trazer evolução, sem perdermos nossa identidade, nossa união e nossa fé, seja no que for.
Este artigo foi escrito por Eder B. Jr. e publicado originalmente em Prensa.li.