A filosofia e a verdade no meio de notícias falsas
Muitas pessoas acusam muitas informações de serem notícias falsas (Fake News) e que não trazem a notícia com informações certas e confiáveis, dentro daquilo que elas são de verdade. Não podemos continuar sem nos perguntar: o que sua a verdade? Como podemos saber o que seria uma mentira ou uma verdade? Pois, a verdade – em sua essência – seria a mesma coisa de realidade, onde podemos ver objetos concretos onde nos relacionamos. Muitos filósofos – é uma discussão cara dentro da filosofia – fizeram várias teorias sobre a natureza da realidade.
Mas, qual a natureza da realidade? Por que existe alguma coisa e não o nada? Talvez, foi, exatamente, isso que fez a filosofia nascer nos confins de Mileto, quando Tales indagou se não seria a água a origem de tudo. Indo muito mais para trás – em tradições que vão até a pré-história – as explicações de realidade e não realidades eram as tradições mitológicas e espirituais. Claro, podemos dizer que a realidade tem a ver com o que vimos. Por outro lado, e se o que vimos for uma ilusão? Mesmo o porquê, o que vimos poder ser algo induzido, ou seja, pode ser uma ilusão implantada. E se não for?
1 – A caverna
Platão discutiu a realidade realizando um exercício mental que chamamos de Mito da Caverna, onde seres humanos nasceram e viveram dentro de uma caverna e virados de frente em uma parede – com o fogo atrás deles – viam as sombras dos objetos dos que carregavam objetos atras da fogueira. Acontece, que as pessoas que viam essas sombras pensavam que essas sombras eram a realidade, e não era só isso, muitas dessas pessoas eram pensadores dessas sombras e só discutiam a natureza dessas sombras. Mas, de alguma forma, uma delas se soltam dessas correntes e segue uma luz. Essa luz dava para a saída da caverna.
Essa pessoa ao olhar a luz do Sol começa a sentir uma dor nos olhos, mas, essa dor melhora quando os olhos se acostumam com a luz do Sol. Então, viu a realidade sem ser forjada – sendo ela verdadeira – e voltou para a caverna para falar aos outros que estavam sendo enganados. Quando chegou lá, muitas pessoas começaram a rirem da cara dele. Porém, ele não desistiu e continuava dizendo que aquilo era uma ilusão. As pessoas não o aguentaram e mataram. Dizem que Platão fez uma analogia com a morte do seu mestre Sócrates – morto em 399 a. c. – o fato é que o filósofo coloca em xeque as inúmeras realidades que nos colocam como únicas.
As formas não são o único traço de realidade que o mundo nos oferece – muitas coisas fora do nosso campo de visão também podem existir – mas, outros meios podem corresponder a realidade quando pensamos em qual realidade estamos. Talvez, Platão, tenha em mente – porque tudo ele levou com sua morte – que as formas são uma parte da realidade, a outra, não menos importante, tem a ver com a linguagem. Como podemos colocar em questão aquilo que é ou não é realidade?
Muitos pensadores já debruçaram sobre essa questão, uns disseram que podemos estar em uma ilusão – igual o sonho – outros disseram que tem a ver com a linguagem. Podemos dizer que certa informação é mentira, mas, quando olhamos para certos conceitos, sempre chegamos a conclusão que tendem a serem julgados sobre o juízo subjetivo.
Na Wikipédia, a subjetividade esta como entendida um espaço íntimo de um indivíduo, ou seja, o sujeito pode “instalar” certa opinião ou o que foi dito (no mundo interno) com o relacionamento do mundo social ou externo. O resultado pode tanto em marcas singulares na formação do indivíduo quanto na construção de crenças e valores que vão sendo compartilhados dentro da cultura que vão dar uma experiência histórica e, coletiva das variedades de grupos dentro dessa sociedade. Ou seja, as circunstâncias moldam o caráter e os valores de cada um, mesmo que esses valores moldam sua realidade.
Não seria diferente da frase icônica do filósofo espanhol José Ortega Y Gasset (1883-1955) que dizia: "Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim". Ou melhor, somos feitos das circunstâncias que podem moldar os valores que formam os conceitos.
2 – Informações verdadeiras ou falsas
Ora, se a realidade é feita de formas (objetos e seres) e linguagem (símbolos e termos), então, dentro disso há algum modo de informação. Recebemos milhões de bits – formas binarias que são medidas as informações obtidas nos computadores e na Teoria da Informação – do universo e ao nosso redor. Mas, como podemos criar critérios para saber se uma informação é verdadeira ou não?
Sempre quando pensamos em informação, sempre vamos ter em mente que é um conhecimento inscrito (gravado) sob uma forma escrita (impressa ou numérica), oral ou audiovisual. Seria um resultado do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que represente uma modificação (quantitativa ou qualificativa) no conhecimento do sistema (seja humano, animal ou máquina) que se recebe.
Mas, se recebemos tudo isso, como vamos saber se aquilo é verdade? Porque a verdade presume uma informação que aconteceu (fato) e que, devemos confiar. Ora, como disse acima, as informações que vem da realidade dependem da linguagem e das formas que chegam até nós. Ou seja, as formas – como podemos interpretar Platão – são contornos daquilo que se existe dentro de uma imagem. Mas, poderíamos dizer se há uma essência ali? Será que dentro da informação – formas e termos – não estão as essências dos valores dentro delas?
Indo muito mais além, um objeto é só um termo. Quando dissemos que “Fulano comeu uma maçã”, temos o termo para chamar um sujeito, temos um termo para classificar o que ele fez e o termo para chamar uma fruta (que acaba, também, sendo um termo para classificar uma espécie de alimento). Na essência, a realidade são os nomes que chamamos as coisas e aquilo que elas representam dentro da nossa realidade. Mas, onde fica as falsas notícias nessa história toda?
Toda notícia é uma informação que estamos dando. Esse texto, por exemplo, é uma informação. Tudo nos informa da sua existência, seja em suas formas, seja em sua linguagem. Algumas informações podem conter as formas e as linguagens que nos são caras, como no âmbito ideológico, seja no âmbito religioso ou sentimental. Isso é inerente ao ser humano. Quem vincula essas informações sabem muito bem, como e qual são esses símbolos para convencerem a grande massa. Acontece, que quando percebemos essa manipulação, nos tornamos mais criteriosos quanto essas informações.
Daí entra o senso crítico. A crítica tem dois significados: primeiro, é o significado do senso comum que é “falar mal” apenas. Segundo, num modo filosófico, é o modo de julgar através de um exame detalhado sobre aquilo que é lido ou ouvido. Ter senso crítico, muitas vezes, é analisar aquela informação de modo mais detalhado e saber se aquilo pode ou não ser verdade. A verdade, muitas vezes – no caso de notícias – tem a ver com fatos verídicos, que, pode ou não, ser ofuscados por crenças e valores ideológicos ou religiosos que as pessoas acreditam.
3 – Concluindo
A informação é muito importante nos dias de hoje – já que estamos na era da informação – mas, existem corporações políticas e de outra natureza, que descobriu que existem meios de criar “bolhas” para manipular as grandes massas. O que se deve fazer para não ser manipulado? Ter senso crítico. Com o senso crítico, podemos analisar melhor e ver – entre as formas e os termos – estão com a verdade ou não. Porém, existem sempre os valores que construímos dentro das crenças de uma realidade manipulada que pode nos enganar.
Desde tempos antigos, a filosofia vem despertando a discussão o que seria ou não a verdade. E, consequentemente, analisando a realidade. É evidente que se batemos numa arvore vamos nos machucar, mas, existem as outras realidades que são informações manipuladas daquilo que pode não existir. Essa realidade pode ser manipulada pela linguagem – a maneira como podemos escrever ela no modo da escrita – ou das formas que estão incluídas fotos ou vídeos. Essas formas podem ser manipuladas.
Este artigo foi escrito por Amauri Nolasco Sanches Junior e publicado originalmente em Prensa.li.