A fonte Secou
Em sua biografia, Steve Jobs destacou que a excelência do produto é fundamental para atrair o olhar e a decisão do consumidor na hora de adquirir algum bem. O pai da maior empresa de tecnologia e a mais valiosa do mundo levava isso a sério, após a sua morte, o seu legado persiste até hoje.
A Apple mexe com o imaginário das pessoas em todo os cantos do globo, não só pelo predicado anteriormente citado mas também pelo status quo pertencente a ela. Quando fenômenos midáticos como Anitta, Neymar, Millie Bob Brown entre outros aparececem em suas redes sociais ou em algum evento portando um Iphone, aguça a vontade de milhões de pessoas que os acompanham a ter esse produto e ficarem "bem na fita" com os seus colegas e parentes.
Para entender tal processo, o conceito da psicosfera, abordado por Milton Santos, o maior geógrafo de todos os tempos, é de suma importância. Ela está ligada ao reino das ideias, emoções, estímulos que nos induzem a ter algo. Neste caso, os meios de comunicação altamente massificados são importantes nesse processo pois anunciam tais produtos, sempre com atores em lugares festivos ou em ambiente familiar sempre com um tom de glamour.
Não à toa a marca está entre as três opções mais escolhidas pelos consumidores brasileiros na hora de se obter um smartphone com 13,65% da preferência, atrás da Motorola 21,11% e Samsung 44,49% no ano de 2021 segundo levantamento do Statcounter em 2021.
Apesar do Iphone ser o carro chefe da empresa, ele não é a única fonte de receita. Headphone, carregadores entre outros produtos lucrativos. Acompanhando de perto muitas reclamações, no último diz 7 a União Europeia decidiu que agora todos os produtos da marca terão de possuir a entrada padrão USB- C.
Isso foi um duro golpe pois, de forma implícita, ela forçava ao usuário quando adquirir um novo telefone a comprar um carregador do tipo Lighting. Além disso, houve a adoção a partir de 2020 da não inserção do carregador nas caixas na hora da efetuação da compra. Tal medida trouxe ganhos significativos com valores na casa de € 5 bilhões de Euros (R$ 33 bilhões) com essa economia e € 225 milhões (R$ 1,5 bilhão) na venda de acessórios.
A justificativa apresentada há dois anos atrás era que isso ajudaria a reduzir o lixo tecnológico. Tal ato mostra como o sistema capitalista se aproveita do discurso ambiental para obter lucro, pois uma vez que a sociedade vive a efervescência do engajamento sobretudo nessa área, toda brecha precisa ser aproveitada.
O grande problema deste processo é que mesmo a Apple lesando o consumidor, as vendas não cessaram no Brasil pois o sentimento de pertencimento se sobrepõe à racionalidade e assim, muitos obtém o produto pagando 10,12 parcelas e ainda comprando acessórios comprometendo a sua renda.
A crítica aqui não é para o indivíduo em si mas ao próprio capitalismo que segue a lógica darwinista da evolução, se adaptando em diversos ambientes na estratégia de sobreviver. Neste caso, o ambiente é a sociedade de consumo e com a falta de análise crítica cada vez mais acentuada, ela é induzida a ter este bem e eu não entendo toda a lógica por trás da sua escolha.
Este artigo foi escrito por Jones Júnior e publicado originalmente em Prensa.li.