Não é tão óbvio, mas a formação e a pesquisa acadêmica, dentro das universidade, são grandes motores para o desenvolvimento tecnológico de empresas como - pasme - a Apple ou a IBM.
Parte das grandes inovações da tecnologia trazida pelos Iphones, dentro do sistema IOS, veio de pesquisas financiadas pelo governo americano, em universidades. Além de, claro, formação científica dos milhares de profissionais que trabalham para desenvolver os produtos, serviços e backends mais inovadores do mercado.
Isso também aconteceu em revoluções como o GPS e o MP3, por exemplo.
Em 2020, o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Evaldo Vilela, lembrou em entrevista que “Nós [o Brasil] produzimos mais conhecimento científico que muitos países europeus. Temos uma ciência muito valiosa”. Ainda assim, entre 2019 e 2020, o Brasil perdeu 25 posições no ranking mundial de profissionais qualificados em ciência e tecnologia – saindo da posição 45 para a 70.
Ana Maria Carneiro, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp, comenta que o nível de investimento das agências federais em ciência, tecnologia e inovação no país caiu muito e compara-se a níveis de dez anos atrás. “[...] caiu muito o número de bolsas de pós-graduações, que no Brasil é muito ligado à pesquisa que é feita nas universidades, nos institutos de pesquisa. Caiu também o recurso para fomento”, afirmou.
E com a queda de investimentos, veio a grande “fuga de cérebros”.
Run, forest, run
“O Brasil é um verdadeiro paradoxo econômico”, comenta o economista e ex-vice-prefeito de Caieiras/Grande S. Paulo, Edson Navarro. “Visto há décadas como grande candidato à potência econômica, não busca caminhos para evolução tecnológica que, como se sabe, é a melhor das direções da atualidade”, complementa.
Em março deste ano, o Governo Federal anunciou o investimento de quase R$1 bilhão em recursos para o desenvolvimento de pesquisas, pagamento de bolsas e demais ações em favor da ciência, tecnologia e inovação no país.
O valor foi destinado ao apoio de estudos em diferentes áreas, como biotecnologia, internet das coisas, produção de imunizantes, agricultura e saúde. Mas, talvez a medida tenha chegado um pouco tarde para os profissionais que decidiram migrar para outros países.
Uma parte da solução para esse problema está nas Edtechs - startups que trabalham com o desenvolvimento e aplicação da tecnologia na aprendizagem. - que tiveram um aumento em investimentos na ordem de 146% durante a pandemia. Segundo o Mapeamento da Edtech 2020, o país conta com cerca de 566 edtechs no país, 37,8% delas no estado de São Paulo.
Hoje, as edtechs estão entre as maneiras mais rápidas e fáceis de resolver parte do gap entre as demandas de mercado e a falta de cursos mais modernos. Um bom exemplo é a UniBrad, a universidade corporativa do Bradesco, que foi considerada a melhor do mundo no setor. Lá, os funcionários conseguem desenvolver suas carreiras e criar oportunidades dentro do universo bancário, suprindo as necessidades da própria cadeia de produção do banco.
Temos uma oportunidade e a chance de não perder esse barco
A América Latina tem sido amplamente considerada o maior mercado potencial para investimentos em tecnologia do mundo. Com uma população de cerca de 600 milhões de pessoas altamente engajadas em seus celulares e um PIB de US$6 trilhões (duas vezes a população dos Estados Unidos e 40% do PIB da China), a LatAm tem sido o grande foco de investimento de fundos tradicionais americanos e chineses.
Ao mesmo tempo, estamos conduzindo o maior processo de Open Banking do mundo – e somos referência no assunto. Até novembro de 2021, o Brasil teve mais de 71 milhões de chamadas nas APIs de Open Banking. Em comparação, o sistema de Open Banking britânico realizou menos de 9 milhões.
Isso quer dizer que o Brasil é referência em tecnologia?
Daniel Campos, CTO da Finansystech, explica: “No Brasil temos empresas pequenas, como a própria Finansystech, que oferecem um panorama mais dinâmico aos profissionais de tecnologia. Não estamos falando apenas sobre salário e benefícios. Muitas vezes, sentimos que nosso time é feito de gente que quer inovar, fazer parte de algo maior. E isso é, também, parte de uma nova cultura profissional, onde o Brasil tem a chance de ser pioneiro em novas ferramentas, apesar de não ter essa cultura de inovação dentro das instituições de educação”.
Cross border?
Ainda no universo do Open Finance, grandes inovações têm prometido revolucionar a maneira com que se trabalha internacionalmente: hoje, já é possível usar ferramentas de Open Finance para abrir contas pessoais no exterior em minutos e sem burocracia.
Tudo parte da grande promessa da construção de uma "identidade mundial", onde nossos dados financeiros servem como a validação de quem somos. Sem passaportes, sem vistos de trabalho, sem precisar sair de casa para trabalhar internacionalmente. Uma revolução que começa com a possibilidade da transferência de renda sem fronteiras.
Toda essa revolução está perto, quase lá. E é muito importante entender que nunca é tarde demais para criar as uma cultura de inovação e educação presente em todo o país. A educação em tecnologia é parte de uma cultura de longo prazo e, ao que tudo indica, muitos barcos já partiram. E nós não podemos continuar remando contra a maré.