A incrível história do vingador conhecido por "Sete Orelhas"
Esfolado vivo
Em 1802, o fazendeiro João Garcia Leal, de 43 anos de idade, foi cruelmente assassinado pelos filhos de outro fazendeiro, de nome Francisco Silva.
João Garcia foi amarrado nu a uma figueira e despelado ainda vivo. O fato aconteceu no município de São Bento Abade, no Sul de Minas Gerais, a 250 quilômetros de Belo Horizonte.
O motivo de tamanha barbárie foi a disputa pela demarcação de terras. E o local do crime é chamado até os dias de hoje pelo macabro nome de “Tira Couro”, localizando-se a poucos quilômetros da famosa cidade de São Thomé das Letras.
Januário Garcia, o Sete Orelhas
O irmão da vítima, Januário Garcia Leal (1761–1808), pertencente a uma das famílias mais importantes da região, jurou vingança.
Abandonou a mulher e o filho, Higino, e começou a caçar os sete irmãos pelos sertões mineiros, numa perseguição que duraria seis anos.
Seguindo os rastros dos criminosos, matou um por um, arrancando uma orelha de cada cadáver, salgando-a e colocando-as em um cordão.
Logo o bárbaro vingador conquistou fama, respeito e passou a ser conhecido pelo nome de Sete Orelhas.
A princípio, Januário até chegou a apelar para as autoridades, em São João del Rei. Mas sem obter sucesso, devido à inércia do Poder Judiciário colonial, decidiu fazer justiça com as próprias mãos, seguindo a Lei de Talião: “Morte aos matadores”.
Completando a vingança
O último dos irmãos a morrer vivia perto de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas.
Já cansado de perseguir os irmãos assassinos, Sete Orelhas lhe deu a chance de viver: mandou que ele caminhasse 100 passos e avisou que atiraria. Se não acertasse o tiro, o sujeito poderia ir embora.
Ocorre que o vingador acertou o tiro e a vingança foi então consumada.
É importante dizer que Januário Garcia agiu dentro da legalidade, tendo recebido autorização da Coroa Portuguesa para agir de tal forma e resolver o fato como achasse justo.
Morte em Santa Catarina
Posteriormente, ele seguiu para a cidade catarinense de Lages, vivendo como comerciante sob a proteção de parentes até sua morte.
Na década de 1820, grande parte dos Garcia Leal seguiu para as capitanias de Mato Grosso e Goiás, passando a povoá-las.
Hoje existe um monumento no local onde o fazendeiro João Garcia Leal foi despelado vivo, no município de São Bento Abade.
Este artigo foi escrito por Sandro Mendes e publicado originalmente em Prensa.li.
Escrevi um romance sobre essa lenda. Se chama Pesadelo Tropical. Eu cresci na região onde essa lenda surgiu.