A lenta e gradual morte da OTAN
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e principalmente do terror nazista, a Europa teve a oportunidade ideal de se unir e evitar que a sua soberania fosse novamente violada seja por quem quer que fosse.
Infelizmente para ela, havia o dilema de ser independente e ter a unidade entre os seus respectivos países ou receber ajuda externa para recuperar a sua economia que se encontrava em frangalhos. A segunda opção no momento foi a mais prática naquele momento e assim os Estados Unidos com o plano Marshall reergueu a infraestrutura e a economia do continente.
Todo esse processo tinha como objetivo impedir a influência da então União Soviética e tornar as nações europeias suas colônias. Não, você não leu errado. O Tio Sam quis e até hoje dá a palavra final sobre o que deve acontecer por lá e o exemplo mais claro disso é a OTAN ( Organização do Tratado do Atlântico Norte).
O bloco militar surgiu com o objetivo de proteger as nações europeias de qualquer ataque soviético e encontrou em seu homólogo, o pacto de Varsóvia um sistema de freios e contrapesos no campo militar.
Com o fim da Guerra Fria e a dissolução do bloco soviético era de se esperar que a organização militar também encerrasse o seu ciclo mas não foi isso que ocorreu. O mundo acompanhou de 1991 até 2014 a unipolaridade militar, econômica, política e cultural liderada pelos Estados Unidos.
Hoje, a comunidade internacional acompanha estarrecida o que acontece na Ucrânia aplicando a culpabilidade da tragédia a Rússia de Vladimir Putin não exercendo uma análise profunda de que não só ele mas o Ocidente torna isso possível.
O bloco militar em questão tem grande parcela de responsabilidade nesse processo, pois o fornecimento de armas pesadas a Kiev torna cada vez mais difícil a resolução do conflito.
Além disso, as declarações do secretário geral da Otan Jens Stoltenberg sobre uma possível vitória ucraniana mostra como o bloco está totalmente aquém da realidade imposta desde do dia 24 de fevereiro quando tropas invadem o país com o objetivo de desnazificar e desmilitarizar o país.
Tudo isso poderia ser resolvido se a organização militar tivesse altivez e mostrasse a Kiev que a sua entrada ao bloco seria um risco explícito à segurança europeia. Isso porque a Rússia não aceitaria em hipótese alguma sua coirmã se aliar ao ocidente.
As duas nações têm ligações históricas e para Putin, o território ucraniano é artificial, fruto da Revolução Bolchevique e das concessões dadas por Lênin, Stálin que cedeu os territórios conquistados da Polônia, Hungria e Romênia a Kiev, e Nikita Kruschev que permitiu a anexação da Crimeia em 1954 onde 60 anos mais tarde volta a pertencer a Federação Russa graças ao referendo feito na região onde houve ampla maioria da população.
O que se vê atualmente é uma crise moral do bloco militar onde não existe um consenso de seus membros diante da gravidade desse conflito e as ordens dadas por Washington tornam cada vez mais as ações de questionáveis a sua eficiência e existência. O maior exemplo disso foi a decisão tomada há duas semanas atrás pela Turquia comandada por Recep Tayyip Erdogan de não aceitar Finlândia e Suécia no bloco.
O motivo de tal recusa se dá pelo apoio que as duas nações nórdicas oferecem à população curda representada pelo PKK (Partidos dos Trabalhadores do Curdistão). Para Ancara, este partido que reivindica um Estado independente para o seu povo há mais de três décadas é uma organização terrorista e vem mantendo hostilidades com algumas interrupções.
Além disso, o embargo dos Estados Unidos devido a Turquia ter adquirido os sistema anti mísseis russos S- 400 e saída do programa de aquisição dos caças F 16 e F35 importantes para a aviação turca são pontos sensíveis nesse imbróglio.
A decisão também está atrelada ao protagonismo que a Turquia deseja ter no cenário internacional uma vez que o país é a porta de entrada para o mar negro que banha Rússia, Ucrânia, Geórgia, Romênia e Bulgária por onde são escoadas milhões de toneladas de cerais e que estão bloqueadas tanto pelos russos quanto pelas minas marinhas instaladas pelos ucranianos tornando os preços de tais produtos elevadíssimos.
Vale ressaltar também a importância militar do país já que possui o segundo maior contingente militar na Otan e por ter um presidente que usa do pragmatismo e bom senso neste cenário de caos para colocar o seu território como relevante como já fora o Império Turco Otomano.
A OTAN necessita rever o seu papel antes que seja tarde demais e ocorra uma demanda dos países que compõem o bloco. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos.
Este artigo foi escrito por Jones Júnior e publicado originalmente em Prensa.li.