A Mulher da Casa Abandonada, o Fim que Não Terminou
Até parece aqueles títulos de clickbait, ou as piadas dos tiozões “O Fim que não Terminou”, mas o pior, é que realmente aconteceu isso.
Na última quarta-feira dia 20/07/2022 foi ao ar o último episódio do podcast da Folha: A Mulher da Casa Abandonada, só que, as notícias e desdobramentos jurídicos envolvendo a Margarida Bonetti parecem que reiniciaram após esse episódio final.
Para você que não está entendendo essa notícia, eu tenho um primeiro texto falando sobre esse podcast para você se situar, e ele ser lido aqui. Nele, eu disserto sobre a possibilidade dela ter o direito ao esquecimento ou não, e vou explicar o motivo de eu ter feito tal questionamento.
Se você é um ouvinte de plantão, percebeu que a partir do terceiro episódio o Chico Felitti começou a falar que as ações da Margarida Bonetti, ainda que erradas e criminosas, não fundamentavam novas agressões. E Qual foi o motivo dele ter falado isso? Justamente porque várias pessoas estavam indo até o local, passando horas em frente a casa, esperando a dona do imóvel sair, ou xingando-a deliberadamente.
O Poder das Redes Sociais
E como se deu isso tudo? através do TikTok. Simplesmente viralizou a história, com diversas pessoas gravando vídeos e postando na rede social chinesa perambulando pelas localidades do imóvel, ou, pesquisando no Google Maps. É tanto que a rua agora é considerada um PONTO TURÍSTICO de São Paulo, acredite se quiser.
Mas, calma! Ainda não chegamos ao clímax da história. Para quem escutou o podcast, ou ao menos jogou no google o endereço, sabe que a casa está em situação deplorável, tanto que nos áudios da folha tem trechos em que dizem que a Margarida Bonetti jogava os seus excrementos pela janela, já que não tinha um saneamento local adequado.
E isso gerava muita briga com os vizinhos. Ora, você que sabe quão caro é IPTU, pensa quanto custa um IPTU no bairro de Higienópolis, em São Paulo, e tem um terreno ao lado que além de ter um mato exorbitante, ainda chega o cheiro de excrementos jogados pela janela de forma deliberada, pois bem, não acho que ninguém ficaria feliz numa situação dessas.
Só que o ponto em questão é: o podcast foi ouvido pelo Ministério Público, e nesse último dia 20, a Polícia Civil foi cumprir mandato lá no local, sim, lá na Casa Abandonada, arrombou a porta, verificou o local, tirou fotos, e confirmou o que já se pensava: o local está em situação crítica, e não tem como ser habitado por ninguém.
Margaretti Vítima?
Tudo isso por um motivo: O Ministério Público abriu um inquérito baseado em uma denúncia anônima que foi recebida nos últimos tempos, afirmando que a Margarida Bonetti possui problemas mentais, e por isso, não tem condições de estar residindo naquele imóvel.
Vamos ser sinceros, uma pessoa completamente sã não estaria vivendo naquele estado de imundice, mas isso não vem muito ao caso. Assim, está sendo investigado a possibilidade de ajuizar uma ação de abandono de incapaz, sendo a incapaz a Margarida Bonetti, já que a denúncia anônima afirma que a mulher possui problemas mentais.
Resumindo: a Margarida Bonetti seria a vítima nesse novo caso, e o filho dela o culpado. O mundo parece que dá realmente voltas né ?
Timing Perfeito e o Tribunal da Internet
Para finalizar, o timing foi tão grande que poderíamos dizer que os planetas se alinharam. A folha realizou uma live exclusiva para os seus assinantes na quarta feira, e bem nesse dia, ocorreu a vistoria da Polícia Civil na Casa Abandonada.
O Podcast acabou com sete episódios, ainda que tenha sido planejado ter somente seis. Mas, a história envolvendo esse Podcast se reiniciou, e talvez, acabe em uma nova ação judicial.
O importante frisar é: Se não houvesse tecnologia e redes sociais, muito provavelmente, a Casa Abandonada seria somente um problema local, esquecido pela maioria dos transeuntes. Ou seja, o poder que as redes sociais possuem, incide diretamente na cultura do cancelamento - o qual não fica somente no meio virtual-. Logo, é necessário notar que as transformações sociais oriundas da internet possuem tanta força que reiniciou um debate ocultado há mais de 20 anos.
A questão que deve estar fixada na mente após essa história é: a Internet também é um tipo de Tribunal, mas isso é advindo do poder que damos aos serviços de tecnologia. Dessa forma, devemos diminuir o fornecimento de legitimidade e de poder decisório a essas redes sociais? Ou, esse será o novo modelo de sistema judiciário nos próximos anos?
O ponto principal é: para ser Juiz, deve ser formado em direito, ter no mínimo 3 anos de prática jurídica, e ainda passar por uma prova rigorosa. Contudo, no Tribunal da Internet, qualquer um é juiz, e não precisa ter nenhuma especialidade no assunto, posto isso, será que seria realmente legítimo qualquer pessoa julgar, cancelar, e condenar por meio da internet? Sem nenhum conhecimento técnico? Essa é a pergunta que deixo no texto de hoje.
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Este artigo foi escrito por Maria Renata Gois e publicado originalmente em Prensa.li.