A mulher que inventou o Rock ‘n Roll
Quando falamos da origem do rock, sempre pensamos primeiro em Chuck Berry, ou até mesmo no rei Elvis Presley. Entretanto, antes disso, o rock teve uma mãe. Uma mulher negra e cristã.
Sister Rosetta Tharpe é comumente referenciada como a “madrinha do rock”, porém ela não esteve presente apenas no batismo do rock, mas desde os seus primórdios. Curiosamente, o termo “rock ‘n roll” apareceu na renomada revista Billboard justamente para descrever uma de suas performances.
Sister Rosetta tocava guitarra como ninguém, ela era cantora gospel, mas as influências do jazz e blues fizeram com que ela criasse seu estilo próprio e único. Nomes como Chuck Berry e Elvis Presley foram fortemente influenciados por ela durante a infância, e nunca deixaram de mencioná-la em suas carreiras.
O início de tudo
A artista nasceu em Arkansas em 1915, na cidade de Cotton Plants e era filha de pais colhedores de algodão. Não se sabe muito sobre seu pai, mas sua mãe sempre esteve presente em sua vida. Rosetta Tharpe cresceu na igreja, onde sua mãe era pregadora e nesse ambiente ela desenvolveu sua paixão pela música.
Desde muito cedo Rosetta demonstrou seu talento como guitarrista, cantora e compositora, revelando-se um prodígio da música. Aos seis anos de idade ela passou a viajar com sua mãe pelo país, tocando em concertos gospeis com outros artistas. Tais viagens permitiram Sister Rosetta aprimorar suas habilidades musicais.
Seu sobrenome Tharpe provém de um erro ortográfico quando casou-se brevemente com o Reverendo Tommy Thorpe, com apenas 19 anos. Os dois trabalhavam na mesma igreja, Rosetta fazia shows e atraía multidões, enquanto ele pregava.
O casamento durou pouco, além de ter sido arranjado por sua mãe, Tommy Thorpe também aproveitava-se dos talentos da esposa para ganhar dinheiro e se sustentar às custas dela.
Ascensão na música
Após se separar do marido em 1938, Sister Rosetta se muda para Nova York acompanhada de sua mãe. Seu reconhecimento musical não demorou muito, e no mesmo ano lançou o disco “Rock Me”, recebendo posteriormente a oportunidade de cantar na prestigiada casa noturna “Cotton Club”. Grande parte do público nunca tinha visto uma mulher negra tocar guitarra antes, ainda mais de uma forma tão cativante como aquela.
Por causa de um contrato de 7 anos, Rosetta se viu obrigada a cantar somente o que sua gravadora quisesse, um mal necessário para trilhar seu caminho até o sucesso. Com a idade de 25 anos, ela já estava entre os melhores artistas populares da época, sendo muito controversa e respeitada ao mesmo tempo. Ela popularizou a música gospel e inovou ao misturar jazz, blues e o próprio gênero que estava criando.
Após cumprir seu contrato, Sister Rosetta Tharpe havia se estabelecido em uma indústria dominada pelos homens. Era rica, famosa e finalmente podia cantar o que quisesse.
Nos anos 40, passou grande parte do tempo na estrada tocando em casas de shows lotadas, como artista solo ou acompanhada de outros grupos. Durante esses anos, ela teve que se manter firme numa sociedade altamente segregada, mas nenhum preconceito foi capaz de fazê-la recuar.
Mesmo durante a segunda guerra mundial, Rosetta continuou cantando e gravando. Ela era um dos únicos artistas gospel a gravar para os soldados. Em 1944, Sister Rosetta lança o que até hoje é considerado por muitos especialistas a primeira canção do rock. “Strange things happening everyday” foi a primeira música gospel a destacar-se na lista do Harlem Hit Parade da Billboard.
Mais tarde, a mãe do rock assiste a uma apresentação de Marie Knight e fica encantada com a artista, Rosetta à procura e juntas pegam a estrada para se apresentarem sem nenhum acompanhamento, senão elas mesmas. Algo inédito para época. Há rumores de que tempos depois, as duas se tornaram amantes.
Rosetta cai no esquecimento
Em 1964, Sister Rosetta Tharpe realizou sua famosa apresentação em uma estação rodoviária abandonada, a performance foi muito inspiradora e na mesma época, a artista realizou uma turnê pela Europa. Mesmo assim, a popularidade de Rosetta começou a diminuir nesse período.
Talvez o motivo tenha sido sua preferência por temas religiosos, como também a ascensão de músicos brancos de rock que atraíram a atenção da indústria, deixando Rosetta para trás.
A artista morreu na Filadélfia em 1973 após sofrer um AVC. Em 2008 o governador da Pensilvânia declarou feriado dia 11 de janeiro, conhecido como “Sister Rosetta Tharpe’s Day”.
Foto de capa - Sister Rosetta Tharpe, a mãe do rock (Tony Evans/Getty)
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Este artigo foi escrito por Bruna da Cruz Souza e publicado originalmente em Prensa.li.