A Música dos Super Heróis
O amigão da vizinhança foi esquecido nesta lista! | Imagem: Joseph Chan/Unsplash
Que os filmes de super heróis são os queridinhos das bilheterias (e streamings) atualmente, não é novidade; que este gênero existe há mais de 80 anos, também.
As trilhas sonoras nasceram junto com o cinema; no início, executadas ao vivo nas sessões, anteriores ao cinema falado. No cinema de super heróis, são uma parte importantíssima, conduzindo a ação e a emoção, transformando grandes feitos em eventos extraordinários.
Faremos agora uma viagem sonora por estes grandes temas, inspirando e provocando sua memória afetiva pelas melhores músicas de super heróis de todos os tempos… pelo menos, até hoje.
Quem sabe o mal que se esconde por trás dos corações humanos?
O Sombra sabe. E também tem o primeiro tema conhecido para um super herói, mesmo não sendo exatamente um, e mesmo não sendo no cinema.
O Sombra é um personagem criado originalmente como narrador para contos de mistério no rádio. Depois, evoluiu para um justiceiro que transitava entre a realidade e o misticismo, usando um pesado capote que lhe ocultava parcialmente a face, chapéu e pistolas. Tinha poderes que iludiam a percepção de seus adversários.
O Sombra fez história no rádio a partir de 1930, e suas aventuras eram acompanhadas por um tema clássico, Le Rouet d'Omphale, de Camille Saint-Saëns. O herói depois migrou para o cinema, livros e quadrinhos (há algumas HQs excelentes).
É um pássaro? É um avião?
Oito anos depois, surgiria o primeiro personagem considerado efetivamente um super herói. E até hoje, o maior de todos: Super-Homem. Que rapidamente saltou dos quadrinhos para o rádio, cinema e televisão.
Quarenta anos mais tarde, o herói ganhou o tema musical mais marcante do gênero, para o filme de 1978. Composto por John Williams, Theme From Superman é um hino indissociável. Tanto que já foi usado nas sequências diretas daquele filme, depois em uma outra versão, Superman - O Retorno e no recente Liga da Justiça.
Santa trilha sonora!
Em 1939 surgiu outro personagem que se tornou tão lendário quanto o último filho de Krypton: Batman, o cavaleiro das trevas de Gotham. Este não tem um, mas dois temas absolutamente marcantes.
O primeiro, um autêntico surf rock, composto por Neal Hefti, para a série de 1966, o primeiro contato que muita gente teve com o personagem. Muito conhecido por seu “nananana”, o tema foi citado dezenas de vezes em outros filmes, até mesmo no The Batman Lego Movie.
O personagem ganharia outro tema marcante na versão de 1989, criado por Danny Elfman, usado em dois filmes de cinema, séries de animação e novamente na Liga da Justiça de 2017: Batman - Main Title Theme. Sombrio, potente e potencialmente assustador, como manda o figurino, ou melhor, o bat-traje.
Mesmo o tema criado por Hans Zimmer para a trilogia The Dark Knight, de Christopher Nolan, não se compara a este que, segundo o próprio compositor, é o “tema definitivo do Batman”.
À altura da princesa de Themyscira
Para encerrar a “trindade” da DC, também tem outro personagem que tem dois ótimos temas. Não há ninguém que tenha vivido nos anos 1970 e não recorde da música que embalava as aventuras da Mulher Maravilha, vivida por Lynda Carter, entre 1976 e 1978.
Composta por Charles Fox, o tema pontuado por um agitado baixo e metais, emana o estilo disco que começava a tomar conta das paradas na ocasião.
Em 2016, o filme Batman vs. Superman nos apresentou uma nova Mulher Maravilha, a atriz insraelense Gal Gadot, e com ela, um novo tema: Is She With You?, composto por Hans Zimmer em parceria com Junkie XL.
A música faz um misto de percussão, violoncelo e guitarra, traduzindo o espírito desta nova encarnação da princesa amazona, que parece se divertir nos combates.
Forte e triste
Já que trouxemos a Mulher Maravilha dos anos 1970, na mesma época era exibida uma das mais bem sucedidas adaptações da Marvel, O Incrível Hulk.
Se embora não muito fiel aos quadrinhos, a série protagonizada por Bill Bixby (David Banner) e Lou Ferrigno (Hulk) teve aquele considerado o tema mais triste de super heróis.
Fica na memória o piano melancólico de Joe Harnell, enquanto o cientista caminha na estrada, mochila nas costas, indo embora da cidade (depois de ter salvo a população e feito um belo de um estrago, não devemos esquecer).
A evolução dá um salto
Continuando na Marvel, mas partindo para as animações, a série de 1997 dos X-Men recebeu um tema tão marcante que foi aproveitado em toda a franquia dos mutantes em live action à partir de 2000; supõe-se que agora, com a migração dos direitos da Fox para a Disney, o tema composto por Ron Wusserman seja mantido.
Enquanto isso, na Sala de Justiça…
Outro super tema de outro supergrupo de super heróis é o que inspira as aventuras da Liga da Justiça, na série animada produzida entre 2001 e 2004. A composição de Lolita Ritmanis também é tão marcante, que a exemplo da música dos mutantes, foi parcialmente evocada na trilha sonora do live action da Liga em 2017, nos arranjos de Danny Elfman.
Incrivelmente familiar
Nem DC, nem Marvel. Mas ainda, animação. Em 2003, a Disney/Pixar nos apresentou uma família de heróis, Os Incríveis.
Com eles, a belíssima trilha sonora composta por Michael Giacchino. Declaradamente inspirada nas trilhas de John Barry e Henry Mancini, relembra os filmes de espionagem dos anos 1960 e 1970, sobretudo a franquia James Bond, em um arranjo irresistível.
Eu sou o Homem de Ferro!
Em 2008, seria a vez da Marvel dar o pontapé inicial no MCU, ou se preferir, o Universo Marvel Compartilhado, com o Homem de Ferro, mudando o gênero nos cinemas de uma vez por todas.
Para ilustrar as aventuras do herói vivido por Robert Downey Jr., as Indústrias Stark, digo, os Estúdios Marvel, deram uma rajada de energia certeira: o tema escolhido não por acaso foi a conhecida Iron Man do Black Sabbath, de 1971, que tem tudo a ver com o herói do título.
A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena
Depois das peripécias de Tony Stark virarem sucesso nas telas, era lógico que seus colegas começassem a aparecer gradativamente em outras produções solo, até serem reunidos previsivelmente no mesmo filme: Os Vingadores, de 2012.
Aqui surgiu o tema musical que se não é absolutamente marcante, funcionou com perfeição para caracterizar as histórias do supergrupo. Composto por Alan Silvestri, que ostenta no currículo a trilogia De Volta para o Futuro, Uma Cilada para Roger Rabbit e Forrest Gump, o tema dos Vingadores reflete força e principalmente confiança, coisa que você gostaria muito de ter caso seu adversário fosse o Thanos.
Dentro da Marvel, Silvestri também foi responsável pelo tema de Capitão América - O Primeiro Vingador. Uma curiosidade: a música de Os Vingadores foi usada como tema do Réveillon do Rio de Janeiro, de 2019 para 2020. Pensando bem, talvez já prevendo o que nos aguardava na vida real!
Sob o guarda chuva
Outro time heróico bem menos famoso, e bem mais recente, também carrega um tema musical que vale ser destacado: a família disfuncional de heróis de The Umbrella Academy, baseada nos quadrinhos de Gerard Way e Gabriel Bá, transformada em série pela Netflix.
A música foi composta por Jeff Russo, que atualmente tem outro trabalho em evidência na série Star Trek Discovery, quinta derivação da franquia iniciada com Jornada nas Estrelas.
O tema de The Umbrella Academy mistura um incrível solo de violino, representando a personagem Vanya (também conhecida como Número Sete ou obviamente O Violino), e mais guitarras, bateria e baixo, numa contraposição do que seriam os demais integrantes da super família Hargreeves, que apesar de unidos por necessidade, teriam histórias de sobra para frequentar o palco dos Casos de Família.
A casa mais vigiada – do planeta!
Para fechar, vamos com a mais recente de todas, a composição de Christophe Beck para Wandavision!, de 2021. Aliás, outra a entrar na categoria de família disfuncional com louvor.
Fora o tema principal, que se encaixa perfeitamente ao restante da franquia dos Vingadores, Wandavision! tem uma surpresa saborosa.
Cada episódio da série reflete um período da história das séries de TV norte-americanas, e há todas as aberturas e trilhas incidentais “customizadas” para cada período. Imperdível.
Essas versões são creditadas à dupla Kristen Anderson e Robert Lopez, que já haviam produzido as trilhas de Frozen e Viva - A Vida é uma Festa para a Disney.
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Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.