A Paixão de Cristo: 18 anos depois
Imagem: Mel Gibson, à direita dirige Jim Caviezel no set do filme "A paixão de Cristo" em 2003 ( AP/Icon Procuctions, File)
A 18 anos atrás, Mel Gibson fazia sua estreia como diretor de cinema. E a obra que ele assinava não era qualquer obra:
Tratava-se de "A Paixão de Cristo" (The passion of the Christ, no original em inglês). Um filme que se propôs a contar as últimas 12 horas da vida terrena de Jesus, culminando com sua crucificação.
A história devido ao que se propôs já seria naturalmente polêmica, pois falaria do maior símbolo da maior religião do mundo, e também a que tem mais vertentes teológicas.
Não bastasse isso, por Gibson ser católico e pertencer a uma vertente ortodoxa, que recusou várias reformas teológicas feitas pelo Vaticano, sob acusação de influências semitas, já se esperava que o ator/diretor não aliviaria a barra dos judeus.
Dito e feito. Assim que chegou aos cinemas, o filme recebeu uma enxurrada de acusações de conter um grande teor antissemita, ao apontar somente os judeus como culpados pela morte e crucificação de Cristo.
Mas esse foi o menor dos problemas que o filme enfrentou. Ainda na produção, coisas estranhas aconteceram nos sets de filmagem. Principalmente com o intérprete do protagonista: Jim Caviezel.
O ator sofreu feridas reais durante as filmagens, teve pneumonia, deslocou o ombro, foi açoitado de verdade na cena em que Jesus era chicoteado, teve uma estranha infecção de pele, etc…
E o mais incrível dos acontecimentos: o ator foi atingido por RAIOS! Isso mesmo. No plural: DUAS VEZES! E não sofreu absolutamente nada (ao menos, em relação aos raios)!
O ator também teve coincidências interessantes em relação ao filme e ao personagem central dele na época das filmagens.
Além de ter as mesmas iniciais do nome latinizado de Jesus Cristo, JC (seu nome original em hebraico era na verdade Yeshua Hamashiach, segundo estudiosos), Jim Caviezel também tinha 33 anos. A idade com que muitos estudiosos afirmam que Jesus tinha quando foi crucificado.
Voltando às polêmicas, A paixão de Cristo entregou também cenas nunca antes vistas no cinema em uma obra de cunho religioso.
As cenas do martírio e crucificação de Cristo são chocantes! Até hoje tem um realismo impressionante, e causam muito desconforto em qualquer pessoa minimamente sã.
Obviamente que a obra também recebeu muitas críticas nesse sentido.
Mas o filme não é só "Stranger Things" nos bastidores e cenas chocantes. A obra de Mel Gibson é muito maior que tudo isso.
Tendo sido um sucesso de bilheteria mundial, arrecadou mais de 600 milhões de dólares. E além do realismo impressionante das cenas, também nos transportou para a Judéia dos tempos de Jesus através das falas dos atores.
Por exigência do diretor, ele foi totalmente rodado com falas dos principais idiomas da região na época: latim e aramaico. E Gibson quis manter essa estética, fazendo com que o filme tivesse apenas versões legendadas. O filme só ganhou versões dubladas anos depois.
Mais do que uma superprodução de Hollywood, qualquer coisa que mostre a crucificação de Cristo, um dos eventos mais marcantes da história de forma minimamente decente, merece todos os aplausos.
Ver um homem que “ousou” desafiar os poderosos de sua época simplesmente porque o seu discurso falava de paz e amor, e levava esperança aos mais necessitados, e por causa disso (tirando é claro, as questões em relação a fé) teve que morrer daquela forma, é sem dúvida uma história que merece um superprodução.
E abordá-la da forma como Mel Gibson abordou, desnudando toda a barbárie, todo o sadismo e violência de uma crucificação romana e expô-la explicitamente numa tela de cinema com certeza proporciona uma experiência tão perturbadora quanto emocionante.
Independente da fé de quem assiste, e do que o filme pode causar a qualquer cristão que o assiste, ver algo tão verdadeiro sobre a crucificação de Cristo é tocante, principalmente na época que se comemora a páscoa.
O filme foi indicado a 3 Oscars, mas não chegou a levar nenhuma estatueta. Mas parece que Gibson ainda não se deu por satisfeito em relação a adaptar a vida de Cristo para as telonas.
A paixão de Cristo 2 está em desenvolvimento desde 2020. Ainda não tem data para estrear, mas promete contar uma narrativa fiel aos eventos após a ressurreição de Jesus.
Este artigo foi escrito por Eliezer J. Santos e publicado originalmente em Prensa.li.