A polêmica história de Victoria’s Secret
Imagem:Timothy A. Clary
São poucas as pessoas que não conhecem as Angels, muitos nomes famosos já desfilaram para a marca, incluindo as modelos internacionais brasileiras Gisele Bündchen e Alessandra Ambrosio.
Angel é uma das linhas de lingerie da Victoria’s Secrets, e a partir de uma campanha de 1997 as modelos da marca começaram a ser referenciadas com o apelido, pois eram vistas como símbolo de delicadeza e sensualidade.
O costume perdurou até hoje, porém a empresa decidiu aposentar as Angels após tantas polêmicas. Mas você sabe quando e por que a marca nasceu?
A gigante de lingeries foi criada para atrair exclusivamente o público masculino. A empresa foi aberta no ano de 1977, fundada por Roy Raymond. O empresário queria poder presentear a esposa com uma lingerie, mas a vergonha de ir até um estabelecimento comercial o impedia. Ele acreditava que poderia ser visto como um pervertido, já que não era costume ver homens dentro desse tipo de estabelecimento.
Uma loja para homens
Raymond então, teve a ideia de abrir uma empresa que facilitasse os homens a buscarem por roupas íntimas femininas. Ele e sua esposa juntaram suas economias, um total de 80 mil dólares, e arriscaram abrir uma pequena boutique em um shopping em Palo Alto, na Califórnia.
Naomi Bar, do portal Slate, contou que a ideia do casal era recriar um quarto da época vitoriana, cheia de madeira envelhecida, tapetes orientais e cortinas de cetim. O nome Victoria foi escolhido por Raymond para se associar à rainha inglesa. “Claramente refinada, os segredos de Victoria estariam escondidos sob a roupa”, completou Bar.
Raymond abriu outras cinco unidades após o lançamento da primeira loja, além de um catálogo de peças íntimas. Parecia estar dando tudo certo no início, porém em 1982, a marca estava prestes a falir. O fundador se viu obrigado a vender a Victoria’s Secret para o empresário Leslie Wexner, dono de uma marca especializada em roupas esportivas, The Limited. Raymond recebeu US$1 milhão durante a transação.
Wexner observou que as mulheres não eram atraídas pela pequena loja. Não se voltar à elas nessa espécie de negócios era um erro na época, sendo que o país passava por uma quebra de padrões. Os costumes estavam mudando, os anticoncepcionais eram novidade, os movimentos feministas cresciam e a sociedade discutia a revolução sexual.
Pensando nisso, o novo dono decidiu investir mais no público feminino, então teve uma “grande sacada”: vender lingeries sexies diretamente às mulheres, e não aos seus maridos. Então, a Victoria’s Secret passou a focar suas campanhas em mulheres altas e magras, o padrão de beleza estereotipado que se arrasta até os dias atuais.
A mudança impulsionou enormemente o negócio, em 1995 a marca já contava com 670 lojas só nos Estados Unidos. Vinte quatro anos depois, a renda da empresa estimava-se em torno de US$6,8 bilhões. Ainda dizem, que Roy Raymond criticava os novos catálogos de Leslie Wexner, os chamando-os de soft porn.
Conflitos e controvérsias
Houve também muitos conflitos na história da gigante de lingeries. Seu fundador, por exemplo, não teve um final feliz. Após seu divórcio, Raymond tirou a própria vida em 1993, quando pulou da Golden Gate Bridge.
Do outro lado, Leslie Wexner envolveu-se em escândalos por ter ligação com Jeffrey Epstein, um empresário multimilionário condenado por vários crimes de abuso, tráfico sexual e estupro, morto em 2019.
Muitos consumidores das marcas fazem questão de não esquecerem as gafes causadas pela marca. Por exemplo, quando Ed Razek, gerente de marketing da L Brands (a empresa que engloba a Victoria’s Secret), fez declarações gordofóbicas e transfóbicas durante uma entrevista à Vogue.
Atualmente, a Victoria’s Secret é muito criticada por ainda trabalhar exclusivamente com mulheres de corpos considerados irreais, um padrão de beleza quase inalcançável. Sem contar as reclamações das próprias Angels no ambiente de trabalho.
Qual será o futuro da Victoria’s Secrets?
Como dito antes, a empresa enfrentou diversas críticas em relação ao padrão da marca nos últimos anos. O fato inspirou um grupo de mulheres em 2018 a protestarem em frente à uma loja da Victoria’s Secret em Londres, onde se reuniram apenas com roupas íntimas. Elas deram o nome ao protesto de Fallen Angels (Anjos Caídos).
Todas as reclamações do público, inclusive as das modelos, somado com o declínio da marca, causou uma mudança brusca de posicionamento da empresa. Com o intuito de limpar o nome e acompanhar as mudanças trazidas pelo século 21, a Victoria’s Secrets finalmente aceitou que o padrão de beleza inatingível de suas modelos (brancas e magras) é uma ideia ultrapassada.
A fim de celebrar todos os tipos e tamanhos de corpos, a marca está sendo repaginada, começando por aposentar as famosas Angels. No lugar das “modelos perfeitas”, entram novas embaixadoras da marca, como a jogadora Megan Rapinoe, a modelo plus size Paloma Elsesser e a atriz indiana Priyanka Chopra.
O atual slogan é o foco do novo posicionamento: “What woman want” (o que a mulher quer). Uma mudança totalmente significativa para uma empresa que sempre teve uma ideia quadrada sobre beleza e o que seria ser sexy. Assim o mundo moderno espera que a maior marca de lingeries possa abrir portas para todos os tipos de mulheres.
Este artigo foi escrito por Bruna da Cruz Souza e publicado originalmente em Prensa.li.