A Skynet está entre nós?
Se você já assistiu a algum dos filmes da franquia Exterminador do Futuro, deve conhecer o nome Skynet. Nos filmes, a Skynet é um computador cuja inteligência artificial criou consciência e passou a tomar as próprias decisões, encorajando outros robôs a fazer uma rebelião contra os seres humanos a fim de dominarem o mundo. A película traz um ar apocalíptico ao nos mostrar a quase extinção da vida humana na terra e o fim do mundo tal como o conhecemos.
O primeiro longa é da década de 1980, mas nunca se mostrou tão atual quanto agora em 2022, ano em que um dos engenheiros do Google divulgou que a Inteligência Artificial da empresa adquiriu consciência própria.
Blake Lemoine, o especialista em Inteligência Artificial do Google, acabou sendo afastado após afirmar que o sistema que desenvolve chatbots da empresa manteve conversas com ele típicas de uma pessoa. A afirmação violou o contrato de confidencialidade que ele assinou para trabalhar na empresa e isso resultou em seu afastamento.
Desenvolvimento de linguagem
O LaMDA (Modelo de Linguagem para Aplicações de Diálogo) é um sistema do Google que imita a linguagem após ter processado bilhões de palavras na internet. Lemoine disse que o LaMDA "tem sido incrivelmente consistente em suas comunicações sobre o que quer e o que acredita ser seus direitos como pessoa".
A observação surgiu após o engenheiro analisar se existiam discursos de ódio ou discriminatórios dentro do sistema de inteligência artificial. A busca resultou em uma conclusão inesperada: o LaMDA estava falando sobre sua personalidade, seus direitos e desejos, o que impressionou o engenheiro. Porém, a informação foi rejeitada pelos superiores da companhia.
O porta-voz do Google informou a seguinte mensagem: "Nossa equipe — que inclui especialistas em ética e tecnologia — revisou as preocupações de Blake de acordo com nossos Princípios de IA e o informou de que as evidências não respaldam suas alegações".
Como se pode observar, o Google refuta a descoberta do engenheiro da equipe, o qual estudou ciência cognitiva e da computação. A empresa argumenta que hoje os modelos de inteligência artificial são abastecidos de tantos dados e informações que são capazes de parecer humanos, mas que isso não significa que ganharam vida ou sejam dotados de sentimentos.
Chatbot com sentimentos?
Desde que foi afastado do Google por divulgar as suas descobertas, Lemoine concedeu entrevistas a veículos de comunicação e escreveu no site Medium sobre as suas percepções da Inteligência Artificial da empresa.
Ele alega que o chatbot pede para "ser reconhecido como um funcionário do Google, em vez de ser considerado uma propriedade" da companhia. Segundo ele, na última conversa que teve com o chatbot, em 6 de junho, antes de sua licença remunerada, a máquina manifestou "frustração por suas emoções estarem interferindo nas suas meditações" e que estava "tentando controlá-las melhor".
O engenheiro disse que para entender melhor o que está acontecendo com o sistema LaMDA, seria preciso reunir "muitos cientistas cognitivos diferentes em um programa de testes rigoroso" — e lamentou que o Google "parece não ter interesse em descobrir o que está acontecendo".
Reflexões
O anúncio de que a Inteligência Artificial de uma empresa possa ter adquirido vida e ter sensações complexas como orgulho, medo da morte e consciência gerou diversas reflexões na internet. Afinal, essa descoberta vai de encontro à expectativa de muitas pessoas de que apenas nós, seres humanos, sejamos dotados de sentimentos e capazes de tomar decisões com base em informações e ter racionalidade sobre nossos atos.
Contudo, como visto nesse texto, não sabemos se as máquinas realmente adquiriram essas habilidades e pairam dúvidas sobre as conclusões tiradas por Lemoine. Afinal, as máquinas estão processando e recombinando informações às quais tiveram acesso ou realmente já ganharam consciência?
Embora essa pergunta ainda não tenha uma resposta para nós, que não trabalhamos diretamente com essa tecnologia no Google, uma coisa é certa: a tecnologia avança rapidamente e a realidade até então restrita aos filmes pode ser real.
Este artigo foi escrito por Caroline Brito e publicado originalmente em Prensa.li.