A solidão das madrastas
Imagem: Unsplash
Eu me vi na posição de madrasta já aos 25 anos, quando me casei. Meu marido tem uma filha, fruto de um relacionamento anterior, e após um ano de casamento, ela veio morar conosco.
Nos anos que se seguiram, foram muitos os desafios relacionados a esse papel, os quais solidificaram minha experiência e me ajudaram a entender os estigmas por trás desse nome que passei a carregar - madrasta.
Seja no Brasil ou em qualquer outro continente, as madrastas enfrentam questões dolorosas de todos os lados, e em sua invisibilidade, vivem em solidão, mesmo que acompanhadas.
Madrasta, que segundo o dicionário…
A madrasta precisa lidar com um emaranhado de preconceitos que a sociedade impõe. Preconceito, sim, na definição mais pura dessa palavra. A madrasta é vista como aquela que é má, que nem sempre quer o melhor para a criança, quando na verdade, vem de “mater”, fazendo uma alusão à “mãe”.
Obrigada por isso, filmes da Disney! Muitos enxergam a madrasta como uma pessoa difícil, que atrapalhou um relacionamento anterior, e que possivelmente, irá afastar um pai de seus filhos. Bom, não preciso nem dizer que, assim como existem bons pais e mães, e péssimos pais e mães, existem também boas e más madrastas.
A cada opinião, faça um pix!
Ao longo do caminho, a madrasta também carrega o peso de julgamentos de familiares e colegas. Como exemplo, ouvi de pessoas próximas a mim que estaria “estragando a minha vida”, ao decidir morar com a minha enteada. Esse passo significou, sim, exercer meu papel de madrasta mais ativamente. Lavar uniforme, ajudar com uma lição escolar, ensinar a fazer a cama, dar conselhos.
Há também madrastas que têm uma relação com seus enteados principalmente em feriados e fins de semana, períodos que também envolvem sua participação na sua educação.
E é claro, tem quem admire o envolvimento dela no dia a dia, e tem quem lance olhares de desaprovação. “Esse não é seu papel”, “a criança tem mãe”, “você não faz parte da família”. Curioso, como um padrasto participativo é sempre elogiado, não?
E os adultos que se resolvam
Existem também os desafios que são parte da dinâmica familiar. A depender do relacionamento conjugal, pode ser mais fácil ou muito difícil. Impossível até. Certos maridos excluem suas esposas de decisões a respeito dos enteados, ainda que estas venham a impactar a vida delas.
Os temas variam, como viagens, gastos familiares, visitas e combinados com a mãe. Em outros casos, a mãe julga inaceitável a presença da madrasta em atividades familiares, como aniversários, formaturas e batizados.
Punição? Respeito disfarçado de ódio? São limites impostos, e por trás uma cortina esconde o dedo que aponta a madrasta como culpada pelo insucesso de um relacionamento anterior.
Enfim, após algumas vivências e leituras sobre o tema, vejo que é urgente a necessidade de desmistificar não só o nome, mas toda construção social negativa que ele carrega. Que possamos como sociedade estar abertos para reflexões maduras, buscando entender melhor o papel de pais, madrastas, padrastos e mães ou pais solo nesse novo mundo, com seus diversos perfis familiares.
Este artigo foi escrito por Paula Ferolla e publicado originalmente em Prensa.li.