A super exploração dos trabalhadores de TI
A partir da 3ª Revolução Industrial, o desenvolvimento tecnológico passou a demandar uma contratação de desenvolvedores de sistemas de automação e pessoas atuantes em diversas áreas da tecnologia da informação. A falta de mão de obra e, ainda mais, mão de obra qualificada para o setor possibilita grandes salários e pagamentos vultuosos de bônus por produtividade. Porém, o setor de TI é marcado por um regime de super exploração dos trabalhadores.
A inserção da tecnologia nos sistemas de trabalho e a automação de empresas em diferentes setores, com destaque a partir dos anos 2000, fizeram com que o mercado necessitasse de contratações sem ter uma mão de obra formada e isso possibilitou salários elevados pela ausência de trabalhadores para desempenhar as inúmeras funções que a profissão exige.
A necessidade de automação e o desenvolvimento de tecnologias da informação sofreram uma expansão exponencial nos setores de serviços e comércio a partir da pandemia de COVID-19, no ano de 2020. A elevação da demanda de trabalhadores expandiu de forma acelerada e atingiu as remunerações sem a formação de profissionais acompanhar as necessidades impostas e as novas condições de trabalho, e a pressão por resultados também foi elevada.
Segundo, Mili Silva¹, no artigo Carência profissional no setor de TI: como superá-la:
No caso da carência de "techs" no setor, há um acúmulo de 408 mil postos de trabalhos vagos, o que provoca um prejuízo anual de 480 milhões de reais - resultados mostrados através da pesquisa promovida pela Softex, grupo social ligado à TI no Brasil.
Profissionais de TI podem escolher a empresa que querem trabalhar, muitas vezes negociam o salário com seu empregador ou contratante, são disputados por inúmeras empresas, dificilmente ficam desempregados, e também possuem um grande prestígio social pelas inúmeras atividades relevantes que realizam no meio profissional.
Ademais, um olhar mais atento ao mercado de trabalho observa um regime de trabalho marcado pela "pejotização", ou seja, a contratação de profissionais acontece muito por contratação de pessoas jurídicas, como os microempreendedores individuais, prática realizada para diminuir os tributos pagos pela empresa em relação ao trabalhador.
Entretanto, o regime de contratação de pessoa jurídica reduz os direitos trabalhistas e permite uma exploração ainda maior sobre os prestadores de serviços, como o excesso da jornada de trabalho, em que não há o pagamento do descanso semanal remunerado, e até mesmo décimo terceiro salário, férias e demais direitos dos trabalhadores assalariados.
É importante ressaltar que a pressão exercida por grandes empresas, com finalidade de geração de inovação de produtos e tecnologias, somadas às longas jornadas de trabalhos ininterruptas semanais provocaram alguns transtornos psicológicos que são grandes desafios no século XXI, com destaque para ansiedade e depressão.
Um estudo realizado pela Telavita², plataforma online de terapia, entre os anos de 2020 e 2021, ao analisar mais de 20 mil sessões com profissionais de 38 setores, observou que 18% de todos foram realizados a partir dos profissionais de tecnologia.
Vale ressaltar, que muitos profissionais do setor de tecnologia são afetados pela Síndrome de Burnout, transtorno marcado por por um quadro de estresse agudo. Segundo, o Ministério da Saúde³:
Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastantes, que demandam muita competitividade ou responsabilidade.
A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho. Esta síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes (...).
É necessário ressaltar que muitos profissionais passaram a usar substâncias psicoativas legais e ilegais, como produtos a base de cafeína e medicamentos para aumento da concentração e redução do cansaço, em nome da produtividade e dos resultados que precisam ser alcançados.
Portanto, o mercado desenvolvido exigirá muitos profissionais de tecnologia da informação e o salário médio não irá reduzir a curto prazo, porém as condições de trabalho não irão melhorar se não houver uma conscientização dos trabalhadores a resdpeito de sua exploração. A Síndrome de Burnout, os transtornos e a depressão serão marcas desse processo de precarização e exploração dos profissionais.
Não é só de salário que o trabalhador vive!
¹ -Silva, Mili, Carência profissional no setor de TI: como superá-la. Disponível em https://prensa.li/@milipinto/carencia-profissional-no-setor-de-ti-como-supera-la/# Acessado em 27 de set de 2022.
² - Vilela, Luiza, Profissionias de tecnologia são os profissionais que mais sofrem transtornos psicológicos. Disponível em https://www.consumidormoderno.com.br/2021/05/05/tecnologia-sofrem-transtornos-psicologicos/. Acesso em 07 de out. de 2022.
³ - Ministério da Saúde, Síndrome de Burnout. Disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sindrome-de-burnout. Acesso em 09 de out. de 2022.
Este artigo foi escrito por Magno FERREIRA e publicado originalmente em Prensa.li.