Acesso irrestrito e ilimitado. Ou não. | Imagem: Cottonbro/Pexels
“Não é feitiçaria, é tecnologia.” - Joana Prado, mais conhecida como A Feiticeira do H.
Os escritores de ficção científica como Júlio Verne e H. G. Wells, anteciparam tecnologias, venderam muito no século XIX e são cultuados até hoje. A franquia Star Trek (por aqui, Jornada nas Estrelas) faz isso desde os anos 1960. Celulares, tablets e até mesmo o alumínio transparente deram as caras primeiramente nas aventuras da nave estelar Enterprise.
Por mais ficcionais que sejam, estas tecnologias estão todas por aí, ou bem próximas de sua execução. Exceções feitas à máquina do tempo ou ao Homem Invisível de Wells, ou (felizmente) a criatura de Mary Shelley.
Na palma da mão
Evolução natural dos celulares, os smartphones, verdadeiros canivetes suíços da atualidade, substituem cerca de três dezenas de equipamentos. Você pode assistir a um filme, escrever textos, ler notícias, fotografar, encontrar a melhor rota para voltar para casa, mandar mensagens (dizendo que vai demorar pra voltar para casa).
Pode parecer loucura, mas tem gente que até os usa como telefone!
Eficiência ilimitada na palma da mão. Isso melhorou nossa vida? Não há dúvidas: celulares sintetizam o espírito da Era da Informação. Ao alcance de dois ou três toques.
Não que o avanço digital não tenha nos trazido alguns dissabores, como a proliferação de informações falsas, as populares fake news. Apenas um detalhe se pensarmos um pouco na imensa gama de melhorias e recursos que podemos usufruir.
O setor do entretenimento foi um dos primeiros beneficiados – não apenas as empresas, o consumidor final ganhou com isso.
Conteúdo sem limites
Os streamings - de filmes, séries, música e podcast - são uma verdadeira revolução no setor de entretenimento. Se antes era necessário ir ao cinema para assistir a um filme, aguardar o lançamento em videocassete, DVD ou esperar mais um pouquinho e assistir na TV por assinatura, hoje, o processo é muito mais rápido!
The Batman, por exemplo, chegou aos cinemas brasileiros em 3 de março, e à plataforma HBO Max em 18 de abril de 2022.
No mercado musical, se por um lado streamings como Spotify e Deezer quebraram as gravadoras e distribuidoras de mídia física, por outro, abriram as portas para milhares de artistas distribuirem seus álbuns, singles ou mesmo projetos experimentais, para um público antes inacessível. A música alternativa só teve a ganhar.
O salto da tecnologia nos últimos vinte anos democratizou os meios de produção de conteúdo. O YouTube permitiu que qualquer um com um celular mediano criasse seu próprio canal, muitos tornando-se celebridades instantâneas.
O fenômeno não se restringiu à produção de vídeos, mas também com o áudio, com os webrádios e podcasts. Muita gente passou a ter voz própria para seus públicos, com pouco ou nenhum investimento.
Digitalmente saudável
O setor da saúde deu saltos nos últimos anos. Os sistemas de diagnósticos, tanto de análises clínicas e exames de imagem, ganharam precisão apurada e velocidade. Num ramo onde minutos podem significar o agravamento de um quadro, o tempo conta e muito.
Sem falar nas cirurgias à distância, realizadas por robôs controlados por cirurgiões que podem estar, literalmente, do outro lado do planeta.
Ainda neste setor, outra tecnologia admirável nos auxiliou nesse período pandêmico: a aferição de temperatura, através do infravermelho. Servidores dedicados com alta capacidade de processamento podem identificar, mesmo em grandes espaços como o saguão de um aeroporto, indivíduos com temperatura elevada.
Este procedimento, aplicado pela primeira vez em caráter emergencial nos aeroportos chineses, facilitou o controle e reduziu a disseminação da Covid-19, certamente evitando milhares de contaminações e mortes além das ocorridas.
Por todos os lados
E os drones? Os primeiros chegaram por aqui há pouco mais de uma década como brinquedos, mas seu potencial com uma câmera (ou várias) foi logo percebido.
Hoje drones voam para serviços como engenharia e arquitetura, setor agropecuário, meteorologia, jornalismo, cinema e televisão, publicidade, medicina e análises clínicas, segurança urbana e mais recentemente, serviços de delivery.
A popular plataforma iFood os utiliza para encurtar o tempo entre restaurante e hubs de distribuição para entrega ao consumidor final. Outras empresas aguardam autorização da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) para utilizarem seus mensageiros aéreos.
Como lembramos dos “lanchinhos voadores”, podemos recordar que a tecnologia fez prosperar o setor de entregas de comida como um todo. Não dependemos mais do telefone para solicitar a entrega da nossa refeição desejada. Pode ser feito via site, aplicativos dedicados ou mesmo em um sistema de mensagens como o WhatsApp.
Não apenas comida: basicamente qualquer coisa pode ser pedida e recebida no conforto de seu lar, seja onde for seu lar, através das gigantes do comércio eletrônico. De um sofá a um pendrive, passando pelas compras do supermercado, muitos entregam em menos de um dia. Para pagar, pode-se usar seu cartão de débito ou crédito, ou ainda mais rápido, o prático Pix.
Dados e finanças agora estão “abertos”
E o Pix - que virou o seu melhor amigo - é a ponta de um colossal iceberg: o setor financeiro. Desde a chegada dos Caixas Eletrônicos, apelido dado às ATM Machines que desembarcaram aqui na segunda metade dos anos 1980, pagar contas deixou de ser uma tarefa desgastante.
O advento do internet banking, seguidos pelos aplicativos bancários por celular, agilizaram o processo tanto para a pessoa física quanto para a pessoa jurídica. A evolução foi tão profunda que algumas instituições financeiras sequer dispõem de agências físicas. E funcionam muito bem, obrigado.
Temos visto o setor financeiro ser transformado digitalmente com as infinitas possibilidades que Open Finance oferece, tanto para os usuários, quanto para os bancos e instituições. E tudo através da tecnologia.
Hoje, já é possível que o brasileiro compartilhe os dados pessoais e histórico bancário com a instituição que desejar, onde e quando quiser – e tem total controle para não compartilhar também.
E o que isso é capaz de mudar? Muita coisa!
Se você tem todo o seu histórico financeiro em uma instituição, mas quer ver o que alguma outra pode te oferecer, a consulta agora é imediata. Os dados importantes estarão com os sistemas certos para oferecer produtos financeiros mais alinhados com a realidade e o orçamento de cada pessoa.
Isso agiliza muitos dos processos que antes eram burocráticos e demorados. Do financiamento de uma casa nova até a compra de seguros, é tudo mais rápido agora.
E essa novidade do “Open” vai além das finanças. Com transparência de informação, até o sistema de saúde vai mudar. De um atendimento em clínicas a outro, a consulta aos dados e exames pode ser facilitada.
As pessoas agora têm a capacidade inédita de terem mais controle do futuro financeiro, sobre quais serviços querem aceitar, e como podem se mover entre diferentes instituições.
Infinitas possibilidades
Englobando isso tudo, estamos muito próximos de conhecer ambientes dedicados a vivenciar todas as experiências diretamente dentro do mundo virtual, o tão falado Metaverso. Fortunas vêm sendo investidas (em papel e/ou criptomoedas) no desenvolvimento de uma nova realidade, além de um campo de trabalho para novos desenvolvedores.
O Real Digital é um exemplo disso. A moeda virtual brasileira já está em andamento e deve entrar em circulação ainda neste ano. Mas, calma! Apenas em fase piloto e não estará disponível para toda a população.
Muita gente e pouca gente
Está certo. Vivemos em um mundo bem próximo da ficção científica. Mas, e quem não tem acesso a toda essa tecnologia?
Num país com quase 213 milhões de habitantes, 152 milhões têm acesso à internet, segundo pesquisa encomendada pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil, em 2020. Apesar do número representar cerca de 73% da população brasileira, revela também 61 milhões de analfabetos digitais.
O montante, similar à população total da França, abrange tanto a parte da população que não têm condições econômicas para acesso às redes, ficando à margem dos serviços oferecidos, assim como municípios do chamado Brasil Profundo.
Além disso, em um estudo de 2021, 34 milhões de pessoas foram consideradas desbancarizadas.
Há grotões do país que não tem acesso à internet, apartados da capilaridade das redes, ou pior, sem acesso a outros serviços básicos e mais prementes, como o atendimento do Sistema Único de Saúde. Um Brasil que não se vê nos conceitos básicos de cidadania, tampouco em usufruir das benesses de uma sociedade digital.
A precariedade se reflete no acesso – ou falta dele – para um punhado de serviços digitais que deveriam facilitar a vida: desde um simples boletim de ocorrência, até a obtenção de documentos pessoais, empresariais e serviços variados, disponíveis para o restante da população, devidamente conectada.
A sorte está lançada
O tempo e nossa relação com a tecnologia mudaram de forma acelerada. Mas a democratização completa e o acesso incondicional ainda se assemelham à cena do cachorro correndo atrás do próprio rabo.
Em várias frentes, estamos adiantados ao que preconizou a Ficção Científica. Noutros, ainda engatinhamos. Mas podemos ver com bons e esperançosos olhos. Afinal, nossos sonhos de futuro não vivem de distopias.
Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.