A terceira via e seu naufrágio retumbante
Imagem: Isaac Fontana / Estadão Conteúdo
Diante da polarização que está contaminando a política, bem como o debate público durante alguns meses, se discutiu a possibilidade do eleitor brasileiro ter a oportunidade de escolher um candidato com um perfil mais democrático, com discurso ameno e que pudesse pautar temas importantes para o andamento do país.
Diversos nomes foram ventilados: João Dória Júnior, Simone Tebet, Sérgio Moro, Alessandro Vieira, Rodrigo Pacheco. Todos estes surgiram ao público como salvadores da pátria, mas na verdade passam vergonha a cada dia no grande teatro que é a política nacional.
A terceira via não conseguiu a solidez que tanto desejava, muito por conta dela mesma em não ter o trato popular tão necessário para angariar os corações dos milhões de eleitores espalhados pelo Brasil. Isso porque todos os envolvidos nesta “rota de fuga” fizeram por onde para ter o descrédito da opinião pública.
Dos nomes destacados, três merecem uma análise bem profunda. O primeiro nome citado entrou na política a partir de 2016, no PSDB, tendo o apoio dos políticos mais importantes da história do partido, o então governador de São Paulo Geraldo Alckmin.
Após vencer a desconfiança dos seus correligionários, Dória, com o discurso antipolítica, vence as eleições para prefeito de São Paulo e se fortalece na legenda como um forte nome a cargos maiores.
Em 2018, contra a vontade de muitos, se candidatou a governador de São Paulo vencendo as suas eleições, mas já causando o seu próprio isolamento no partido pela fome e desejo de poder.
Tamanho foram estes predicados, que graças a estes, Alckmin, depois de décadas no partido, se retira mostrando sua insatisfação para todos. Mesmo ganhando as prévias do partido para presidência da República, parte dele corre contra o tempo com o objetivo de inviabilizar a sua candidatura.
Simone Tebet, senadora pelo estado de Mato Grosso do Sul, tenta se manter no páreo mas encontra muita resistência no seu partido. O motivo? O MDB tem em sua longa trajetória não se dar muito bem em pleitos eleitorais para presidente da República.
O partido prefere apoiar o candidato mais bem colocado nas pesquisas, para que então este possa fazer aliança e a legenda obter vantagens políticas como por exemplo, ministérios, posições de destaque em comissões tanto da casa quanto do senado.
Simone tem um discurso pautado nas causas sociais, como o direito das mulheres, das crianças e melhor distribuição de renda. Apesar dessas pautas estarem em voga atualmente, a senadora entra em rota de colisão com o atual líder das pesquisas de intenção de voto que é marcado pelos programas sociais e discurso afável a população mais carente do país.
Já o ex-juiz e também ex-ministro da justiça, Sérgio Moro, tenha sido de todos o que tenha saído dessa corrida mais constrangido. Até Abril de 2020 o prestígio do então candidato era muito elevado graças aos seus feitos como juiz da lava jato.
Com o rompimento deste com o atual governo, a impressão que dava era que ele seria um grande nome a concorrer ao Palácio do Planalto. Mero engano.
A falta de comunicação com os eleitores, assim como a falta de habilidade política, a elevada arrogância e um discurso anti corrupção feroz, fizeram a sua candidatura minguar de míseros 4,5, às vezes 7% das intenções de voto. Soma-se a esses fatores o fato dele ser rejeitado tanto pelo Lulismo quanto pelo Bolsonarismo.
A celeuma da terceira via poderia ter sido evitada se as lideranças partidárias fossem capazes de aproveitar o momento de acirramento. Discutir um único nome capaz de mostrar ao povo propostas sólidas é uma linguagem mais compatível, o cenário talvez fosse outro neste momento. Pelo que se vê, o Brasil, pela terceira vez seguida, acompanhará atentamente o arrefecimento da política sem ter uma perspectiva de melhora. É necessário mudança e vontade para que isso cesse e para que o país possa ter paz e progresso.
Este artigo foi escrito por Jones Júnior e publicado originalmente em Prensa.li.