Ronaldo - A trajetória de um Fenômeno
Imagem: Divulgação/CBF Oficial
Apesar de ter feito sua carreira no gramado, assim como diversos atletas do futebol profissional, Ronaldo deu seus primeiros passos nas quadras de futebol de salão.
Ainda jovem, jogou futsal por clubes locais da cidade maravilhosa, mas foi no Estado vizinho, Minas Gerais, que o garoto teve suas primeiras experiências em campo.
Após ter parte do seu passe vendido ao Cruzeiro, e ter feito bons jogos nas categorias de base da seleção brasileira, aos dezesseis anos de idade, em 1993, Ronaldo fez sua estreia pelo time profissional de Belo Horizonte.
Apesar de recém chegado, o garoto já era visto como um atleta diferenciado no clube, e não demorou muito para que essa mesma impressão fosse criada por outros jogadores rivais e torcidas.
Naquele mesmo ano Ronaldo foi sondado por times internacionais, foi aplaudido de pé por torcedores rivais, fez cinco gols em um mesmo jogo, e foi artilheiro em duas competições.
De artilheiro em Minas, à promessa na Copa
Logo em 1994, pouco antes da Copa do Mundo, o jovem atleta foi negociado com o clube holandês PSV.
Por fim, em pouco mais de um ano como profissional, Ronaldo já havia protagonizado uma transferência de seis milhões de dólares, e estava confirmado na seleção principal que disputaria a Copa daquele ano.
Vestindo a amarelinha, Ronaldo se tornou Ronaldinho, tendo em vista seu experiente colega de equipe, o zagueiro Ronaldão.
Apesar de não ter colocado o pé em campo sequer uma vez, Ronaldo integrou o elenco campeão do Tetra na copa disputada nos Estados Unidos.
O clube holandês que já havia contado com Romário em seu elenco, trazia Ronaldo para compor o time junto ao meia também brasileiro, Vampeta.
Mesmo não tendo vencido o campeonato local, em sua primeira temporada na Holanda, Ronaldo marcou 54 gols em 57 partidas. Contudo, na sua segunda temporada nos países baixos, o atacante passa por sua primeira cirurgia no joelho, e após alguns desentendimentos com o treinador, é negociado com o clube espanhol Barcelona.
O mais jovem Melhor do Mundo
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No ano de 1996, apesar da idade, recém chegado ao Barcelona, Ronaldo é aclamado pela torcida, e logo no ano seguinte foi eleito pela FIFA o melhor jogador do mundo.
Apesar de ver o rival Real Madrid levantar a taça de campeão espanhol, mais uma vez o craque brasileiro foi artilheiro da competição. Ao todo, Ronaldo marcou 34 gols em 37 jogos, novamente beirando a média de um gol por partida.
Mesmo sendo um dos atletas mais jovens do elenco, Ronaldo já era chamado de El Fenomeno, pela torcida do Barça.
Após ter sondado o atleta ainda em solo nacional, e posteriormente em sua passagem pela Holanda, a Inter de Milão oficialmente integrou o promissor jogador brasileiro à seu elenco.
Sendo assim, em 1997 Ronaldo foi apresentado na sede do clube na Itália, onde além de novos recordes, adquiriu marcas e cicatrizes que o acompanhariam até o fim da carreira.
Desta vez vestindo a camisa dez, novamente o craque encantava e colecionava gols. Sendo mais uma vez artilheiro do torneio nacional.
Convocado para a Copa do Mundo do ano seguinte, disputada na França, poucos dias antes da final contra os donos da casa, Ronaldo sofre uma convulsão e preocupa toda a seleção, comissão técnica e torcedores.
Por fim, Ronaldo entra em campo, joga abaixo do que era esperado, é substituído, e do banco de reservas vê a França ser campeã mundial em casa, sobre a seleção canarinho.
Depois deste fatídico episódio, Ronaldo ainda era protagonista na Itália, todavia seu rendimento passou por uma queda, muito por conta de lesões menores, compromissos com a seleção brasileira, patrocinadores e afins
Como se não bastasse, em 2000, na final da Copa Itália entre Inter de Milão e Lazio, voltando de lesão, Ronaldo entra em campo e após cerca de sete minutos jogando, ao tentar um de seus dribles característicos, o craque Fenômeno lesiona novamente seu joelho direito.
As imagens de Ronaldo caído no chão chocaram não só seus colegas de time, mas também os adversários, imprensa e telespectadores.
Em abril de 2000, muitos davam a carreira de Ronaldo Nazário de Lima como encerrada.
O que inicialmente seria resolvido em oito meses, foi estendido para quinze, e somente em 2001, após muito sofrimento, o Fenômeno conseguiu voltar a jogar, obviamente, com frequência e intensidade bem abaixo das temporadas de ouro.
Da queda à glória do Penta
Ainda sobre os abalos e questionamentos, gerados principalmente pela final de 1998, a seleção brasileira volta a disputar novamente o título mundial, desta vez em 2002 na Copa do Mundo - Japão e Coréia.
Se a pressão sobre a seleção era grande, sobre o camisa nove ainda mais. Fenômeno que já havia disputado a copa de 1994 sem jogar, e a de 1998 com final pra lá de triste, via em 2002 a chance de dar a volta por cima.
Após uma fase de grupos complicada, e deixando para trás equipes como Bélgica, Inglaterra, e Turquia, o Brasil chegava a sua terceira final consecutiva, desta vez frente a Alemanha.
A seleção canarinho, que contava com craques como Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, além do próprio Ronaldo, enfrentaria o pelotão alemão que tinha em seu elenco estrelas como, Klose, Neuville e Oliver Khan.
Apesar dos alemães não contarem com o principal craque, o camisa treze Michael Balack, o time levou perigo à meta verde e amarela, porém o goleiro brasileiro, Marcos, estava em uma noite inspirada, sorte esta que não acompanhava o arqueiro alemão.
Dessa forma, aos 22 minutos da etapa final, após Rivaldo finalizar de média distância, Khan defendeu mas deixou a bola escapar nos pés do Fenômeno, que abriu o placar para o Brasil.
Apesar das tentativas de ataque do time alemão, já estava claro que aquela noite tinha dono, e ele vestia verde e amarelo, e era facilmente reconhecido graças ao seu icônico corte de cabelo à lá Cascão.
Logo, pouco mais de dez minutos do primeiro gol surgiu o segundo, mais uma vez contando com a participação de Rivaldo, a bola sobrou livre para Ronaldo, que de frente para o gol ampliou com uma bela finalização no canto esquerdo do goleiro.
Por fim, Brasil 2 x 0 Alemanha. Assim, Ronaldo concretizava a sua volta por cima, e junto com todo o elenco levantava a taça do pentacampeonato mundial de seleções.
Esquadrão Galáctico
Imagem: Divulgação/Terra/Goal
Ainda naquele ano, logo após o mundial, o Real Madrid desembolsou mais de 40 milhões de euros para trazer o camisa nove do penta para o seu esquadrão, posteriormente apelidado de Galácticos.
Ao lado de Figo, Zidane, Roberto Carlos e Beckham, Ronaldo integrou um dos melhores elencos, não só do Real Madrid, mas também da história do futebol.
Bastou exatamente um minuto para o camisa 11 recém contratado mostrar a que veio. Instantes após entrar em campo, em seu primeiro lance Ronaldo marca após belo cruzamento do seu conterrâneo Roberto Carlos.
Apesar das comemorações, ao contrário do carinho que havia recebido do rival espanhol anos antes, Fenômeno teve que encarar, por mais de uma vez, vaias da torcida merengue, que contestava Ronaldo por conta da sua passagem pelo arquirrival Barcelona.
Após nova temporada brilhante, Ronaldo mais uma vez foi eleito o melhor do mundo, e apesar da eliminação na liga dos campeões da europa, junto aos demais craques do elenco, o brasileiro conquistou o título de campeão espanhol e foi o craque da competição.
Vale ressaltar que até então a estrela brasileira tinha apenas 23 anos de idade.
Contudo, apesar da quantidade de gênios dentro de campo, o resultado ficou abaixo do esperado pela diretoria e torcida, que viu o time ficar no quase em diversos momentos.
Juntamente ao elenco milionário do Real Madrid, o rival Barcelona dominava o território espanhol, e trazia atenção dos holofotes do resto do mundo.
Guiados pela magia de Ronaldinho Gaúcho, o clube catalão que também contava com, Thierry Henry, Samuel Eto’o, Deco, e o jovem Messi, acabou ofuscando parte do brilho da esquadra galáctica.
O cenário que já não estava bom, piorou ainda mais quando a seleção brasileira caiu na Copa do Mundo de 2006, frente a França de Zidane, Henry e companhia.
Logo, contestado pela imprensa local e torcida, e criticado pelo seu peso, após ver o clube merengue contratar um novo centroavante, Ronaldo percebe que sua passagem pelo Real Madrid chegava ao fim.
Recuperação em casa
Assim como fez na Espanha, Ronaldo retorna à Itália para jogar no principal rival do primeiro clube que havia atuado do país, logo, como já havia usado as cores da Inter, desta vez o craque vestiria a camisa do Milan.
Desta vez com a 99, ainda em 2007, o centroavante brasileiro não pode disputar a Liga dos Campeões da Europa, visto que as regras da competição não permitiam que um jogador atuasse por dois times na mesma edição.
Por fim, Ronaldo viu do camarote seus colegas da nova equipe serem campeões da Europa, e a temporada seguinte, que tinha tudo para dar certo, teve um final trágico e antecipado para o ídolo brasileiro.
Em uma partida do campeonato italiano, curiosamente, após disputar uma bola aérea, Ronaldo mais uma vez sentiu seu joelho fraquejar, desta vez o esquerdo.
Mais uma vez o Fenômeno despenca.
Com menos de dez gols marcados, em vinte jogos disputados, após nova lesão, Ronaldo enfrenta um novo revés em sua carreira.
Pouco após descobrir o problema com o hipotireoidismo, o que ocasionava os problemas com a balança, e tendo que enfrentar novo afastamento causado pela fratura, o clube italiano decidiu não renovar com o jogador.
O craque, por sua vez, optou por retornar ao Brasil e realizar todo o processo de recuperação em território nacional, mais precisamente no Rio de Janeiro, e ainda mais precisamente, no Centro de Treinamentos do Flamengo.
Naquela altura, a torcida rubro negra estava ouriçada e de cabelos em pé, esperando qualquer notícia a respeito do craque no Mengão.
Apesar de ter iniciado a carreira jogando pelo Cruzeiro, o carioca Ronaldo nunca escondeu o amor pelo Flamengo, e afirmava que era torcedor desde pequeno.
Todavia, contrariando a tudo e a todos, nunca houve um acordo contratual entre Flamengo e Ronaldo. O camisa nove do penta treinou durante meses na Gávea, e afirma nunca ter ouvido sequer uma proposta oficial.
Com as negociações, ou a ausência delas, no pé em que estavam, após conhecer o Dirigente de Futebol Andrés Sanchez, o jogador aceitou realizar uma reunião com o empresário paulista.
Ronaldo é do Timão
Imagem: Divulgação/Daniel Augusto Junior/Corinthians
A reunião entre Andrés e Ronaldo realmente aconteceu, e após acertar detalhes contratuais, mais precisamente em 12 de dezembro de 2008 o Fenômeno, já com mais de 30 anos, foi oficialmente apresentado no Corinthians.
De certo, Ronaldo ainda estava finalizando o período de recuperação, e mesmo com os problemas da sua vida extra campo, e seu histórico de lesões, este protagonizava a maior contratação da história do Timão.
A chegada do jogador ao clube marcou uma era importante na história do time.
Rebaixado para a segunda divisão em 2007, o Corinthians retornou para a Série A em 2008, e mantendo boa parte do elenco da temporada em questão, começa 2009 com a ilustre presença do artilheiro.
Assim como a sua chegada, o seu primeiro gol não poderia ser diferente. Marcante!
Diante do Palmeiras, em um clássico disputado no interior de São Paulo, pouco tempo após entrar em campo vindo do banco de reservas, e vendo o seu novo clube perder, bastou uma bola para o camisa nove fazer a diferença.
Após cobrança de escanteio de Douglas, Ronaldo sobe e marca de cabeça. Corinthians 1 x 1 Palmeiras.
Apesar do empate, o time, a torcida e o atleta vibravam como uma vitória, vibravam não só pelo gol, mas também pelo renascer de uma lenda do futebol
A emoção foi tanta que, após o gol de empate, Ronaldo protagonizou uma das comemorações mais icônicas do futebol brasileiro.
Ao balançar as redes, o craque correu em direção ao alambrado, que separava os jogadores da torcida, e em um ato de pura emoção escalou a cerca, e a torcida por sua vez fez o mesmo.
Não demorou muito para a estrutura ruir e os policiais intervirem na comemoração. Apesar dos pesares, o lance tornou-se um marco na história do atleta e do clube.
Dali pra frente o Timão não parou mais, e após deixar os principais rivais da capital para trás, sagrou-se campeão paulista sobre o rival praiano, o Santos.
Naquele ano, apesar do recente retorno à Série A, o Corinthians de Ronaldo virou o time a ser batido, e a boa fase do time prosseguia.
Dessa forma, não demorou muito para que outro caneco viesse, dessa vez o da Copa do Brasil. Tendo em vista que em 2008 o Timão havia amargado o segundo lugar no torneio, em 2009 a história foi diferente.
Batendo adversários como Athlético Paranaense, Fluminense e Vasco. Na grande final, o Corinthians venceu o primeiro jogo contra o Internacional, e empatou o segundo, sagrando-se assim campeão nacional com Ronaldo e companhia.
Infelizmente a maré de sorte não acompanharia o time no ano seguinte, que não conseguiu repetir a conquista do estadual, e foi eliminado precocemente na Libertadores.
Por fim, em janeiro de 2011, já aos 34 anos de idade, Ronaldo declara o fim da sua carreira.
Atuando por sete clubes diferentes, jogando em alto nível por anos consecutivos, tendo em seu currículo diversos títulos individuais e em grupo, o eterno Fenômeno decide pendurar suas chuteiras.
Fenômeno no mundo dos negócios
Mesmo fora das quatro linhas, Ronaldo seguia aparecendo com frequência na mídia. Sendo garoto propagando de algumas marcas, e patrocinado por outras, a imagem do ex-atleta mantinha-se frequente no cotidiano dos brasileiros.
No mesmo ano da sua aposentadoria, Ronaldo começou a se aventurar no ramo dos negócios, e em pouco tempo fundou a 9ine (Nine). Uma empresa especializada em tratar assuntos voltados ao marketing esportivo, assessoria e agenciamento de atletas.
A primeira experiência infelizmente não deu certo, o que fez com que Ronaldo saísse um pouco dos holofotes, porém, em 2017, o empresário, já com 40 anos, comprou a Octagon Brasil, e deu seguimento ao seu trabalho de marketing no segmento do esporte.
Já em 2018, surpreendendo a muitos, o Fenômeno anuncia a compra de um clube de futebol. Pela bagatela de 30 milhões de euros, o ex-jogador comprou 51% dos direitos do Real Valladolid, que há pouco retornara da segunda divisão do campeonato espanhol.
Por fim, contrariando qualquer tipo de expectativa, e surpreendendo até os torcedores mais otimistas, Ronaldo desembolsou 400 milhões de reais e comprou 90% do clube que o revelou para o futebol, o Cruzeiro.
O craque também assumiu todas as dívidas do clube mineiro, e projeta uma administração otimista para a Raposa, que pelo terceiro ano seguido disputará a Série B do Brasileirão.
Você crê que o investimento que o Fenômeno fez no Cruzeiro foi certo, ou muito arriscado?
Por acaso imagina que algum outro jogador brasileiro da atualidade conseguirá conquistar o que Ronaldo conseguiu?
A médio prazo teremos o Cruzeiro de volta à elite do futebol brasileiro, ou ainda vai levar tempo?
Depois de Pelé, existiu algum futebolista brasileiro melhor do que o Fenômeno!?
Este artigo foi escrito por Filipe Mello e publicado originalmente em Prensa.li.