A velha engrenagem
Estamos a poucos meses de mais um marco na história brasileira. A ida às urnas eletrônicas para depositar votos a pessoas que gostaríamos que fossem guardiões do povo, mas ano após ano nós nos decepcionamos com as figuras públicas que são eleitas.
Será que todo político possui um manual: “Como ser um péssimo político e ainda assim ser ovacionado”? Bem, é notório que temos péssimos políticos no cenário nacional.
Pesquisas comprovam que 94% da população brasileira não se sentem representados pelos políticos. Mas, então, é inevitável a pergunta: por que a maioria superlativa desses políticos que não representam a população brasileira são reeleitos?
Será que a população brasileira não tem sua parcela de culpa? Ao meu entender, sim. Os atores que chegam ao pináculo político seja em qual for a esfera pública, somente chegam se tiverem votos suficientes e isso é o que tem acontecido. Ou seja, mesmo com uma reputação que deixa a desejar, os políticos vampiros, de alguma forma conseguem persuadir muitas pessoas.
Esse fenômeno espantoso pode ser explicado por alguns fatores que são na verdade uma fratura exposta no arcabouço populacional e que deixam o povo de alguma forma rendido e em alguns casos de saber o que fazer diante de tanta injustiça.
O que vem a ser essas fraturas expostas? A economia brasileira em todos os níveis, municipais, estaduais e nacional está fragmentada.
Os pobres cada vez mais esquecidos e sofrendo sem soluções concretas. Falta políticas de ação abrangentes e urgentes, com eficácia para sanar os problemas existentes e tapar a enorme fenda na economia brasileira.
A saúde brasileira está na UTI, ofegante e abandonada ao acaso. Os programas sociais e de saúde coletiva são apenas paliativos. Não resolvem. Sendo assim, os grandes empresários faturam alto com planos de saúde caríssimos. Planos, esses que a população mais vulnerável não pode arcar.
Ainda no âmbito social, temos uma população brasileira invisível. Isso mesmo! “invisível” quem é essa população? Pessoas que vivem nas ruas, embaixo de viadutos, nas praças públicas.
São seres humanos que precisam ser notados, ser vistos com olhares humanistas, mas, o que ocorre é que as políticas públicas para esse público são irrisórias. Não resolve nada, mas sempre há um especialista para colocar panos mornos numa situação que não será resolvida enquanto houver mais interesse nos cofres do que nos corações humanos.
E seguindo a escala da vergonha nacional, está jogada às traças, a nossa educação. Esse pilar tão importante para o ser humano, está suprimido. As escolas públicas não dispõem de materiais robustos para trabalhar. A educação brasileira vive um “faz de conta”. Estamos vivendo há décadas um período sombrio na educação brasileira, voltamos aos tempos da Grécia antiga, onde os sofistas e os políticos daquele lugar impunham seus dogmas, mas tiveram um antagonista.
Sócrates deixou um alerta solene. Seu grito ainda ecoa pelos corredores do tempo. Mas cadê os “Sócrates” do Brasil, com coragem para denunciar o erro?
Não seria a população brasileira responsável por esse ato de coragem? Sim, e os vemos nas redes sociais. Há muitas pessoas indignadas externando suas decepções nas suas redes sociais, porém, quando chega o momento onde a força do povo tem valia, os votos da maioria alimentam a velha engrenagem da malandragem política.
Sabe por que a velha engrenagem da malandragem política nunca acaba? Porque um povo que não conhece sua força, também não sabe como exercê-la. Os políticos vampiros, não são mestres da hipnose, são sim, hábeis na persuasão, e grande parte da população brasileira adora uma bela historinha.
Enfim, as fraturas expostas na vida dos brasileiros são muitas, não enumerarei todas, mas, acredito que esse quadro pintado com cores fortes, já dá para entender um pouco mais da nossa realidade no âmbito político.
A máquina do poder político com suas velhas engrenagens ruem de arcaicas que são, mas por incrível que pareça ainda é aplaudida e defendida com voraz determinação. Defendida por quem? Pelo povo. Por incrível que pareça, ainda há vítimas que defendem seus algozes.
Enquanto isso, nos bastidores do poder político...caviar, champanhe, gargalhadas e muitos muitos números $. Brasil, o paraíso político é aqui.
Este artigo foi escrito por Marcio Greique Macedo e publicado originalmente em Prensa.li.