A volta triunfal do homem morcego em “The Batman”
Imagem: Reprodução/Jonathan Olley/Warner Bros
Enquanto em outras versões Christian Bale, Ben Affleck e companhia, representavam o papel de um empresário, milionário, e até certo ponto espalhafatoso, em The Batman, Robert Pattinson representou uma pessoa amargurada, fria, e um tanto quanto melancólica.
Apesar da trágica perda dos pais, fato este que seria o principal dentre todos os que motivaram o empresário a ingressar na vida de vigilante, nos filmes anteriores isso nunca representou muita influência nas características psicológicas de Bruce Wayne, que sempre foi estampado como um socialite extravagante e famoso.
Portanto, um dos principais acertos do diretor Matt Reeves foi mostrar de maneira enfática como este trauma é presente e marcante na postura e tomadas de decisões do protagonista.
Inclusive, destacando por mais de uma vez como o herói é movido pela vingança, deixando bem visível traços de ódio e descontrole por parte do protagonista. O que certamente, no decorrer das quase três horas de filme, é moldado frente aos acontecimentos na cidade.
Outro acerto do diretor foi mostrar como Batman pode ser eficiente e resolver os problemas da cidade sem utilizar a força física. Ainda assim, o filme não deixa nada a desejar quanto às cenas de combate e luta.
Nos quadrinhos, e principalmente nos videogames, o lado detetive do homem morcego é muito explorado, todavia, nos longas isso pouco havia aparecido. Neste último filme somos apresentados a este lado mais meticuloso e detalhista do vigilante.
Muito dessa habilidade é exigida pelo principal vilão do filme, o Charada, que através da interpretação de Paul Dano conseguiu mostrar que o vilão passa longe de ser um comediante, conforme havíamos visto décadas atrás em Batman - Forever, com a encenação de Jim Carrey.
O vilão principal usa das suas artimanhas e jogos mentais para expor toda a sujeira da cidade através de assassinatos sequenciais, conectando a polícia corrupta da cidade às gangues mafiosas, e por fim ao poder político de Gotham.
Imagem: Reprodução/Jonathan Olley/Warner Bros
ALERTA DE SPOILERS A SEGUIR!
Trama sombria
De fato, o novo filme representa um marco para a história do Batman nos cinemas, e isso fica claro por conta da reação dos fãs na internet e filas nos cinemas. Mas não é apenas pelas bilheterias e pelo alvoroço do público que o filme se destaca.
A presença dos vilões, e modo como personagens secundários são destacados, mostra com clareza como as entranhas de Gotham City estão conectadas, e por conta disso, como o caos é sustentado por diversos setores da sociedade.
De maneira resumida, o Charada posiciona-se como um “justiceiro encapuzado”, tendo em vista que, de maneira cruel e sádica, ele traz à luz os podres da cidade e aos poucos elimina corruptos do poder judiciário e legislativo.
A princípio, o vilão mata um dos candidatos à prefeitura da cidade, em seguida um promotor público, logo depois o maior mafioso da cidade, Carmine Falcone, interpretado por John Turturro.
E por fim, também tenta contra a vida de Bruce Wayne, todavia quem cai na armadilha é seu mordomo Alfred, que por pouco escapa da morte.
E como se não bastasse, o vilão se favorece da caçada feita pelo homem morcego, inclusive para alcançar parte dos seus objetivos, e deixar claro para Bruce que ele conhece a sua história de vida, e por consequência sabe da sua identidade secreta.
Por outro lado, por estar apenas em seu segundo ano como vigilante, Batman não conta com o apoio do corpo de polícia. Logo, temos um cenário onde, apesar de temido pelos ladrões da cidade, o herói tem suporte apenas da Mulher Gato e do investigador Gordon.
Porém, por ser constantemente requisitado pelo vilão por meio de cartas deixadas nas cenas dos crimes, o personagem principal precisa aos poucos ganhar espaço em meio ao batalhão policial, que por sua vez também conta com corruptos e ladrões disfarçados.
Enquanto isso, Charada acumula fãs e adoradores pelas ruas escuras e sujas de Gotham, de modo a formar um pequeno exército, que futuramente trabalharia para o antagonista na tomada da cidade.
E por fim, já no início do terceiro ato do longa, em um diálogo dentro da prisão, o vilão coloca Bruce contra a parede, indagando que o mesmo só é o que é, e conseguiu tudo o que tem por conta da herança deixada pelos pais.
Em suma, o Charada afirma que o herdeiro não passa de um mimado que se favorece de um poder aquisitivo elevado, e uma posição favorável dentro da sociedade, para fazer justiça do modo que considera correto.
Imagem: Reprodução/Jonathan Olley/Warner Bros
Personagens e enredo
Mais um aspecto digno de elogios neste filme, é a importância e a representação dos personagens secundários à trama.
Interpretando a ladra Mulher Gato, Zoe Kravitz apresenta uma anti-heroína envolvente, intrigante e de super importância na trama do filme.
A personagem feminina, por mais que exponha seu interesse afetivo para com Batman, também consegue mostrar toda sua força, agilidade e independência dentro do filme. Principalmente quando a personagem se empenha em resolver problemas de ordem pessoal.
O mesmo vale para o Pinguim de Colin Farrell, que por mais que não seja o antagonista principal, ainda assim protagoniza cenas e diálogos emblemáticos, como a perseguição de carro pelas ruas de Gotham, e o interrogatório com Batman e o detetive de polícia.
E por fim, mas não menos importantes, James Gordon e Alfred Pennyworth, interpretados por Jeffrey Wright e Andy Serkis respectivamente, mostram muito bem a importância e a necessidade das relações estabelecidas por Batman no decorrer da sua trajetória.
Seja com Alfred, que além de tutor, também foi fez papel de conselheiro ao elucidar Bruce Wayne sobre as atrocidades a qual sua família havia se envolvido prévio ao trágico dia do assassinato.
E por outro lado com Gordon, que futuramente se tornaria comissário de polícia, e estreitaria os laços e relações com o vigilante noturno.
Sequência?
Em suma, além dos figurinos marcantes, maquiagens e ambientalização de encher os olhos, e óbvio, um Batman pra lá de inteligente e bem equipado, o filme conta com um roteiro exemplar, que por mais bem amarrado que seja, deixa lacunas para uma eventual sequência.
Com a morte de Falcone, é muito provável que o Pinguim torne-se a maior referência dentre os gangsters da cidade.
A relação entre o Homem Morcego e a Mulher Gato tem tudo para evoluir, pois além disso já ter sido explorado anteriormente, ao contrário do vilão Charada, Selina Kyle encerra a trama sem saber quem estava por trás da máscara negra de orelhas pontiagudas..
E por último, o quão impactante e perigoso podem ser os laços estabelecidos por Charada com um suspeito e risonho colega de confinamento em Arkham Asylum
Me diz você! O que achou desse Batman ora combatente e agressivo, ora detetive e detalhista?
Se surpreendeu com a atuação de Robert Pattinson ou esperava algo de diferente?
Imagina que Matt Reeves já trará o Coringa para o segundo filme, assim como Nolan fez na trilogia anterior?
Este artigo foi escrito por Filipe Mello e publicado originalmente em Prensa.li.