Acorda pra vida, Chloe Brown e a Solidão da mulher negra
“Você é uma mulher que, apesar de uma vida repleta de dor, veio me perguntar sobre o amor.”
O despertar de Chloe
Chloe é uma mulher preta, curvilínea e autêntica. Como uma bela designer, Chloe utiliza suas roupas, mais especificamente seus casaquinhos de lã e óculos lilás, para se expressar e mostrar para o que veio.
Ela vem de uma família prestigiada de advogados, mas nem por isso deixou de batalhar pelo que é seu. Ela reconhece seus privilégios, mas também sabe que deu duro para ser a designer incrível que é. Mas apesar de sustentar tantas certezas sobre si, Chloe carrega traumas do passado até hoje.
Após ser deixada por seu ex noivo e ter perdido todos os seus amigos, Chloe se fechou e resolveu passar o resto da vida sozinha. Ela e as dores crônicas que a fibromialgia traz consigo. No entanto, quando quase sofre um grave acidente, ela percebe que precisa acordar pra vida e começar a viver as aventuras de que tanto se privou.
Mas nada é tão fácil quanto parece…
Como a mulher determinada que é, Chloe logo toma a decisão de deixar a mansão de sua família e ir morar sozinha. Uma decisão nada fácil de se tomar quando se tem uma doença crônica e constantemente precisa da ajuda de alguém.
Além de se mudar, Chloe faz uma lista de coisas que ela precisa fazer para realmente acordar pra vida. Nada absurdo, como você deve estar imaginando. Apenas coisas das quais Chloe deixou de viver por tanto tempo com medo de se ferir, se magoar e claro, lidar com as dores da fibromialgia no dia seguinte.
Ela está decidida, mas logo se depara com bloqueios e inseguranças que tornam todo o plano infinitamente mais difícil. E como se não bastasse isso, Red, o zelador gato do prédio, entra em cena!
Red: zelador e artista independente em crise
Como já dizia a patroa Taylor Swift, “i once believed love would be burning red, but it’s golden”. É o que Chloe irá descobrir ao se apaixonar por Red.
Red é o zelador do prédio de Chloe, e desde o primeiro contato, Red e Chloe sabem que o santo não bateu! Mas a verdade é que estão caidinhos um pelo outro. Red começa a ajudar Chloe com sua lista de coisas a fazer para acordar pra vida em troca da ajuda de Chloe para fazer o site de artes dele.
Do ódio ao amor
O livro é super leve e divertido. Podemos acompanhar um pouco da vida de cada um e o mais legal é como eles se odeiam no começo, mas no fundo se gostam. Gostei de saber os pensamentos dos dois e ir comparando como ambos se sentem. Red e Chloe, apesar de terem vidas financeira e social totalmente diferentes, possuem a mesma insegurança no amor. E juntos, vão aprendendo a se abrir novamente.
O que sabemos que para uma mulher negra, se abrir e confiar em uma pessoa pode ser ainda mais difícil. Ainda mais após ser deixada no passado. Chloe precisa aprender a se abrir para o amor novamente e aceitar que pode sim, ser perdidamente amada por alguém.
É que eu sou hot hot dog…
Pra quem gosta de cenas hot, esse livro entrega tudo! Na mesma medida em que é engraçado e fofo, o livro tem muitas cenas picantes (eu diria que quase metade do livro é dedicado aos hots).
Foi muito bom ter a perspectiva de um homem admirando o corpo de uma mulher preta e falar explicitamente sobre isso. Um ponto muito positivo do livro, já que não ainda não é tão comum livros eróticos com protagonistas pretas, em que seus corpos são valorizados e glorificados.
Pontos negativos da leitura
Eu gostaria que os capítulos fossem um pouco menores, pois acaba deixando a leitura cansativa. Mas nada que tire a magia do livro. Também gostaria que outros personagens aparecessem mais no livro, pois na maior parte do tempo só vemos Red e Chloe juntos ou sozinhos. Mas para um livro de romance, é compreensível o foco total no casal.
No geral, a leitura é muito agradável, leve e ótima para superar ressacas literárias. Além de abordar de forma leve, temas tão importantes e necessários como a solidão da mulher negra. Agora quero muito conhecer as outras irmãs Brown, que ganharam um livro inteirinho sobre suas aventuras românticas também!
Este artigo foi escrito por Bruna Teixeira e publicado originalmente em Prensa.li.