Agronegócio e Meio Ambiente - Olhando o problema nos olhos
Segundo um pensamento recentemente difundido nas redes sociais, a culpa das críticas feitas à política ambiental do Brasil é das nações europeias. Afinal, a linda Europa teria cometido toda a sorte de crimes ambientais, e agora quer expiar os seus desastres inomináveis condenando o Brasil a ser uma nação de silvícolas antiquados.
Feito uma criança de primário pega em uma traquinagem, o Brasil aponta o dedo para o coleguinha e anuncia que ele fez primeiro, como se isso fosse uma licença incondicional para que fizesse o mesmo ou, pelo menos, o livrasse do puxão de orelha.
Importante lembrar que não existe consideração nem lembrança quanto à perspectiva histórica, nem ao estágio de desenvolvimento tecnológico, jurídico e social dos criticados. Tudo é trazido ao valor presente, sofrendo com juros, correções e câmbio em seu mister, não econômica ou financeiramente.
Pessoas com antepassados oriundos do velho continente patrioticamente assumem uma postura de amaldiçoar as navegações, os descobrimentos, o desenvolvimento científico e humano. Colocam-se a uma enorme distância de suas origens, assumindo a natureza de nativo. Porém, dos verdadeiros nativos também são distantes, e muito mais do que de seus ancestrais.
Por conveniência, ou desvio comportamental, decidem ignorar evidências e passam a se defender de ataques por si próprios perpetrados, criando literalmente uma cortina de fumaça, tanto enganosa quanto enganadora, em lugar de arrumar a casa e seguir adiante com suas virtudes e vantagens naturais.
Criam teorias conspiratórias e farta documentação para desinformação e confusão, um velho método aprendido dos ancestrais amaldiçoados. Acreditam no inacreditável, refutando evidências tangíveis, apoiam-se em dogmas como inquisidores, julgam e condenam sem o apoio das cortes, assim se aproximando do que criticam, se afastando das reais conquistas e glórias dos criticados. Renegando o melhor de suas origens, repetem seus erros, em proporções maiores e mais duradouras.
Agronegócio - o motor do Brasil
A economia brasileira abraça seu setor mais pujante, o Agronegócio, desde as grandes corporações agropecuárias até a Agricultura Familiar. Ele não precisa nem merece ser atacado como gerador de problemas ambientais. A preservação das águas e dos solos é fundamental para a sobrevivência do setor que segura o PIB nas costas (Referências: 1; 2 e 3). Os produtores agrícolas e pecuaristas sérios não são desmatadores nem devastadores. Esses são oportunistas, aproveitadores, criminosos disfarçados de produtores rurais.
Infelizmente, o desmonte da estrutura fiscalizadora e punitiva do IBAMA e de outras entidades oficiais acaba por estimular o crime, a pretexto de obtenção de madeira de lei e de estabelecer, sem licença nem controle, campos de mineração.
Desde 1965, com a publicação da Lei 4771/65, as regras para as atividades foram estabelecidas. E com a recente e muito bem redigida Lei 12.651, de 25 de Maio de 2012, as normas para proteção da vegetação nativa em áreas de preservação permanente, reserva legal, uso restrito, exploração florestal e outros usos, relacionam as instruções estabelecidas para tanto.
Elas são apoiadas por extensos documentos contendo soluções tecnológicas além de boas práticas agrícolas que contribuirão para o alcance do desenvolvimento sustentável da propriedade rural nos diferentes biomas.
Meio Ambiente
A floresta pode e deve ser preservada como fonte geradora de renda, e o professor Edson Vidal, USP/ESALQ, um especialista em manejo florestal como negócio, aborda a mata em uma condição exploratória e geradora de emprego e renda, sem devastação e preservando fauna, flora e água. Recomendo aos interessados uma busca pelo material que ele e seus orientados produziram sobre o assunto, de alta qualidade e pouco considerado pelas autoridades de hoje.
Sistemas como o ILPF - integração lavoura-pecuária-floresta - são maneiras de compensar a geração de gases do efeito estufa, e a EMBRAPA está tão avançada nesse assunto que chama a atenção da FAO e de universidades ao redor do globo. Essas entidades estão também focadas em outras tecnologias sustentáveis, como o plantio direto, fixação de nitrogênio, recuperação de pastagens e manejo de dejetos animais.
Avanços na produção
Tecnologias como plantio direto na palha e uso de bactérias fixadoras de Nitrogênio já estão implantadas em cerca de 40 milhões de hectares (4; 5 e 6), e é bom lembrar que o Brasil, importador de alimentos durante a década de 70, é hoje um dos maiores players do mercado internacional como grande produtor.
Dados recentes mostram que o volume relativo de CO2 emitido por quantidade de alimento produzido vem caindo. Na agricultura, a produção de grãos mais que dobrou (120%) entre 2005 e 2018, enquanto as emissões aumentaram menos de 60%. A produção de carne pela pecuária de corte no mesmo período cresceu 25%, com a emissão aumentando cerca de 5% (7; 8 e 14).
Segundo as estimativas do Banco Mundial, até 2030 seremos 8,5 bilhões de pessoas, e em 2050, cerca de 10 bilhões. Precisamos de ganhos tecnológicos constantes para produzir alimentos a custos suportáveis, preservando as águas e os solos, e essa é a missão que a EMBRAPA e outros institutos e universidades abraçaram. Esse papel estratégico, referência mundial do setor, se concentra no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis ambiental, social e economicamente.
O país ocupa uma posição extremamente destacada como produtor em cerca de 30 produtos. E se engana quem pensa que Brasil é somente café, açúcar, cereais, soja, milho, oleaginosas e frutas cítricas, de fato responsáveis por grande parte da receita na balança comercial. Mesmo no meio da crise provocada pela pandemia, se destacam produtos menos visíveis, como pimenta, melancia, abacaxi, mamão papaia, coco, mandioca, caju, fumo, sisal e outras fibras (9; 10 e14).
As exportações são muito importantes para sustentar o desempenho do setor, em tempo de câmbio desvalorizado e commodities em alta. Atingiram US$ 45 bilhões em 2020 (9 e 10), e há anos elas vêm garantindo saldos positivos para a balança comercial. No ano passado, a agropecuária foi o único setor com resultado positivo, o que ajudou a minimizar os efeitos adversos da pandemia sobre a atividade e a economia do país.
O PIB agropecuário cresceu 2% sobre 2019, o da indústria caiu 3,5% e o dos serviços, 4,5%. A economia brasileira encolheu 4,1% em 2020 (9; 10 e 11).
Uma das teses é a de que o agronegócio funciona porque o Estado não está em cima dele, não consegue atrapalhar.
Problemas internos
Bem, enquanto a diplomacia pode ter causado sérios danos e atrasos ao setor, no que foi muito bem apoiada pelas ações ambientais desastradas, o uso eficiente da tecnologia e da inovação seguraram as pontas e obtiveram produção recorde e ganhos de produtividade, com diminuição da diferença entre a área plantada e a área colhida. Além disso, ambas significam também menor uso de água, menor área ocupada, maior sustentabilidade, maior preservação e melhores resultados.
O paradoxo é que o desmatamento na Amazônia cresceu 42% em abril, na comparação com o mesmo mês de 2020 (12 e 13), segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Mesmo que o volume de queimadas e desmates na África seja muito maior do que no Brasil, o ponto é que aqui ele é na maioria das vezes associado a crimes ambientais, e não está ligado ao agronegócio sério, que responde pelo avanço econômico do país.
Em um momento de crescimento nas pressões de lideranças internacionais e locais que podem afetar os mercados e criar barreiras comerciais, existe ainda a possibilidade de obter créditos financeiros com essa eficiência e preservação, títulos verdes. Mas isso é assunto para um outro artigo.
O importante é que ou aprendemos com nossos erros e abraçamos a excelente legislação existente, separando os aproveitadores dos produtores, valorizando nossas riquezas e a modernidade tecnológica de uma agropecuária realmente sustentável, ou corremos o risco de nos condenarmos a párias do comércio internacional, os vendedores da xepa.
Este artigo foi escrito por Alberto Amorim e publicado originalmente em Prensa.li.