Alda e Bette - As criaturas da floresta
Esta é uma história sobre duas garotas que moravam com seus pais, Anne e David, em uma cabana que fica no centro da floresta, eles viviam muito bem lá junto de sua mulher e suas duas filhas, Bette e Alda, sua primeira filha Alda, de 7 anos, nasceu com uma característica notável, possuía cabelos ruivos e olhos que pareciam Alda, sua outra filha tinha cabelos castanhos e olhos azuis, como o pai, a diferença de idade entre elas era de 2 anos, por morarem afastados da cidade, seu pai, por conta do trabalho, as visitava todo final de semana levando mantimentos, durante a semana ele mandava cartas para elas.
As duas jovens sempre foram muito gentis, educadas e dedicadas, sempre ajudavam a sua mãe com os afazeres da casa, obedientes, como qualquer mãe e pai gostaria que seus filhos fossem, todas as manhãs as meninas ficavam ansiosas para buscar a carta de seu amado pai, as três sempre iam pontualmente no mesmo horário às 09:00 AM. Hoje eu descobri a verdade.
Lembro-me desse dia como se tudo tivesse acontecido hoje. Era uma manhã cinzenta, quando me levantei da cama olhei a floresta por uma janela que tinha em nosso quarto, ela ficava de frente para a porta e para nossa cama, eu gostava de ver a neblina entre as árvores.
— Alda? Querida, se já estiver de pé acorde sua irmã e desçam para tomarem café — Gritou minha mãe da cozinha enquanto lavava a louça.
Minha mãe sabia quando eu estava acordada, mesmo que eu ficasse imovel e prendesse a respiração, como se fosse um sexto sentido.
— Bette, acorda!
— Não quero!! — Respondeu a sua irmã enquanto se contorcia nos lençóis.
— Se você demorar muito vai acabar perdendo a hora de ir buscar a carta.
— Sem chance! — Disse quando pulou da cama e correu em direção à cozinha.
Sempre gostei de vela empolgada todas as manhãs, quer dizer, esse é o meu truque secreto para fazer ela levantar da cama, sem contar que tudo o que se trata do nosso pai deixa ela animada, adora ouvir as histórias que nossa mãe conta sobre ele, Bette e eu o vimos apenas por uma fotografia que nossa mãe guarda em um livro de histórias, se não fosse por essa foto não saberíamos como ele era, mamãe diz que ele nos visita todos os finais de semana, mas nunca o vimos, uma vez tentamos ficar acordadas para o ver e fazer um milhão de perguntas, infelizmente acabamos adormecendo e quando acordamos estávamos em nossa cama.
Depois de um tempo fiquei cada vez menos animada para vê-lo, e Bette, ela ainda tem esperança de conversar com ele e de abraçá-lo, pode até significar que estou amadurecendo, mas, mesmo assim, acho que sempre tive essa dúvida, começo a questionar sua existência.
Após o café fomos para frente da casa, onde colocamos nossas botas, estávamos prontas para pegar a trilha.
— Não esqueçam, não saiam da trilha, pois podem se perder.
— Pode deixar, Mãe — Disse Bette, sorrindo docemente.
Enquanto nós nos afastamos da casa, nossa mãe ficou parada nos olhando, das poucas vezes que virei para olhar ela ainda estava lá, estática, até que adentramos mais afundo na floresta e a casa acabou saindo do meu campo de visão. Andamos por cerca de uma hora, durante a nossa caminhada fiquei pensativa sobre a noite que tinha passado.
Na noite passada, enquanto minha irmã dormia, me levantei para ir na cozinha e pagar uns biscoitos, desci silenciosamente para não acordar a Bette, quando peguei os biscoitos escutei umas vozes vindo de fora, fui em direção da janela que ficava acima da pia pude ver nossa mãe conversando com um homem vestido de preto.
— Eu não estou aguentando mais, essas criaturas nos acharam novamente, é impossível viver desse jeito, eles estão por toda a floresta.
— Acalme-se, minha filha, para tudo existe uma solução.
— Não! Perdoa-me Padre, mas não posso continuar com isso, eu tenho que voltar para a minha família.
— Se contenha! — Exclamou o Padre lhe dando um tapa em seu rosto — Você fez um juramento perante a Nova Ordem, você jurou diante dos Setes Pilares da Salvação, se desistir agora será executada.
— Me ajude a mantê-los longe — Respondeu minha mãe em prantos.
— Aqui, pegue estas velas — Falou o Padre lhe entregando uma sacola de pano.
— Como velas podem me ajudar?
— São velas pretas, a cera delas está misturada ao sangue de um cordeiro imaculado, enquanto elas estiverem acesas, vocês ficaram invisíveis perante as criaturas das trevas.
— Obrigada, Reverendo — Agradecia enquanto o padre se retirava com uma vela acesa.
Depois de ouvir isso volte para minha cama, estou desnorteada o que acabou de acontecer?
Estamos caminhando a meia hora, talvez eu deva contar a ela, não, melhor não contar, ela ainda é muito inocente.
— Bette, me escute com bastante atenção — Disse olhando fixamente para ela.
— Algum problema?
— Não, nenhum problema, é muito improvável que a gente se perca, mas caso isso ocorra quero que fique com esta vela e essa caixa de fósforos, eu também tenho isso, assim vamos ter uma luz para retornarmos para casa.
— Tudo bem.
Lembro que durante a nossa caminhada, depois de lhe entregar a vela acho que uns 20 metros depois uma figura apareceu em nosso caminho, um homem fino e comprido que estava acompanhado de sua maleta e seu guarda-chuva, sua pele parecia acinzentada e gélida, com um sorriso de orelha a orelha ele disse:
— Olá meninas, o que fazem sozinhas aqui na floresta?
Continua…
Este artigo foi escrito por Geovandro Richard e publicado originalmente em Prensa.li.