Além da Verdade e o Nazismo
“Verdade é aquilo que deve ser dito,
Retidão é o que deve ser praticado,
Paz é o que deve preencher a mente,
Amor é o que deve se expandir dentro de nós e
Não violência é o que devemos ser plenamente.”(Sathya Sai Baba)
Tem um rapaz em um grupo do Facebook que descobriu – sua teoria – da Além da Verdade, ou seja, segundo ele, existem conhecimentos seguros com a ciência que podemos usar para descobrir o caminho (methodós) para a Verdade maior. Seria um platonismo pós-moderno. Segundo Platão – viveu trezentos anos antes de Cristo – indo ao encontro do seu mestre, Sócrates de Atenas, só com o conhecimento chegaremos na verdade. Mas, não seria qualquer verdade, muitos acham que Platão estava falando dos reais motivos de se conhecer e no último estágio, conhecer o motivo da Criação.
Ao mesmo tempo, mesmo o próprio Platão diz que, nem sempre poderemos enxergar essa verdade e achar que aquilo que se pesquisou, em última instancia, são apenas hipóteses. Muitas pesquisas comprovaram que a lei da gravidade existe, mas, não se sabe, ao certo, como se origina e como funciona. Do mesmo modo, existem coisas que tem vida e são conscientes – como nós – e por outro lado, existem coisas que não tem vida e são objetos da realidade. Por que existe as coisas e não o nada? É uma pergunta que a filosofia e a religião vêm se perguntando a séculos sem ao menos, ter respondido a estas indagações.
A questão é: existe uma Além da Verdade? Se pensarmos que existem coisas que ainda não sabemos, então, existem muitas perguntas do que respostas. Mas, existem teorias que colaboram com duas táticas do poder: o medo, como forma de dominação, e o meio de se proteger desse medo. Desde o começo do século vinte – com uma “roupagem” cientifica – se começou ter teorias que colaboravam, muitas vezes, com o preconceito e com a mania do ser humano de querer ter certezas. A eugenia foi uma delas. O nome era alemão, mas, ela foi muito difundida dentro dos Estados Unidos (por causa dos negros e latino-americanos) onde crimes e delinquências, a teoria dizia ter "fatores genéticos".
O século vinte serviu para mostrar, que parte da filosofia iluminista – que tomou a Europa até o século dezoito, mais ou menos – estava errada, porque o problema não era a religião e a ignorância e sim, o que fazemos com o conhecimento. O conceito de conhecimento esta erado, pois, além de ser o ato de conhecer – parece obvio – mas, é o ato de perceber ou compreender por meio da razão ou da experiencia. Foi a razão que fez Stálin – ditador soviético – que fez ele racionar comida e matar milhares de fome. Foi a razão que fez os EUA jogar as bombas atômicas no Japão. E é a razão que fazem os britânicos fazerem abortos de crianças com síndrome de Down e fazem norte-americanos operarem mulheres com deficiência para não terem filhos.
A questão não é defender a crença (sentimento de fé), mas, defender que acima de qualquer coisa, existem interesse. Por mais que achamos que buscamos um conhecimento para a felicidade, no meio do caminho, há interesse. Nesse interim – como tudo que envolve o poder – o nazismo se apropriou de todas as teorias da conspiração da época: para dar um motivo de o povo alemão sentir medo (como a dominação sionista ou algo do tipo) e assim, dar dignidade e proteção ao povo alemão ultrajado e humilhado pelo Tratado de Versalhes. Culpa de quem se teve isso para os nazistas? Dos judeus. Não só, mas, todas as pessoas fracas que não deram a vitória digna. Usaram o medo das pessoas.
Ora, usaram conhecimento religioso? Talvez, mas, justificaram com o conhecimento científico. Daí temos consequências até hoje com esse fato, um deles é o rapaz que falou um monte de coisas contra negros, contra homossexuais, contra tudo que ele tem medo. Como milhares de pessoas atacam pessoas com deficiência nas redes dizendo que deveríamos ser trancados em APAEs. O próprio governos e escolas querem que voltemos para classes especiais. E a questão volta ao rapaz do grupo: existe um “além da verdade”? Será que argumentos científicos são a verdade?
Ora, as pessoas têm que entender que o conhecimento filosófico é o tipo de conhecimento baseado na reflexão e construção de um conceito de ideias, a partir do uso do raciocínio logico em busca do saber. Mas, a meu ver, o filósofo francês Gilles Deleuze tem uma ótima definição. Diz ele que filosofar é criar conceitos para explicar aquilo que você chama de problema, e esses conceitos, muitas vezes, nem existem. Ou seja, um filósofo cria. Ele modela suas próprias ferramentas dentro das circunstâncias. Talvez, por isso mesmo, o filósofo espanhol Ortega y Gasset, disse que somos as circunstâncias. Assim, com essas ferramentas um dia, poderíamos chegar a verdade? O “além da verdade” já existe e é a metafisica.
Este artigo foi escrito por Amauri Nolasco Sanches Junior e publicado originalmente em Prensa.li.