Por trás de All too Well, a melhor composição de Taylor Swift
A aceitação da música pelos fãs e pela crítica foi tão grande que a revista Rolling Stone elegeu a canção como uma "obra-prima da forma de balada de separação".
"É repleto de momentos matadores: a maneira como ela canta 'geladeira', a maneira como ela cuspiu as consoantes de 'pedaço de papel amassado', a maneira como ela mastiga três 'tudo em uma linha'", escreveu Rob Sheffield sobre a faixa.
"Nenhuma outra música faz um trabalho tão estelar de exibir sua habilidade de transformar um pequeno detalhe trivial em uma lendária dor de cabeça."
A Slant Magazine a chamou de "indiscutivelmente a melhor música de todo o catálogo de Swift" (assim como Music Junkee).
A maior “canetada” da carreira
A faixa de 5 minutos se tornou um ícone para os sofredores de plantão e, desde que Taylor disse que existe uma versão de 10 minutos da canção e deixou trechos da letra nos diários de Lover, nenhum fã deixou de acreditar no Folklore de que essa música seria lançada algum dia.
Em junho desse ano, Taylor anunciou o relançamento do álbum RED, a tracklist já conhecida e algumas músicas descartadas foram incluídas como um agrado.
E adivinhe qual música entrou nessa nova versão de RED? All too Well (10 Minutes Version).
RED é considerado o primeiro álbum de Taylor Swift que olhou para o amor com um olhar verdadeiramente crítico, maduro, quase cínico. Ao contrário de seus álbuns anteriores, que eram focados muito em contos de fadas românticos e castos.
Isso não quer dizer que seus álbuns anteriores não tenham sido incrivelmente bem escritos, mas RED está em um nível totalmente diferente. As composições entregam que a idade e a experiência só melhoraram a qualidade da compositora.
A mais pura destilação deste desenvolvimento artístico pode ser ouvida em “All Too Well”.
De certa forma, a música é um favorito incomum, a canção nunca foi um single e nunca teve sequer um videoclipe.
É longa, especialmente para uma música pop e subverte a estrutura tradicional da música "verso-pré-refrão-refrão" de uma forma bastante interessante.
Mas então por que essa versão de 10 minutos é tão desejada na era das músicas curtas? Vou te explicar.
O cachecol esquecido
Foto: KEVIN WINTER/WIREIMAGE.COM
“I left my scarf there at your sister’s house, and you’ve still got it, in your drawer, even now.”
(Eu deixei o meu cachecol lá na casa da sua irmã, e você ainda o tem na sua gaveta, mesmo agora.)
Taylor Swift conduz o ouvinte pela história dessa relação condenada por meio de vinhetas evocativas e versos curtos e detalhados.
Talvez o elemento mais significativo dessa música seja o infame cachecol vermelho, esquecido em alguma gaveta da casa de Maggie Gyllenhaal, irmã de Jake Gyllenhaal, a grande inspiração para a canção.
Taylor estabelece a localização do acessório no primeiro verso, e é a primeira indicação que recebemos como ouvintes de que esse relacionamento acabou.
Ela então nos mostra os flashbacks: no carro, dançando na cozinha sob a luz da geladeira, conversando com a mãe de seu amante e, então, de forma devastadora, crucial, encerra o destino do cachecol.
Ela diz que a peça foi mantida pelo seu ex em uma tentativa de segurar a inocência perdida dela.
Uma das coisas mais difíceis de dominar como compositor é esse tipo de narrativa concisa. A tarefa do letrista é transmitir o máximo de informações e detalhes evocativos possíveis, dentro de um verso ou refrão econômico e cativante.
O que é notável sobre "All too well" é a natureza vívida das imagens, quantos detalhes Taylor conseguiu encaixar em seus versos expositivos e como a história está bem encerrada no final da música.
“Wind in my hair, you were there, you remember it all/down the stairs, you were there, you remember it all”
("Vento em meu cabelo, você estava lá, você se lembra de tudo / descendo as escadas, você estava lá você lembra de tudo”)
É nesse trecho que podemos sentir a crueldade de uma memória. A maneira como esses momentos dolorosos duram horas no meio de uma noite sem dormir ou piscam por segundos, mesmo em um dia bom.
No final, Taylor muda da linha "Eu me lembro" para a acusatória "você se lembra disso", uma mudança simples e eficaz para deixar claro quem foi o culpado pelo fim desse relacionamento.
Sentimentos são vermelhos
“You called me up again just to break me like a promise/so casually cruel in the name of being honest”
(Você me liga de novo só pra me quebrar como uma promessa, tão casualmente cruel em nome da honestidade)
Talvez o verso mais citado e universalmente adorado em "All Too Well" seja este da primeira seção da ponte da música, e por um bom motivo.
Taylor vai expondo lentamente os melhores momentos do relacionamento antes de quebrar tudo.
O grande diferencial desse trecho é a mudança repentina no tom de voz de Taylor que, antes era baixo e sofrido.
Agora a cantora praticamente grita a letra de forma dramática, as melodias vocais soam como o sentimento por trás das palavras cantadas.
Para aqueles que entendem de música, pela primeira e única vez na canção, Taylor canta uma oitava inteira acima do “dó” médio.
É a nota mais alta da música, uma seção aguda no alcance vocal, e parece caótico, quase histérico.
Se eu pudesse traduzir essa linha melódica, diria que ela seria como escutar um amigo falando sobre um rompimento e, depois de ter mantido a compostura durante a história, ele desaba, sua voz fica cada vez mais cheia de emoção e mágoa.
Todos podem se identificar com o desgosto descrito: a confusão, a dor não adulterada, as perguntas e acusações.
"All too well" captura todos os sentimentos conflitantes que acompanham um rompimento. É um exemplo magistral do tipo de escrita que torna a música de Taylor Swift tão universalmente popular. Sua capacidade de escrever músicas que tocam praticamente todos que a ouvem é incomparável.
Entregando aquilo que foi pedido
Capa do curta de “All Too Well” com Dylan O’Brien e Sadie Sink
Depois dessa explicação, deu para entender o porquê “All too Well” é tão grandiosa para a crítica e seus adoradores.
E como todos sabem, Taylor Swift nunca dá um “ponto sem nó”. Ela não apenas está relançando o álbum e a canção, como também um curta-metragem para a música será lançado no dia 12 de novembro.
O vídeo foi escrito e dirigido por Swift e é estrelado pelos atores Sadie Sink e Dylan O’Brien ao lado de Taylor.
Uma canção de 10 minutos impactará mais ou menos?
O lançamento iminente da nova versão apresenta inúmeras hipóteses interessantes, vai expandir a narrativa das letras ou vai parecer “de mais” em comparação com a versão original?
Será que adicionará mais camadas, retornos de chamada e complexidades da música, ou o público será capaz de identificar por que e como ela foi editada para a versão 5 minutos?
Ela seguirá a mesma estrutura da versão mais original ou haverá uma progressão ou seção de acordes inteiramente nova que surge do nada?
Seja qual for o resultado, “All Too Well” é uma música do tipo que só acontece uma vez na vida, escrita por uma artista em um ponto crítico de sua carreira.