Amor aos haters
As redes sociais democratizaram a busca pela fama. Extinguindo a necessidade de diversos diplomas e até mesmo de talento. Somando-se a isso, há a ilusão de dinheiro fácil.
O resultado é um número recorde de maratonistas na corrida pela fama, onde vale tudo, até mesmo dopping de infâmia. O clichê “falem mal, mas falem de mim” parece ser a peça chave para aumentar a visibilidade, ou até mesmo ser relembrado.
Quem nunca viu um artista totalmente esquecido ter alguma atitude bizarra, e ganhando seus 15 minutos de atenção, com uma possível conversão em monetização? Conquistar hater é muito mais fácil que conseguir (e preservar) fãs.
Um textão com pitadas de falsa moralidade, xingamentos, dá muito mais engajamento do que uma declaração de amor Shakespeariana. Não se engane: se a bola da vez é o machismo estrutural, e uma cantora pop está “usando mais a raba” do que o microfone, declarando paralelamente que “somos muito mais que um corpo”, ela quer que essa contradição seja notada e comentada à exaustão.
Enquanto você assiste ao vídeo, uma resposta lacradora ao seu discurso de ódio já está salva, prontinha para ser publicada. Réplica, tréplica, conclusão, próxima polêmica e próximo single lançado.
O mesmo vale para o racismo, assédio, e diversos outros temas em pauta que deveriam ser discutidos seriamente.Tudo pode ser usado como matéria-prima de sucesso.
Comentário de hater é garantia do caviar nosso de cada dia.
Este artigo foi escrito por Flavia Bastione e publicado originalmente em Prensa.li.