Análise do filme - Ataque dos Cães
Talvez ele fale da semente mais primordial, tanto da tal masculinidade tóxica quanto de qualquer sofrimento relacionado aos esteriótipos agregados ao sexo biológico de cada indivíduo, idiossincrasia contrária à nossa natureza selvagem. (livra a minha vida do ataque dos cães).
Um homem pode criar uma rosa de papéis ou uma corda? Isso define a sua masculinidade?
A racionalidade aparece no roteiro amarrada ao fenótipo que cada um é obrigado a transparecer, mas há uma imensa discrepância entre o que vemos na imagem de cada personagem e o que a sutileza do roteiro exibe em doses de sensibilidade em tais corpos classificados como rudes e vice versa.
Phil e George são uma contradição e representam tal discrepância. Rose é indefesa? Seu filho é cruel? Homossexualidade é o centro do filme? Não vou responder, são retóricas.
Dotados realmente de racionalidade, necessitaríamos gastar tanto de nosso tempo em defesas e ataques de comportamentos que não afetam em nada o andamento da vida alheia?
Estou tentando tornear o sentido dos termos "defesa e ataque como algo mais sutil do que a deflagração de uma guerra bélica, mas falo de uma guerra moral na qual a noção de pecado é a espada em si, que intenciona extirpar de nossos comportamentos tudo que se assemelha à nossa natureza livre e animal.
Não li sobre muitas coisas para escrever as minhas impressões. Eu senti a opressão de cada personagem e seus gestos medidos na intenção de construir uma personalidade condizente com o que se fala, com o que se veste, com a forma com que se alimenta, com o próprio cheiro, com a simbologia das prórias criações.
Me lembrou roteiros antigos como de Tenesse Willians, Frank Kapra, Michelangelo Antonioni e isso me promoveu um deleite que raramente tenho usufruído em outros roteiros.
Me lembrou escritas por fluxo de consciência como de Virgínia Wolf, O pecado de todos nós com Marlon Brando e muitos outros roteiros que considero límpidos, uma narrativa que dispensa conclusões.
Um prazer de assistir o caminho de uma história sem se importar com a chegada e principalmente, a intenção de instigar múltiplas simbologias e interpretações.
FICHA:
Direção: Jane Campion
Roteiro Jane Campion, Thomas Savage
Elenco: Benedict Cumberbatch, Kirsten Dunst, Jesse Plemons
Título original: The Power of the Dog
Este artigo foi escrito por Erika Pessanha e publicado originalmente em Prensa.li.