And Just Like That: o valor da volta de Sex and The City
O sol brilha mais bonito porque elas estão de volta (Imagem: Divulgação/HBO Max)
Durante os últimos anos pandêmicos, me coloquei em uma missão: assistir a todas as temporadas de Sex and The City. Sendo alguém que nasceu no final da década de 90, não fui capaz de acompanhar de perto as aventuras das quatro amigas se divertindo em Nova York.
Apesar de já ter construído um amor pelo grupo assistindo aos filmes, faltava construir uma relação mais estreita.
Ainda que sejam mantidas as devidas proporções, Sex and The City comete seus deslizes. Em um episódio Carrie (Sarah Jessica Parker) chega a afirmar que não seria recomendado namorar um homem que tinha dislexia (ainda tento entender o porquê).
Quando a HBO anunciou And Just Like That tive medo por conta desses (muitos) tropeços. Imaginei que a trupe de Carrie poderia ficar desmoralizada no olhar público. A minha grande surpresa foi perceber que, na verdade, And Just Like That foi uma continuação muito necessária.
O que é estar velha
Os principais dilemas de And Just Like That estão ligados ao envelhecimento das personagens. Carrie, Miranda (Cynthia Nixon) e Charlotte (Kristin Davis) não são mais tão novas como antes. É preciso lidar com problemas como menopausa, dores no corpo e maridos que usam aparelhos auditivos.
Para alguém ainda na juventude, os episódios fazem refletir sobre o que de fato é envelhecer. É possível chegar aos 50 e ainda ter dúvidas sobre a vida? Dá para não encher a cara de botox?
As personagens mostram que sim, é provável que continuemos cheios de questionamentos. Alguma idade traz experiência mas isso não significa que as dúvidas irão sumir. Não são as mesmas da juventude, são diferentes. Só que não desaparecem.
E sim, dá para não encher a cara de botox. Mas não tem nenhum problema se quiser.
Carrie e as amigas continuam a ditar tendências (Imagem: Divulgação/HBO Max)
Com sua dose de glamour, And Just Like That deixa claro que chegar aos 50 é como viver todas as fases da vida. Vai ser difícil ao mesmo tempo que pode ser lindo.
Ainda que ser a Carrie de 50 anos em Nova York seja mais fácil que ter qualquer idade no Brasil, a série mostra que envelhecer é um aspecto. Esse aspecto não determina o que pensamos, fazemos ou queremos.
Em uma sociedade que valoriza a juventude a qualquer custo, é importante ver mulheres envelhecendo. É preciso falar o óbvio: isso acontece com todo mundo.
Nunca é tarde para mudar
A jornada de Miranda é a mais cheia de altos e baixos. And Just Like That leva a personagem para um caminho de descobrimento de sua sexualidade.
Miranda sempre foi a mais pragmática entre as amigas. A trama a leva a se desfazer de certas amarras para descobrir o melhor para sua felicidade.
Com Miranda, a série da HBO mostra que podemos mudar de ideia, em qualquer idade.
Podemos nunca conseguir entender tudo o que gostamos ou queremos. Recalcular a rota é normal e possível.
O julgamento virá. Para Miranda veio no formato de uma Charlotte chocada com as mudanças. Mas isso não é o suficiente para impedir que elas aconteçam.
And Just Like That diz com todas as letras que mulheres aos 50 se apaixonam, fazem sexo e descobrem coisas novas.
Miranda (Cynthia Nixon) e Che (Sara Ramírez) vivem uma aproximação intensa em And Just Like That. (Imagem: Divulgação/HBO Max)
É possível divorciar mas também é possível manter um casamento feliz. Não existe uma cartilha a ser seguida e isso pode ser assustador.
A narrativa de Miranda prova que aos 50 anos ainda temos medo. Ela precisa enfrentar situações que nunca imaginou viver. O novo continua se apresentando para ela.
Nas cenas, fica claro que as personagens não acreditam que a vida delas está em declínio. Na verdade, talvez esteja só começando.
E a Samantha?
Porém, tudo o que a leva de novos episódios proporciona seria muito melhor com a presença de Samantha.
Talvez um dos poucos pontos baixos de And Just Like That, a falta de Kim Cattral em cena deixa um buraco. É impossível não imaginar o que a espirituosa Samantha diria em diferentes situações (e como tudo ficaria melhor).
Samantha faz muita falta durante o revival. (Imagem: Divulgação/HBO)
Para justificar seu sumiço, a personagem se muda para Londres e se afasta das amigas por conta de desentendimentos. A saída encontrada pelos produtores para justificar sua ausência é frustrante para os fãs, mas representa um lado marcante da vida adulta.
Pessoas que amamos mudam, se distanciam, morrem. É um ciclo que faz parte de crescer e envelhecer. Com a saída de Samantha, And Just Like That mostra que muitas relações não duram a vida toda. Porém, outras irão surgir e talvez suprir as antigas.
Novas personagens como Che (Sara Ramírez), Lisa (Nicole Ari Parker), Seema (Sarita Choudhury) e Nya (Karen Pittman) constroem pontes com o grupo original, abrindo as portas para novos vínculos.
Nova York é para todes
E os novos vínculos chegam carregados de um elemento que faltava em Sex and The City: diversidade.
And Just Like That busca suprir os erros da série clássica, que mostrava uma Nova York branca e pouco diversa. Aqui a narrativa abre espaço para personagens de etnias e sexualidades diferentes.
Karen Pittman vive Nya nos episódios de And Just Like That (Imagem: Divulgação/HBO Max)
Che Diaz, personagem não binário, ganha bastante destaque na trama. É possível perceber que a HBO fez seu dever de casa, ao entender que a série precisava se atualizar aos tempos atuais.
O destaque para essas temáticas traz os dilemas de Carrie para o presente. Além disso, aponta que essas mudanças já estão em curso e são inevitáveis. Usar a idade como desculpa para ser preconceituoso não é uma opção.
A diversidade traz um frescor aos episódios e mostra que mudanças são bem vindas. Para Carrie, Charlotte e Miranda a impressão é que Nova York cresceu. E ficou mais bonita.
Este artigo foi escrito por Inês Alves e publicado originalmente em Prensa.li.