Aquela vez que fomos em um restaurante premiado
Arrependimento não mata, mas as vezes dá vontade de morrer. Foi nesse espírito pouco heroico que entrei no uber e arredondei o prejuízo para uma soma ainda mais vergonhosa. Toda derrota tem uma história e essa é sobre a vez em que o menu do dia envolvia um convite, amigos e suor de porco em uma caneca. Descobri que degustação e desolação tem mais em comum do que jamais podia imaginar.
Tudo começou com “oportunidade” de fazer reserva em um restaurante que, de tão concorrido, era preciso guardar lugar um mês antes. O negócio é que o requinte atrai para depois castigar, seja o bolso ou a consciência. A entrada anunciava que a inadequação nos acompanharia por toda noite. Do alto da mesa cinco era possível perceber que a mais versátil e ordinária das indumentárias (camiseta e calça jeans) se fazia rara. A regra é clara, se o seu carro é o melhor ou pior da rua, você está no lugar errado.
Não eram apenas as vestimentas a denunciar tamanha ignorância, os pratos faziam este incauto se perguntar se estava escolhendo a refeição, fazendo feira ou lendo um manifesto literário. Na sequência, vieram pequenas porções que, ora eram diminutas demais para saciar, ora grandes em demasia para serem deixadas de lado. E aqui aproveito este nobre espaço para confessar: comi porque tive medo do acinte gastrônomico de mandar de volta e pelo mesquinho pensamento de “eu paguei por isso”.
A bem da verdade, o prato principal era bom, bem servido, gostoso e, ao contrário das algumas das outras iguarias, tinha boa aparência. Esse momento em especial teve um quê de realidade já que como tudo que é bom na vida, durou pouco e teve que ser dividido com quem não fez por merecer.
A sobremesa coroou a expectativa como mãe da desilusão. O sorbet de limão e a pamonha na casquinha (!?) não eram capazes de subir 0,001% de glicose no sangue, prova de que comida boa e, em quantidade adequada, faz mal. Por fim, veio a conta que me lembrou que nem toda ressaca é causada pelo álcool, a minha seria financeira mesmo.
A verdade é que cada estrela Michelin representa uma centena de visitantes frustrados. Gente que, no caminho de volta, olha pela janela do carro como quem pensa “devia ter ficado em casa, chamado os exatos mesmos amigos e pedido uma pizza”.
Imagem de capa - Davey Gravy on Unsplash - Fome depois de 10 minutos
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Este artigo foi escrito por Daniel Manzano e publicado originalmente em Prensa.li.