As fases da produção de um roteiro
Por mais que seja subestimado, é muito difícil um filme ser feito sem roteiro. Os roteiristas não recebem o mesmo crédito e glamour que outras áreas que da produção de um filme, porém, sem eles, a história não aconteceria.
Mas quais são os elementos básicos para se criar um roteiro?
A verdade é que não existe uma regra absoluta do que deve ser seguido, ou uma ordem certa do que escrever, mas eis aqui elementos básicos que podem ajudar na criação de um roteiro para que ele atinja seu objetivo com mais facilidade.
Você precisa de um objetivo.
Toda narrativa precisa de um objetivo a ser alcançado pelo personagem principal. Afinal, a história vai ser sobre ele. Então, é preciso definir qual o seu propósito. O nome disso é plot. Ele servirá de norte para a história não se perder.
Quando se questiona qual é o plot do roteiro, se está perguntando qual o objetivo do personagem principal. Ele é o guia para a história toda. E o plot é composto por apenas uma linha. É direto e reto.
Ilustrando isso com um exemplo, temos o filme Vingadores: Guerra Infinita cujo plot é derrotar o Thanos. Simples assim, o plot é objetivo, com poucas palavras e certeiro.
A primeira linha.
Por mais que se pense que a história está certa na cabeça, às vezes as ideias podem se confundir. Por isso, é sempre bom começar gradativamente. Então, após a decisão do plot, é necessário criar a forma inicial da história através da story line.
A story line é o menor resumo da sua narrativa, composto por uma linha ou uma linha e meia, onde é colocada, basicamente, a alma do roteiro, aquilo que realmente é a história.
Se fosse para criar uma story line, usando o mesmo exemplo dos Vingadores, poderia se dizer da seguinte forma:
Um grupo de super-heróis se reúne para derrotar um tirano que ameaça destruir metade do universo.
Seu protagonista.
É interessante se pensar em quem vai ser seu personagem principal de forma mais profunda, pois essa figura carregará praticamente toda a história.
Uma boa maneira de criar um personagem mais profundo e dinâmico é criar seu espelho. Esse documento também irá ajudar o ator ou a atriz que irá interpretar o personagem a entender melhor quais são suas características.
O espelho é composto por três estágios: físico, pessoal ou social e psicológico.
O estágio físico é aquilo que está relacionado à aparência do personagem, aquilo que se vê logo de cara ou a se mostrar depois na parte física, como cor da pele, altura, tipo de corpo, roupas, se possui piercings ou tatuagens à vista, altura, cicatrizes, entre outras coisas.
O pessoal ou social é sobre seus comportamentos e aspirações, como vontades, sonhos, profissão, gostos pessoais, projeções para o futuro, perspectivas.
Já o estágio psicológico é mais profundo. Ele irá sempre causar uma reação de afastamento ou aproximação, dependendo de qual é o conteúdo daquela situação. É formado por traumas, desejos íntimos, problemas psicológicos, segredos.
Ganhando mais forma.
A sinopse normalmente é o primeiro documento a dar mais forma para se compor um roteiro. Ela não é igual à sinopse que se via atrás de capas de DVD ou nos sites de avaliação de filmes. Na verdade, ela configura um resumo com todo o enredo, do começo até o fim.
Sem conter falas e diálogos, a sinopse possui uma ou duas páginas, descrevendo as principais ações da narrativa, na ordem em que serão colocadas no roteiro, ajudando a compreensão do roteirista sobre o enredo e colocando as ideias no lugar.
A importância da sinopse está na hora de se escrever o roteiro em si, já que, após ser feita, ajuda o roteirista a não se perder nas ideias no momento de escrever sua história, sendo um resumo do que gostaria que estivesse presente nela.
O argumento.
O argumento é o documento mais completo sobre a história depois do roteiro. É necessário que o roteiro já esteja propriamente produzido para que se obtenha um bom argumento, porém ele é entregue às produtoras, aos editais e aos festivais antes do roteiro.
Ele é um documento de 15 páginas, que, assim como a sinopse, não terá as falas e as descrições de cena, mas será mais completo, contendo o início, desenvolvimento e o fim da história e contando objetivamente, mas de forma interessante, sobre o que narrativa trata, sem entregar todos os detalhes.
Primeiro tratamento.
Então, chega a hora de escrever o roteiro. Ele, provavelmente, não terá sua versão final oficializada logo de cara em sua primeira escrita. Por isso, eles são primeiro denominados tratamentos e vão sendo colocados como primeiro tratamento, segundo, terceiro e quantos forem necessários.
Para ser um roteiro próprio de cinema com uma história em linearidade, existe uma ordem para as coisas acontecerem e uma formatação a ser seguida. O formato adotado para longas e curtas metragens e, atualmente, também para séries de televisão e streaming é a formatação Master Scene.
As narrativas mais comuns no mercado seguem a estrutura linear, que são as que constroem a história de acordo com a ordem de começo, meio e fim, cronologicamente, sem interrupções ou mudanças drásticas. Mas também existe a narrativa não linear, que aborda a quebra da cronologia tanto dos acontecimentos temporais, como mentais.
A estrutura narrativa linear é composta por algumas etapas. A primeira delas é a apresentação de personagens, onde se conhecem as primeiras relações e as vivências do personagem que o levaram à vida que tem no começo da história.
A seguir, é apresentado o primeiro ponto de giro, que é o acontecimento que muda a dinâmica do protagonista, fazendo com que ele precise correr atrás do seu objetivo. Mas, com o tempo, essa primeira virada se torna a nova realidade do personagem, fazendo com que a terceira parte se considere necessária, que é o segundo ponto de giro.
Então, quando a narrativa vai se encaminhando para o final, é colocado o pré-clímax e o clímax. O clímax é o momento de maior expectativa do público, aquilo que a audiência mais está esperando que aconteça. O pré-clímax é que consiste em uma repescagem emocional para intensificar o momento do clímax, não sendo obrigatória sua utilização dentro da escrita do roteiro.
Por fim, temos os dois momentos finais, que são a resolução e a conclusão ou não do plot. A resolução pode ser de patamar positivo, onde o personagem se encontra em um lugar melhor do que estava no começo da narrativa, neutro, onde ele permanece no mesmo lugar e negativo, onde ele fica pior do que estava.
O plot, como mencionado no começo, é o objetivo do personagem. Ele se encontra no final da estrutura narrativa linear, mas precisa ser pensado primeiro justamente para que todo o resto dessa estrutura possa seguir um caminho correto.
O mais importante disso tudo é que podem existir muitos tratamentos antes do que será utilizado para gravações, fazendo com que toda história possa ser modificada e escrita de maneiras distintas, sendo esses passos existentes apenas para facilitar a criação e para padronizar os documentos na hora de produzir ou apresentar para editais e festivais.
Este artigo foi escrito por Giovana Ribeiro e publicado originalmente em Prensa.li.