As idades do Rock
Sempre que se fala em Rolling Stones é aquele papo chato de velhice, de aposentadoria, de “vovô”, e blah, blah, blah. Vou me alongar um pouco a respeito. Vamos lá.
A música pop – e o rock, em especial – como fenômeno de massa é algo recente, surgiu há 60 anos, com os pioneiros Bill Halley, Bud Holly, Chuck Berry e, em maior grau, Elvis. Rock sempre foi visto como coisa de jovens rebeldes. Ocorre que os anos também passam para os popstars. E agora estamos assistindo ao surgimento das rugas e cabelos brancos nos ídolos outrora jovens.
E creio que muita gente não aceita isso. Muitos acham que, se você ficou velho, então que mude de atividade. Vá tocar jazz, blues, fazer qualquer coisa, mas pare de fazer rock and roll, que isso é coisa de gente jovem. Pura bobagem.
Eu tive o privilégio de assistir ao concerto dos Stones em 1995. Foi um dos melhores shows que vi em minha vida – e olhe que já vi muita coisa. Mick Jagger ainda é imbatível como frontman. O cara domina o palco como poucos. Tem carisma, presença de cena, boa voz, simpatia e, acima de tudo, empatia com o público. Keith Richards e Ronnie Wood, arrancando riffs empolgantes, Charlie Watts, discreto e impecável na bateria.
Seu repertório é tão rico e extenso que eles podem fazer N shows sem o mesmo setlist. Há músicas para animar estádios (“Start Me Up”), blues intimistas (“Love In Vain”, numa interpretação que Robert Johnson com certeza aprovaria), músicas românticas, quase piegas (“Angie”), pitadas de disco music (“Miss You”), reggae (“Cherry Oh Baby”) etc. etc.
A emoção e alegria que proporcionam a quem assiste seus shows é algo muito especial. Fazem shows quase sempre lotados em todos os cantos do mundo. Sempre que Mick dá um espirro sai uma nota no jornal. Portanto, como alguém pode ter a coragem de dizer que os Stones são coisa do passado? O pop pode – e deve – abrigar músicos de todas as faixas etárias. É saudável. E mais divertido.
Noção de velhice
Há três ou quatro décadas, alguém com mais de 40 já estava a meio caminho da velhice. Hoje, apesar dos muitos problemas que vivemos, esse conceito caiu por terra. Veja quantas mulheres bacanas estão por aí, interessantes, cheias de vida, na casa dos 40, 50 e até mesmo dos 60? Veja Catherine Deneuve, Vera Fischer, Christiane Torloni, Michelle Pfeiffer, Julianne Moore...Veja profissionais da moda como Glorinha Kalil, superelegantes, finas, inteligentes. E, do lado masculino, coroas como Antonio Fagundes, Richard Gere e outros continuam aí, provocando suspiros na mulherada.
OK, estamos falando de música. Veja o U2, seu último álbum não é um dos melhores da banda, mas tem várias canções de qualidade. E, outra coisa, nenhuma banda – nem ninguém - tem obrigação de ser perfeita.
Velho, em minha opinião, é alguém que perdeu o trem da história. Quem vive do passado e não tem conexão com o mundo em que vive. Que perde a noção do ridículo, tipo aqueles coroas que pintam o cabelo de acaju ou mulheres que entopem a cabeleira de laquê. Guardadas as devidas proporções, tem gente com menos de 30 que já é assim. Não sou melhor que ninguém, nem pretendo ser. Mas volta e meia me deparo com gente bem mais jovem que parece bem mais velha. Que tem atitude de gente velha. Isso é envelhecer. E mal.
O tempo é justo e passa para todos. O segredo é saber lidar bem com ele.
Este artigo foi escrito por Alessandro Pinesso e publicado originalmente em Prensa.li.