As livrarias estão acabando?
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Entenda o cenário atual das livrarias no Brasil
Você já deve ter ouvido falar que as livrarias estão fechando, ou mesmo que a Saraiva (famosa editora e rede de livrarias brasileira) está falindo. Pois bem, neste artigo vou te explicar o que está acontecendo com as livrarias, se elas vão acabar de uma vez por todas e se tem alguma solução para esse problemão na indústria dos livros.
O hábito de ler: onde tudo começa
Os brasileiros, no geral, não são conhecidos pelo seu hábito de ler. Lemos em média cinco livros por ano, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2019. Outra pesquisa do Instituto Pró Livro aponta que de 2015 para 2019, a porcentagem de leitores no Brasil caiu de 56% para 52%, sendo as maiores quedas de percentual de leitores observadas entre os mais ricos (classe A), que foram de 76% para 67% nesse mesmo período.
Dentre os motivos citados pelos entrevistados que deixaram de ler, os mais frequentes são a falta de tempo, as dificuldades de leitura (não saber ler, falta de concentração ou entendimento do texto), o aumento no preço dos livros, a falta de bibliotecas por perto e o aumento do uso das redes sociais no tempo livre.
As pessoas estão lendo menos no Brasil, por diversos motivos. E as livrarias não ficam nada bem diante desse cenário, pois com menos menos demanda por livros, menos lucro elas obtêm.
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Por que os livros estão mais caros?
Como vimos anteriormente, no Brasil a demanda por livros é baixa. Prova disso é o número de tiragem (quantidade de exemplares produzidos por livro). Enquanto na França, a média de tiragem é de 10 mil exemplares por obra, no Brasil produzimos em média 3 mil exemplares. Isso acontece porque o mercado é pequeno e vende-se poucos livros aqui.
Já os editores fixam os preços baseados na baixa tiragem dos livros. Então mesmo os best-sellers que vendem muito e têm maior tiragem, acabam tendo os mesmos preços salgados dos outros livros que vendem menos.
Outro fator determinante no aumento do preço dos livros é a crise econômica advinda da pandemia. As livrarias já sofreram uma queda de 70% nas vendas desde o começo da pandemia. E com a queda nas vendas, o custo de produção dos livros tende a aumentar. Logo, é um problema em cadeia. Quanto menos as pessoas leem, mais caros ficam os livros. E quanto mais alto é o preço, menos as pessoas querem comprar.
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O crescimento dos eBooks
Os eBooks são uma verdadeira revolução na vida dos leitores atualmente. Nada de carregar peso na mochila ou lotar a casa com livros enchendo de poeira. Agora, você pode ter infinitos livros em um único dispositivo.
De acordo com a pesquisa Nielsen divulgada pela Câmara Brasileira do Livro, o número de livros eletrônicos vendidos no Brasil cresceu 83% enquanto a venda de livros tradicionais caiu em 18% em 2020. Um dos motivos do aumento das vendas dos livros digitais, é o fato de serem 40% mais baratos que os livros impressos.
Além disso, as restrições decorrentes da pandemia do Covid-19, influenciaram num aumento de 41% das vendas online em 2020, enquanto 20% das lojas físicas fecharam, segundo o levantamento da Ebit/Nielsen.
Vendendo 70% menos, os preços nas alturas e perdendo em parte para o mercado dos e-books, é fácil concluir que as livrarias vão acabar. Ou ao menos diminuir.
Ir até o espaço físico da livraria para comprar livros mais caros, enquanto se pode comprar por mais barato sem sair de casa... Não faz tanto sentido. Então o que fazer para driblar esse cenário? Como atrair os leitores novamente?
Possíveis Soluções
Não é o fim! Livrarias como a Saraiva e Livraria Cultura encaram grandes dívidas e até pediram recuperação judicial. Mas o que podemos observar no percurso que a Saraiva percorreu até acumular mais de quinhentos milhões de dívidas, é o resultado da má gestão focada em rápida expansão.
A Livraria Leitura tem mostrado um crescimento consistente, um exemplo de que ainda é possível ser uma rede de livrarias de sucesso no Brasil. Com 80 lojas espalhadas por 21 estados.
Uma ação inteligente é a criação de clubes de assinatura. A Livraria Cultura criou o Cultura Pass, uma assinatura de R$14,90 por mês com vários benefícios. O assinante pode pegar quantos livros emprestados quiser, retirando o livro em qualquer Livraria Cultura, recebe 20% de desconto em livros e tem acesso a conteúdos digitais como audiobooks e podcasts.
E claro, a melhor forma de conquistar os leitores é realizando ações de incentivo à leitura. Seja promovendo eventos como a Bienal do Livro, encontros entre autores e leitores, sessões de autógrafos, ou mesmo dando descontos, brindes e benefícios que atraiam os leitores.
Hoje, a comunidade de leitores na Internet e produtores de conteúdo literário têm crescido muito. Parcerias com influencers podem trazer grandes resultados para as livrarias, já que esses possuem forte posicionamento nas redes sociais e atraem um público engajado.
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Conclusão
As livrarias enfrentam um grande desafio hoje, como podemos ver. O hábito de ler ainda precisa de muito incentivo não só social e cultural, mas financeiro. Mas não é o fim. Com estratégias inteligentes de mercado, vendas e posicionamento online, é possível oferecer muitos benefícios, como os livros digitais e clubes de assinatura, que podem abrir novas portas para as livrarias no Brasil, conquistando novos leitores e oferecendo benefícios que superam os obstáculos de vendas.
Este artigo foi escrito por Bruna Teixeira e publicado originalmente em Prensa.li.