As origens dos afro-brasileiros
Há um déficit de conhecimento muito grande acerca das origens dos negros brasileiros. Devido, obviamente, ao jugo da escravidão.
Uma das estratégias do colonizador para exercer o domínio sobre os escravizados é lhes arrancar toda sua história. Pois um ser humano que não a conhece, é um indivíduo sem razão de existir.
Inclusive, a destruição da cultura de um povo também implica no crime contra a humanidade conhecido como genocídio.
No início do período colonial brasileiro, havia muito pouco conhecimento por parte dos colonizadores a respeito da origem dos africanos escravizados.
Houve, portanto, muito equívoco acerca das classificações étnicas, que perduram até nossos dias atuais.
A antropologia, essa ciência fascinante, foi utilizada pelos colonizadores como ferramenta de dominação neocolonial. Por meio da célebre tática de conhecer para melhor dominar.
A ancestralidade dos negros brasileiros
Sudão, Angola, Congo, Moçambique, Daomé, Benguela, Guiné são países/regiões da África, não são etnias. Contudo, habitualmente, eram classificados como tal pelo colonizador europeu e traficante negreiro.
Sendo assim, o branco europeu designava os autóctones africanos pelo nome do porto ou região dos quais eles partiam.
As principais etnias eram os Iorubás, Jejes, Fantis, Ashantis e Minas - que também designa uma região.
Os Bantos eram oriundos de Angola, Congo e Moçambique. Foram escravizados sobretudo nos estados de SP, PE, RJ, AL, MA, PA.
Os Bantos foram o grupo étnico mais raptado para o Brasil. Entretanto, perante tanta diversidade étnica, alguns estudiosos nem os classificam como etnia específica.
Dentro da grande nação Banto há as supostas classificações étnicas: Angicos, Angolas, Benguelas e Caçanjes.
Porém, sem nenhuma evidência etnográfica ou etnológica. Ao menos até onde alcançam meus estudos antropológicos.
Provavelmente, são apenas regiões da África ou dialetos. Angola e Benguelas são regiões de fato.
Os Bacongos são uma etnia da grande nação Banto. Tínhamos por aqui também os Haussás - etnia de origem do revolucionário Marighella -, Fulas e Mandingas.
Os Jejes e Efans são provenientes da região de Daomé. Os Fantis e Ashantis da Costa do Ouro.
Os Haussás, Fulas e Mandingas são africanos islamizados da Guiné, Nigéria e Sudão. Os Iorubás são oriundos da Nigéria e Sudão.
Os "Malês" não são uma etnia. Ao que tudo indica, foram chamados assim por serem originários da região do Mali.
Os Nagôs e Eubás são classificações dadas pelo colonizador a grupos iorubás e assimiladas pelos afro-descendentes. Também podem ser elementos da cultura iorubá.
No início da colonização, todos esses povos foram majoritariamente escravizados na Bahia, Pernambuco e Maranhão.
Seria enriquecedor se esse conhecimento acerca dos nossos ancestrais fosse ensinado nas escolas assim como a História tradicional eurocêntrica.
Da mesma forma como despendemos tempo estudando os godos, visigodos, ostrogodos, lombardos, vândalos etc.
Posto o fato de que a maioria dos brasileiros são descendentes das respectivas etnias africanas mencionadas no texto.
Referências Bibliográficas:
COSTA E SILVA, Alberto da. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia de Bolso, 2006. ROCHA, Everardo.
Este artigo foi escrito por Célio Roberto e publicado originalmente em Prensa.li.