As relações humanas
As relações humanas são estranhas.
Somos estranhos! Somos eternas construções que nunca terminarão de ser construídas totalmente. É como eu costumo dizer: nunca seremos um diamante por completo, mas nem sempre seremos um eterno carvão.
Assim é com a nossa casa, nunca seremos uma eterna casa construída. Haverá momentos que sim, e outros que não.
Tijolo por tijolo - Cada um, uma nova informação. Vamos nos construindo com cada pequeno tijolo que colocamos na morada que somos.
Há, em nós, quartos fechados, ainda não abertos. Não sabemos exatamente o que há ali, ou são quartos que queremos manter fechados e não queremos que ninguém abra. E se um dia permitirmos que seja aberto, será no momento certo. Será para a pessoa certa.
As relações muito importam na vida de qualquer ser humano. Por isto, precisamos ter cuidado com quem nos relacionamos, quem a gente coloca dentro da casa que somos; pois somos modelados por cada pessoa que abrigamos.
Ninguém sabe direito como nossa construção se faz. Nem mesmo a gente sabe. A gente muitas vezes finge saber, mas não sabe. Por isto se diz que ninguém conhece ninguém de verdade. No final, somente mostramos o que queremos para o outro.
Às vezes mostramos como a nossa grama está aparada, verdinha, para o outro, mostramos que somos a casa perfeita, aquelas de filmes, com a cerquinha branca e tudo belo. Mas, às vezes, somos realmente um mausoléu de verdade.
Somos como um hotel onde alguém entra e sai a todo momento. Somos uma pousada. E é difícil! Pois abrigamos essas pessoas em nós, por um breve momento ou por uma longa estadia. Mas muitos, quase sempre todos, vão embora em algum momento. É tudo muito passageiro.
Porém, antes de ir, eles deixam em nós os seus rastros. Alguns voltam, alguns nunca voltam. Novos sempre chegam. Podemos fechar o hotel e parar com essa movimentação. Pois é, muitas vezes, doloroso demais. As pessoas deixam e retiram muito de nos, nos modificam, nos transformam. Nunca somos os mesmos.
Quando um novo entra e um velho sai, nunca somos os mesmos. Jamais seremos os mesmos.
O movimento sempre nos constrói, sempre nos desconstrói. É uma eterna demolição e construção.
É como Miley Cyrus diz, na música Wrecking Ball.
''I came in like a wrecking ball
I never hit so hard in love
All I wanted was to break your walls
All you ever did was wreck me
Yeah, you, you wreck me.''
É dolorido para aqueles que sentem demais. Para aqueles que sempre se importam. Aqueles considerados os sentimentais. Mas, me diga, como não sentir tanto?
Todo mundo que entra no meu hotel me transforma. Eu sou o conjunto de todos que eu conheci, de todos que foram embora. Eu sou, por causa deles, a pessoa que eu sou.
Acho que a gente sempre destrói e sempre se constrói. Sei da minha marca, da minha essência, mas sei, também, que não sou o mesmo que fui ontem. Não serei o mesmo que sou hoje, amanhã.
É uma eterna mutação, a vida.
Somos eternas construções que nunca terminam de ser construídas totalmente. Eu sou!
Kaique Britto
Este artigo foi escrito por Kaique Britto e publicado originalmente em Prensa.li.