Atletas no pódio: orgulho e esperança
Créditos: Laurence Griffiths/Getty Images
Três medalhas de ouro, três de prata e oito de bronze. O Brasil já subiu no pódio Olímpico 14 vezes em Tóquio. E nessas 14 vezes, ouvimos os atletas falando sobre a falta de apoio à prática de esportes.
O Brasil chegou à Tóquio com 309 atletas, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Globo esporte, destes 309 atletas:
42% não possuem nenhum patrocínio;
19% vivem com menos de R$ 2 mil de auxílio esportivo;
7% vivem com R$ 1 mil de auxílio;
13% dos atletas fizeram vaquinha em algum momento antes de ir ao Japão;
10% sequer vivem do esporte que praticam (15% destes são motoristas de aplicativo).
A situação já era difícil antes da pandemia, mas com o vírus em circulação e a demora na iniciação da vacinação no país, os atletas tiveram intervalos ainda maiores nos treinos.
Todo o caos mundial atrelado aos enxugamentos de recursos fizera da caminhada de cada atleta, até daqueles que subiram ao pódio, muito mais intensa.
Os atletas até recebem repasses financeiros de três fontes diretas: as bolsas Atleta e Atleta Pódio, além do Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR), das Forças Armadas.
A Bolsa Atleta, custeada com recursos das loterias, é a de maior alcance, com 7.197 esportistas atendidos, que recebem valores entre R$ 370 e R$ 3.100, dependendo da categoria de atuação. Nas Olimpíadas de Tóquio, cerca de 95% dos atletas participantes recebem esse incentivo.
O programa Bolsa Atleta foi criado há 16 anos e é algo admirável, mas que merece mais atenção. Em 16 anos o Brasil se tornou um país mais caro, o salário mínimo aumentou, mas, o custo de vida também aumentou. Entretanto, o programa Bolsa Atleta mantém os mesmos valores de 16 anos atrás.
Em 2019, Diego Hypolito, um dos maiores nomes da ginástica artística, se posicionou nas redes socias sobre o assunto.
"Infelizmente, vivemos em um país que não valoriza uma vida de dedicação. Patrocínio? Pior que a falta de incentivo financeiro é a falta de respeito. Ser atleta no Brasil é ser mais que herói", escreveu o ginasta.
O desmonte do esporte
Quando Rayssa Leal, a “fadinha” do skate, ganhou sua primeira medalha nas Olimpíadas de Tóquio e retornou ao Brasil, não faltaram deputados estaduais e federais, vereadores e até secretários de Estado tentando ganhar créditos e dizendo que apoiavam o esporte.
Mas não foi bem assim que aconteceu. Em 2019, Rayssa tinha sido campeã em um campeonato nacional de skate e, quando voltou para Imperatriz, sua cidade natal, ficou alguns meses sem praticar por falta de espaço adequado.
Naquele ano, a jovem já pensava em competir nos jogos que iriam ocorrer no ano seguinte, 2020.
É curioso ver essas pessoas tentarem se aproveitar do mérito da garota quando vemos um Brasil cada vez mais distante do incentivo a práticas esportivas.
Um exemplo são as recentes mudanças na configuração na gestão do Esporte no país. Entre elas, a perda do Ministério do Esporte, que hoje é uma Secretaria subordinada à pasta de Cidadania.
Mudanças radicais também ocorreram no Comitê Olímpico do Brasil, que implicaram não apenas na mudança de cadeiras, mas, principalmente, no manejo das verbas dos recursos, e da ausência dos recursos também
Os atletas brasileiros não enfrentaram, nessas duas últimas semanas, somente competidores de outros países. Enfrentaram as consequências da falta de incentivos e uma parte da população descrente e injusta que normalmente diz:
“Nossa, a pessoa vai para as Olimpíadas e nem traz uma medalha?”
Talvez exista um futuro no lugar mais alto do pódio
Nem tudo é cinza quando se trata de esportes. Algumas entidades e atletas buscam meios de reverter o desmonte do setor e dar celeridade ao processo de reformulação da Lei Pelé.
O Plano Nacional do Desporto (PND) tem a intenção de ser uma política de Estado que proporcione a democratização do acesso ao Esporte para toda a população e corrija, de certa forma, a distorção que hoje temos na locação de recursos públicos, ainda muito voltada para atletas de alto rendimento.
Ainda em 2021, é possível que o PND, seja analisado pela Casa Civil, que deverá encaminhar para o debate e aprovação do Legislativo.
Apesar do projeto estar em andamento desde 1998, é bom ter o vislumbre de esperança que algo pode mudar.
Essa Olimpíada não remete à quantidade de medalhas que nossos atletas conseguiram. Ela remete ao esforço, dedicação e superação de cada um deles para estarem presente em Tóquio.
É preciso pensar nas gerações que se preparam para os próximos jogos. E a redução do espaço do Esporte no governo federal implica também na perda de oportunidades para esses novos talentos, que podem estar nos próximos jogos de 2024 e 2028.
Não há medalha que se sustente em um peito cansado e desvalorizado.