Batman vs. Superman: batendo com Kryptonita em morcego morto
Agora que a DC Comics vai lançar uma série de novos filmes, resolvemos dar uma olhada pelo retrovisor e tentar entender o que foi a produção que tinha tudo para ser o melhor filme de super-heróis da década, e terminou como um retumbante fracasso.
Afinal, o que aconteceu com Batman vs. Superman - A Origem da Justiça?
O sucesso era praticamente óbvio. A Warner/DC vinha da premiada trilogia Batman, de Christopher Nolan, seguida pelo Homem de Aço, sob a batuta do incensado Zack Snyder, que apresentava o Superman para toda uma nova geração, adaptado a tempos mais sombrios.
A produção de Snyder, com Henry Cavill no papel-título, tinha ido bem nas bilheterias, entusiasmando a Warner a investir numa sequência. O Homem de Aço 2 era esperado para breve. Quem sabe, dando início a uma trilogia? Ou, pensando melhor, um universo compartilhado nos moldes da Marvel?
O maior filme de todos os tempos… ou não?
Então algum executivo do estúdio, prevendo o tilintar das moedas, o cheiro das verdinhas e os pulsos eletrônicos de cartões de débito, crédito e transferências bancárias online, sugeriu: "Ei, fizemos um tremendo sucesso com o Batman! Por que não colocar o morcego nesse filme também?”.
Christopher Nolan, o diretor que mais compreendeu o universo do paladino de Gotham, foi consultado. Christian Bale, que deu vida ao herói, também. Declinaram gentilmente, possivelmente farejando problemas. Nolan topou participar, mas apeans como produtor.
Sem o protagonista-antagonista do filme, a Warner escalou um novo Batman – Ben Affleck – que fisicamente caía como uma luva (com barbatanas) no papel do morcegão cansado, visto na clássica HQ O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, fonte na qual o roteiro desde Batman vs. Superman já bebia.
Todo mundo junto e misturado
A superprodução foi planejada com outra missão a cumprir: apresentar ao público outros personagens clássicos da DC, que brevemente teriam filmes solo: Mulher Maravilha, Flash, Aquaman, Cyborg e Lanterna Verde. Este foi “desconvocado” ainda nos primeiros esboços de roteiro.
Talvez pelo excesso de informação – ou pela falta dela, por parte dos produtores, sem intimidade com o panteão de heróis da DC – o resultado foi um emaranhado estranho de ideias mal resolvidas; sequer a versão estendida, que até tenta, não explica a profusão de tolices perpetradas por este filme.
Deve-se ressaltar o maior mérito da produção, a estreia de Gal Gadot como a Mulher Maravilha, e seu decorrente filme solo, uma das pouquíssimas coisas que funcionaram nesse universo compartilhado da DC.
O Superman de Henry Cavill parece deslocado na maior parte do tempo, no filme onde seria protagonista. Ben Affleck funciona como Batman basicamente em sua primeira aparição, ao encurralar bandidos num edifício decadente. É o legítimo morcegão badass dos quadrinhos.
Verdades dolorosas
Como fã dos personagens da DC, sobretudo do morcegão, dói escrever isso, mas é fato: Batman vs. Superman é um amontoado de bobagens difíceis de encarar.
Na categoria “melhor talento desperdiçado” os louros vão para a pobre Amy Adams com sua Lois Lane, grande demais para uma historinha tão fraca. Duas cenas competem ferozmente pela categoria “pior diálogo”: a surpreendente “Martha? Quem é Martha?”, seguida de perto por “você sangra?”.
Há, também, a cena do sonho/pesadelo de Bruce Wayne (se não me falha a memória, exclusiva da versão estendida) que é um sonho/pesadelo para o público. É estranha desde o começo, parecendo a atuação de um exército da Wayne Enterprises no deserto de Tatooine, culminando com aquele Superman fascista.
Prefiro nem comentar sobre a atuação de Jesse Eisenberg com seu Lex Luthor, soando muito mais como um sujeito muito esquisito que um gênio criminal ameaçador. Suponho que prejudicado pelas falhas do roteiro. Tic, tic, tic…
A paciência é uma virtude
No final das contas, a Warner ainda insistiu com a Liga da Justiça, continuando diretamente a história deste. Se por sua vez não é um filme tão ruim, também não se pode dizer que é bom.
Liga da Justiça foi iniciada por Zack Snyder, que teve problemas pessoais sérios e mais que justificáveis, e abandonou o barco; No melhor estilo “na falta de tu, vai tu mesmo”, Joss Whedon foi escalado às pressas para substituí-lo. O novo diretor imprimiu um estilo mais leve, menos trágico e mais colorido à produção. Válido, mas ineficaz.
Tanto que devido a pedidos do público, Snyder retomou os personagens e terminou o filme “como deveria ser”, para lançamento direto e exclusivo em streaming. Com quatro horas de duração, sombrio como queria, é um dos maiores sucessos da HBO Max. Vai entender…
Receberemos agora uma nova leva das produções da Warner com seus heróis. Só para começar, teremos The Batman, Flash (o filme com o maior número de Batmen por metro quadrado da história), Adão Negro, Aquaman e o Reino Perdido e até mesmo a Liga dos Superpets DC, uma animação que promete ser das mais interessantes.
Em tese, têm tudo para dar certo, porque conta com personagens mais famosos e carismáticos que os do Universo Marvel. O primeiro problema é que tanto público quanto crítica acostumaram-se em torcer o nariz para produções da DC, e isso não contribui em nada. Vamos torcer para que a última década tenha sido apenas uma má fase. Para o alto, e avante!
Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.