BBB avança no tempo - e regride

Há muitos anos não assisto BBB. Não por preconceito, mas por ter mais o que fazer. Apesar da inutilidade do programa, acredito ainda vale a pena analisar como um fenômeno televisivo. Como entretenimento, acho que o formato apresenta um desgaste sem, porém, ser determinante para a sua extinção.

Mesmo sem acompanhar a rotina das subcelebridades reunidas na confortável casa - eu passaria minhas férias lá - é quase impossível não ter contato com opiniões e notícias. Há 22 anos, é o grande lançamento de início de ano da maior TV do país e na falta de coisa melhor e enquanto render patrocínios deve ficar por isso mesmo.

Lê-se aqui e ali que a audiência vem caindo, mas não a ponto de inviabilizar. Os influencers, os quais respondem por grande parte do impacto na mídia, agora são jogados dentro do programa. Quem não é, vira influencer depois que sai da casa. Rotina.

Há dificuldade evidente em manter o interesse ao longo do confinamento. O público não responde bem a jogadores protagonistas de conflitos ou estrategistas. Depois de tanto tempo, os participantes já manjaram qual é o perfil que agrada ao público. É um perfil parecido das novelas globais - superficial, sonso, estereotipado.

Daí o pesadelo da produção e dos anunciantes- que nada aconteça entre as paredes da casa. O jeito é fazer pegar no tranco, com inúmeros quadros de lavagem de roupa suja. Na marra, a produção tenta manter a dinâmica de quem parece querer só deixar o tempo passar e escapar de paredões.

Subcelebridades em campo

O afastamento de pessoas comuns obedeceu à necessidade de sobrevivência do evento. Adotou de modo mitigado a fórmula de seu concorrente “A Fazenda”, que sempre reuniu subcelebridades. Entretanto, A Fazenda não parece ter problemas com barracos. Todos os seus participantes já são problemáticos em condições normais de temperatura e espaço. Claro que a Globo não iria imitar descaradamente seu concorrente; era preciso dar um verniz de civilidade. Deu nisso que vemos hoje.

Da metade para o seu final, caminha o BBB 22 na direção da irrelevância. As novelas seguem o mesmo roteiro, com exceções. Não é à toa que a Globo força o interesse em seu streaming, que oferece bem mais e melhores opções que a TV aberta. Cada vez mais a audiência tem incentivos para ver outra coisa ou simplesmente desligar a TV e ir dormir.

Este artigo foi escrito por Renato Assef e publicado originalmente em Prensa.li.