Benjamin Button ao contrário
Daqui a 3 meses 2021 acaba. E pelo que tenho percebido, a pandemia tem atrapalhado saber o quê aconteceu quando. Para muita gente, eu incluso, os dois últimos anos parecerem uma massa amálgama de memórias enevoadas. Para tanto, te ajudo a se localizar na história. Ou se sentir velho.
Já são trinta e três anos* da queda do muro de Berlim, o evento que, de tanto ouvir falar, me sinto como se tivesse nascido atrasado. Caía a mais importante divisão de um mundo que voltaria a se demarcar por tantas razões quanto há "estrelas no céu ou grãos de areia nas praias do mar".
Vinte temporadas desde a maior ilusão nacional: a tv globinho sendo interrompida pelos atentados de 11 de setembro. Momento em que siglas, países e problemas desconhecidos se tornaram lugar comum para quem pensava que guerra era coisa do passado. O que era entretenimento passou a ser noticia. Fomos todos bombardeados por imagens “de filme”, mas que agora estavam nos telejornais.
Dezenove shows da virada desde o penta em que os devotos de São Marcos ficaram em casa no primeiro dia da semana enquanto todos os outros religiosos foram cada um ao seu templo. Comportamento ateu que lhes custou o testemunhar dos dois primeiros milagres televisionados e narrados pelo mais global dos evangelistas, Galvão Bueno.
Quinze desde que as notas A ou 10 rarearam e foram paulatinamente substituídas por vergonha em forma numérica. Matemática, física e qualquer coisa que envolvesse exatidão revelava limitações outrora escondidas. Dez retrospectivas do fantástico desde que fiquei em terceiro para duas vagas num processo seletivo com 6.000 candidatos.
Seis aniversários do golpe final na minha solterisse e afastamento da Dilma da presidência. Três anos de quando podíamos abraçar sem remorso e aglomerar sem culpa. Quase dois desde que palavras como “home office”, “quarentena” e “Átila” se tornaram mainstream. Trezentos e sessenta e cinco dias desde que o Bilbo (o cachorro) veio morar aqui e passou a latir toda madrugada para a vizinha fumante**.
Inclemente o tempo passa. Sem olhar para trás segue em frente. Mas não é estranho que a gente mal percebe e que parece acontecer cada vez mais rápido?
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* cada das contas foi revisada pela calculadora. Só para garantir.
** quem fuma as 04h da manhã?
Imagem de capa - Tem coisa que a gente usou e já virou peça de museu. Photo by Namroud Gorguis on Unsplash
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Este artigo foi escrito por Daniel Manzano e publicado originalmente em Prensa.li.