The Bold Type: A série feminista, inspiradora, confort e leal que você precisa (mas não sei se você já sabe que precisa)
The Bold Type é uma série que fez sucesso faz pouco tempo, mas já tem um número considerável de fãs, que se perguntam, como qualquer fã que encontra e se apaixona por uma série, como não encontrou com ela antes? Um dos motivos para que isso tenha acontecido, pode ser a chegada recente no catálogo da Netflix. Ou, para as pessoas que acreditam em destino, ainda não era o momento. Mas que bom que o encontro aconteceu e que valeu a pena. Ela é uma das séries que você deseja dar Ctrl+Z para poder assistir novamente, ou que você maratona desesperadamente e já faz planos para assistir de novo. Sim, The Bold Type é esse tipo de série.
Contando as estações em moda
Uma série com protagonistas na trabalham na Scarlet, uma revista de moda conceituada, não poderia contar a história e o tempo de outra maneira, tão óbvia e tão linda, se não através da moda, e é um show, todo dia de trabalho na Scarlet é um desfile de moda. As personagens trabalham muito e dão o melhor de si mesmas. O foco da série é sobre essas jovens adultas em seu dia a dia de trabalho, os problemas de suas vidas pessoais, sem feriados, datas comemorativas. Sem 4 (quatro) de julho, sem Ação de graças, natal ou outras datas comemorativas não sabemos em que momento do ano ou em qual estação estão ao certo, oportunidade para as roupas se destacarem, sem se sobre sair, e sim como elemento sutil que pode ser observado ao se atentar a esse detalhe.
Trilha sonora da vida
Esse momento é dedicado as pessoas que são Pop Lovers. A descoberta de músicas novas é ótima, mas nada se compara a assistir uma série e, a todo momento ser surpreendida com hinos pops que te anima, te faz cantar e dizer: “Ah! Eu conheço essa música”. Destaque para o episódio 6 (seis) da terceira temporada. O episódio nomeado “Tbt” é uma viajem de volta ao primeiro dia de trabalho das três protagonistas, dia em que Jane, Kat e Sutton se conheceram. Em 2014, ano de lançamento do 1989, primeiro álbum pop da cantora Taylor Swift e dono do primeiro hino pop do episódio com “Welcome to New York”, depois disso é uma música mais hit que a outra. O episódio é recheado de músicas, looks, penteados e afins que fizeram sucesso nesse ano. Em outros episódios ouvimos, por exemplo, “Let you love me” de Rita Ora. Jacqueline dança ao som de “Push it” e o pedido de casamento de Sutton tem, nada mais nada menos que, “Lover” como trilha sonora.
Pessoas sábias com ótimos conselhos
Outro motivo para amar essa série é a capacidade que algumas personagens possuem para dar ótimos conselhos em momentos de dúvidas e dificuldades. Jacqueline Carlyle é a chefe que todes gostariam de ter e/ou ser. As primeiras impressões que temos dela são de uma Miranda Priestly (O diabo veste prada), mas são só as primeiras impressões, porque Jacqueline é uma chefe com muita sabedoria, paciência e contribui significativamente para o crescimento das pessoas que trabalham com ela. Fazendo com que repensem o ponto de vista e consigam criar discussões ou falar sobre situações relevantes. Uma líder inspiradora.
Um editorial de inspiração
A série tem o efeito de fazer você querer construir um editorial de moda, porque a série foi feita para as pessoas se identificarem ou desejarem ser como Jacqueline que consegue liderar a revista de maneira harmoniosa e poderosa. Ou escrever como Jane, que escreve sobre temas importantes que geram grande identificação e representatividade para as leitoras. Como Kat, a chefe de mídias sociais. A querer ser a pessoa que fotografa. Ser estilista como Oliver, ou ter esse sonho e trabalhar muito para alcança-lo, como Sutton. É muito interessante ver a construção de Sutton, e como no decorrer da série ela é vista como alguém que está indecisa e faz questionamentos a respeito do que ela realmente quer ser/fazer, se quer ser estilista ou designer, se arriscar, mudar de área, voltar para a anterior e no fim escolher a profissão que deixa ela feliz. Ela e todes estão em constante aprendizado, mudança, crescimento profissional, pessoal, sentimental, entre outros aspectos.
Ser escritora
Jane é uma jovem escritora influente, que também inspira. As histórias que ela conta são fortes, abordam assuntos feministas, como o “me too”, o movimento que ganhou grande visibilidade quando mulheres denunciaram assédio e violência sexual no trabalho. Jane escreve também sobre abuso de poder, sobre sexualidade, prazer feminino e afins, tudo sempre com uma abordagem pessoal, na maioria das vezes ela escreve sobre algo que está passando, ou não quer escrever quando o assunto é muito pessoal e doloroso para ela, porém no decorrer do processo de escrita ela consegue entender quais são as dificuldades, bloqueios e traumas, mas nem sempre consegue resolver, mesmo assim aprende alguma coisa, não só ela, algumas lições são apresentadas de maneira geral, dando o tom para o momento que outras personagens também estão vivendo. As questões sobre a mãe de Jane e, consequentemente, que dizem sobre ela também são abordadas com cuidado e gradativamente, por serem temas com grande relevância e de abordagem necessária, pois muitas mulheres passam por situações como as delas.
Levantar uma hashtag no tuíter e liderar protestos nas redes sociais por causas importantes
Kat Edison é a voz com alcance e público que a maioria das pessoas não tem. Ela usa sua voz para dar visibilidade a quem é “invisível” e “inexistente”. Ajudar uma mulher trans a correr uma maratona usando seu próprio nome, o que poderia ser uma coisa trivial, e um direito que deveria ser óbvio, mas, infelizmente, não é. É nessa cena que descobrimos e aprendemos, assim como Kat, o poder do próprio nome e da importância de ser reconhecida e ter o direito de ser vista e de existir como ela realmente é e de correr como/com/ e para si mesma. Os republicanos, apoiadores da cura gay, e os velhos brancos do andar de cima, pró viagra que censura a liberdade sexual feminina que se cuidem, porque ela tá ON e pronta pra #protestar.
A moda e seu padrão
O que fica de aprendizado é a construção de um novo “padrão” ou, o “sem padrão”. Padrão em se sentir confortável com seu próprio corpo, com suas ideias, com sua felicidade, seus desejos, em não ter medo e nem vergonha de sentir. Padrão para a capacidade de sentir que é capaz de realizar qualquer coisa, de que tá tudo bem não querer ter filho, focar na vida profissional. Entender que estar com alguém não pode ser por motivos de carência ou medo de se sentir só. Que você tem o direito de amar quem você quer amar. The bold typde é uma construção de combinações poderosas que teriam sido de grande importância em revistas como a “Capricho”, “Atrevida”, entre outras revistas que influenciaram e influenciam jovens/pessoas.
Este artigo foi escrito por Micaella Santos e publicado originalmente em Prensa.li.