Bolsonaro teria sucesso com golpe de Estado?
Imagem: Jair Bolsonaro / Evaristo Sá/ VEJA
Bolsonaro tem ameaçado - quase diariamente - dar um golpe de Estado. Que o presidente é suficientemente ignóbil e beócio para tentar tal sandice, eu não duvido, o que duvido é ele se manter no poder por muito tempo após o golpe.
Para a ditadura ser bem sucedida é necessário o apoio da classe dominante, ou ao menos a maioria dela. A direita dita liberal - representada por centenas de banqueiros e empresários - já lançou carta pública de crítica ao governo federal.
Uma autocracia carece da coesão das Forças Armadas e Polícias. Bolsonaro não é unanimidade dentro do Exército, tampouco nas demais Forças. Ano passado, os policiais se manifestaram contra o governo por congelamento dos seus salários por 15 anos. O presidente não tem articulação até hoje nem para criar um mísero partido político.
Para a ditadura ser implantada é preciso que haja uma ameaça real urgente à segurança nacional para justificar o golpismo. Em 1964, esta bravata era supostamente o comunismo e a democracia popular do Jango. Qual é a ameaça hoje? Lula? PT? O comunismo? Apenas fanáticos bolsonaristas caem nesse engodo.
O Estado de exceção depende do apoio dos meios de comunicação, ao menos dos maiores. Para legitimar o regime e manipular as massas, martelando diariamente que esse golpe é fundamental para o país e que sua gestão é um sucesso. Hoje, o nosso maior conglomerado de comunicação - Rede Globo - é o maior inimigo de Bolsonaro.
Um regime autoritário também necessita de sustentação popular, por meio de pleno emprego, programas de transferência de renda, valorização do salário mínimo, direitos trabalhistas etc.
Nossa economia está uma tragédia, com quase 14 milhões de desempregados e 116 milhões de brasileiros em insegurança alimentar. O presidente só tem o respaldo de 32% da população, com aumento da crise econômica sua popularidade só tende a diminuir.
Um Estado ditatorial precisa de apoio político internacional. Em 1964, a maior potência capitalista não apenas apoiou como também articulou o golpe. Qual potência ou estadista vai apoiar um presidente golpista de um Estado pária para comunidade internacional? Biden? Xi Jinping? Putin? Macron? Scholz? Johnson?
Por fim. Um país capitalista, independente do regime político, demanda investimento do capital internacional. Já tivemos a fuga de mais de 50 bilhões de dólares com esse governo. Quem vai investir num país ditatorial de insegurança jurídica? Se os pilares para investimento são lucro e segurança.
Ademais, paremos com o alarmismo em relação às declarações golpistas do presidente, são apenas cortina de fumaça para desfocar o debate público do que realmente importa: inflação de alimentos e combustíveis, aumento da fome, corrupção, aumento na conta de luz etc.
Contudo, devemos ficar em estado de alerta, pois é muito provável que Bolsonaro tente algo muito parecido com o 6 de janeiro no Capitólio dos EUA, só que numa versão tupiniquim de ópera-bufa.
Referências bibliográficas:
Aliança pelo Brasil: o partido natimorto de Bolsonaro virou “uma ideia” | VEJA (abril.com.br)
Aprovação de Bolsonaro está em 32%, a mais alta em pouco mais de um ano | Exame
Mais de 116 milhões de brasileiros não têm comida suficiente ou passam fome (istoedinheiro.com.br)
Taxa de desemprego no Brasil fica entre as maiores do mundo (yahoo.com)
US$ 50,9 bilhões saíram do mercado financeiro brasileiro em 12 meses (correiobraziliense.com.br)
Operação Brother Sam: Golpe de 64 teve apoio dos EUA - UOL Educação
Este artigo foi escrito por Célio Roberto e publicado originalmente em Prensa.li.