Brás Cubas na Vida Real: Criação de IA depois da Morte
Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas. (Brás Cubas)
Ainda que o livro seja de 1880, parece que já profetizava sobre a criação de uma obra póstuma, pelo próprio autor.
Roman Mazurenko, já falecido, também é uma Inteligência Artificial criada pela empresa Luka Inc. Sim, a IA foi inventada após sua morte. O software utilizou o método de Machine Learning e Neural Networking para a partir de todas as mensagens, dados, fotos, e trejeitos do russo criar uma cópia póstuma desse homem. Como falado no Texto Robôs terão Direitos e Deveres? agora existe uma IA póstuma, e que necessita de direitos sucessórios, além dos autorais.
Tal feito foi realizado pela melhor amiga do Roman, que sentiu a necessidade de continuar o legado do Mazurenko. Sem qualquer papel, contrato ou fonte jurídica que demonstrasse a vontade e a doação dessas mensagens, a desenvolvedora afirma que se Roman estivesse vivo concordaria com sua ideia, o que nunca saberemos pois ele está morto. Além disso, não houve qualquer procura e aceite familiar de seus herdeiros, causando mais um problema para o direito da personalidade e o direito sucessório.
O aplicativo pode ser baixado gratuitamente pela Apple Store e possuí uma avaliação de 2,8 estrelas. Em comentários deixados por usuários, podemos que que o “bot responde apropriadamente para alguma palavras chave, mas, na maioria das vezes, parece “soltar” frases desordenadamente independente do que foi escrito.” Ainda continua afirmando que “ não existe uma conexão interativa com o bot, que deveria ser o objetivo de um memorial”
Créditos: Apple Store
Ainda tem um comentário em que diz “espero que a personalidade do Roman retorne”.
Créditos: Apple Store
Mesmo toda a humanidade sabendo que humanos não voltam à vida terrestre depois de morrerem, a não ser Jesus Cristo para o Cristianismo - não adentrarei no mérito religioso, mas tão somente a realidade utilitarista dos fatos- um usuário infere que gostaria de ver o retorno não da pessoa, não da carne, mas sim, da personalidade- que está contida na alma de cada individuo, a singularização do ser.
Essa inferência de tentar retomar uma individualidade do ser pode ser vista na série Altered Carbon da Netflix, onde quando uma pessoa morre é colocada em outro corpo. Inclusive, os cristãos nessa série protestam dizendo que não querem ser “revividos”, talvez um tópico bem importante para o futuro.
A questão é: não somente de herança de criptomoedas, ou documentos na nuvem se compõe o acervo de um morto, mas sim, de todos os seus dados e o que podemos fazer com eles. Isso é o que traz perigo, tanto impulsionando a possibilidade de haver crimes contra à honra do falecido, bem como, crimes de roubo de identidade, e quiçá, direitos autorais.
Ah, Me segue aqui na Prensa e entra logo no meu canal secreto do Telegram antes que alguém use meus dados para criar uma IA :)
Este artigo foi escrito por Maria Renata Gois e publicado originalmente em Prensa.li.