Brasil e China:o futuro entre os dois jogadores
Um dos principais - senão o principal - player da geopolítica na atualidade, a China voltou a concentrar a atenção mundial dos mercados e analistas. Muito além dos desdobramentos da potencial hecatombe provocada pelo ruir da Evergrande, o mundo se vê novamente sino-impactado, agora com a notícia da crise energética chinesa gerando aumento da expectiva de inflação no globo; a tensão militar por ela - a China - provocada com manobras no espaço aéreo sobre Taiwan e a potencial ameaça aos planos da norte-americana Tesla, após o anúncio de um carro elétrico ao custo de apenas U$ 4.500.
É nesse contexto de preponderância e primazia internacionais que o elemento China se avoluma e adquire importância estratégica nas parcerias comerciais com o Brasil, com poderosos ecos no cenário político também. Um reflexo que, no governo sob orientação de Jair Bolsonaro, tem se tornado instável, elevando o risco de quebras contratuais.
É o que vem sendo colocado na mesa desde o início de setembro deste ano, quando a China anunciou a suspensão das importações de carne bovina brasileira, após dois casos bem atípicos de encefalopatia espongiforme, a “doença da vaca louca”.
O pior temor do segmento se confirmou no início de outubro. O freio nas importações em vigor desde setembro foi agravado pelo prolongamento da suspensão em decorrência das celebrações do Dia Nacional da China, entre 1 e 7 de outubro. A partir dessa suspensão, a arroba do boi vem amargando baixas sucessivas e acumulando prejuízos para o respectivo setor como o já percebido nas referências nacionais Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Vale destacar que a Organização Mundial da Saúde Animal - sucedânea da antiga OIE criada em 1924 - já considerou, ainda em setembro, que as condições sanitárias para importação foram normalizadas e os casos noticiados, considerados sem relevância internacional.
Porém, com a contínua deterioração das relações políticas sino-brasileiras, a retomada está sem previsão para acontecer e o segmento do agronegócio já se mobiliza, via suas bancadas no Congresso Nacional, a exatos 365 dias das eleições presidenciais de 2022, inserindo mais um componente de indectabilidade conjuntural ao caldo da sucessão ao Planalto.
Mas apesar do revés acentuado a partir de 2018, as relações construídas entre Brasil e China ao longo da nossa redemocratização - fortalecidas ainda mais até o golpe de estado de 2016 quando o Brasil transitava livremente rumo a um novo marco financeiro mundial como principal ator na criação do Banco dos BRICs - projetam futuro promissor.
Tanto os indicadores de saliência quanto os de simetria e interdependência apontaram variações que permitem inferir na ótica orientada por Katherine Barbieri em 1996, fortalecimento e maior entrelaçamento das economias, o que também permite um vislumbre de maiores oportunidades para diversos nichos produtivos dos dois países.
Um mundo de oportunidades que se avizinha e se potencializa frente à reconfiguração das fronteiras, tanto físicas quanto virtuais, mas que cumpre ao Brasil e seus representantes, permitir maior condições de igualdade para a entrada de novos protagonistas como players nessa conjuntura.
Este artigo foi escrito por Luciano Beregeno e publicado originalmente em Prensa.li.