Brasil tem 152 milhões de internautas, mas a desigualdade persiste.
Imagem: Montagem original feita pelo Canva
2020 foi o ano em que o uso da internet mais cresceu no Brasil, de acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2020 (Edição COVID-19 - Metodologia Adaptada) realizada pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), promovida pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br).
As entrevistas foram realizadas entre outubro de 2020 e maio de 2021, com 5.590 domicílios, preferencialmente pelo telefone, em razão da pandemia do COVID-19.
Os resultados apontaram o crescimento de 152 milhões de internautas, o que corresponde a 81% da população brasileira a partir de 10 anos de idade, indicando, pela primeira vez, um crescimento maior de domicílios com acesso à rede do que indivíduos usuários.
Com relação ao crescimento de 83% de domicílios conectados à internet, a proporção se deu em todos os seguimentos analisados, sendo em áreas urbanas e rurais, em todas as regiões, faixas de renda familiar e estratos sociais. As maiores diferenças em relação a 2019 foram observadas nas classes C e D/E, com aumento de mais de 10%, diminuindo as diferenças regionais.
Houve também um aumento no uso de computadores – desktop, portátil ou tablet – nos domicílios, passando de 39% em 2019 para 45% em 2020, possivelmente em decorrência do número de profissionais que transitaram para a modalidade de trabalho remoto ao longo da pandemia.
O aumento de usuários de internet de 2019 para 2020 foi além de 10% dentre moradores de áreas rurais (de 53% para 70%), pessoas com 60 anos ou mais (de 34% para 50%), entre pessoas com Ensino Fundamental (de 60% para 73%), mulheres (de 73% para 85%) e nas classes D/E (de 57% para 67%).
“Em 2020 houve uma aceleração do uso da rede entre parcelas mais vulneráveis da população. Apesar do maior alcance da Internet no Brasil, os indicadores apontam a persistência das desigualdades no acesso, com uma prevalência de usuários de classes mais altas, escolarizados e jovens”, pondera Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br.
Essa desigualdade pôde ser observada entre estudantes durante a pandemia, que precisaram adotar o método de ensino virtual, ou seja, aulas sendo administradas via plataformas digitais.
O relatório “Acesso à Internet Residencial dos Estudantes”, do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), analisou que a “ineficiência das políticas” de telecomunicações no Brasil geraram uma “elite estudantil” na pandemia, acentuando desigualdades no acesso e na qualidade da Educação.
Lançado no dia 15 de junho deste ano, o relatório aponta que 47 milhões de brasileiros permanecem desconectados, apesar dos avanços no uso da internet no Brasil. Dentro desse número, 95% estão na classe C e D/E, sendo 45 milhões de pessoas nas classes menos privilegiadas ainda sem acesso à internet.
Jardiel Nogueira, desenvolvedor da pesquisa, refrisa que "o Brasil não está nessa situação por falta de políticas de conectividade, mas pela falta de efetividade das políticas que já foram lançadas".
A pesquisa TIC Domicílios 2020 confirmou que as desigualdades no aproveitamento de atividades online ainda existem, apesar do aumento na realização dessas atividades durante a pandemia. A classe C fez mais cursos à distância e estudou mais por conta própria 2020 em relação ao ano anterior, porém ainda de forma inferior aos usuários da classe A.
Foi observado também um crescimento de 43% em 2020 comparado aos 33% em 2019 em relação ao uso de transições financeiras no meio digital, principalmente entre as classes C e D/E.
Pela primeira vez na história da pesquisa, o acesso à internet pela televisão superou o acesso pelo computador, chegando à 44% dos brasileiros entre 16 e 24 anos e negros utilizando a internet pela TV. O percentual está 7 pontos acima do que foi registrado em 2019.
“O avanço do uso da Internet pela TV está associado ao consumo de cultura e entretenimento, que durante a pandemia passou a ser reportado por uma parcela maior da população”, diz Barbosa.
A pesquisa foi adaptada em razão da pandemia do COVID-19, restringindo o deslocamento dos entrevistadores a fim de manter o distanciamento social. As comparações dos resultados devem ser observadas com cautela, já que os efeitos das mudanças na metodologia não são ainda totalmente conhecidos, e as margens de erro são maiores em comparação aos de edições passadas.
O coordenador do CGI.br, Marcio Mignon, afirmou que “os dados apresentados são únicos, permitindo compreender as dinâmicas de acesso e de uso da rede durante esse período de pandemia.”, e reforça seu compromisso com a produção de estatísticas para embasar políticas públicas.