Burnout na TI contra mentes
É certo que você já ouviu muito sobre a Síndrome de Burnout. O termo começou a ganhar espaço na mídia especializada em saúde mental há pouco mais de uma década. Contudo, notícias e estudos se intensificaram na pré-pandemia e durante ela. E há um forte e claro elo entre o período pandêmico e o aumento de casos. Um elo chamado trabalho.
Bem antes disso, os primeiros estudos, com descritivo prático, foram feitos em 1974 por Herbert J. Freudenberg, psicólogo nascido em Frankfurt, na Alemanha e naturalizado nos EUA. Freudenberg percebeu e identificou os sintomas. De lá para cá, outros estudos se aprofundaram no tema.
Burnout é síndrome que resulta de excesso de estresse associado a situações no trabalho. Mas o que este tema tem a ver com a seção de Tecnologia deste site? E ainda com pandemia?
Burnout e TI: coincidências destrutivas
O mundo passa por uma espécie de união de períodos temporais: pandemia e aumento considerável de demanda por soluções em TI.
Assim, um conjunto de situações tornou presa fácil a mente do trabalhador dessa área:
→ Contato com notícias negativas sobre avanço da Covid-19
→ Necessidade de adequação ou transformação do ambiente familiar em ambiente laboral
→ Altíssima demanda por profissionais de TI - aliás, há um texto interessante sobre isso na Prensa; veja lá
→ Pressão de superiores para soluções cada vez mais eficazes em cada vez menos tempo
→ Conceito de Transformação Digital
O último item da lista acima tem se mostrado um dos mais fortes motivos para o aumento nos índices de Burnout entre profissionais de TI. Os colunistas Denisson A. Soares e Alex Moraes, ambos da Prensa, publicaram artigos esclarecedores sobre Transformação Digital. São boas sugestões de leitura. Veja aqui e aqui.
Sob a transformação, as organizações têm buscado espaço para se assumir como participantes do mundo digital - espaço e colaboradores.
E, aí, volta-se à linha de progressão: muitas empresas buscando profissionais de TI → CEOs da área “forçando” para atender demandas → profissionais experientes ou novos em adaptação ao ambiente home office → insegurança profissional quanto à própria eficiência.
Campo aberto para Burnout
Esse conjunto de situações é campo propício para esgotamento mental. Unam-se a ele outras situações conflituosas do dia a dia, normais na realidade do indivíduo. Certamente, é motivo de preocupação de profissionais de saúde psicológica, resultando em estudos e mais estudos sobre os fatos.
O Yerbo é uma empresa de TI voltada ao desenvolvimento de aplicativos para identificação de bem-estar mental. Para se ter ideia de como o Burnout tem avançado sobre a área de TI, o site mantém link específico já no menu inicial. Por ele, o visitante pode, inclusive, medir seu nível de riscos.
Seus levantamentos mais recentes indicam que 40% dos trabalhadores em TI têm altos índices de risco de esgotamento mental. Aqui é necessária análise, ainda que superficial: em atividades presenciais, colaboradores tendem a seguir limites de horários; em casa, não.
É o que pensam analistas da Silicon Republic, conforme artigo de sua editora adjunta, Jenny Darmody:
“Nesse cenário, os profissionais iniciam sua jornada em certa hora e a encerram em hora determinada. Claro, há variações, mas esses limites são geralmente seguidos. Em casa, o profissional se obriga a trabalhar mais em razão da sensação de possível perda de emprego ou diminuição da percepção de sua capacidade dentro da cultura organizacional”.
Burnout e Covid-19 - de novo
Uma pesquisa paralela da Yerbo mostrou que mais de 1800 profissionais da SalesForce são vítimas de desgaste emocional. A empresa americana trabalha justamente com tecnologia; é, portanto, excelente fonte de pesquisa.
É esta, também, a percepção de Cesar Berho, gerente de engenharia da Nubank:
“Burnout costumava ser o elefante na sala, algo que sabíamos que precisávamos falar, mas não conseguíamos. Agora, esses dados [Yerbo] são a alavanca que precisávamos para iniciar a conversa e agir.”
A vice-presidente de segurança de produtos da Blackberry, Christine Gadsby, acompanha a metáfora de Berho. Disse ela em entrevista à Mäntis Tecnologia|:
“O esgotamento da tecnologia em geral, eu acho, meio que passou em fases. Foi tipo, dois anos atrás, quando começamos com a pandemia, que todo mundo foi para casa. E, assim, a tecnologia teve que se ajustar.”
Em complemento à ideia de limites de horário, Gadsby alerta que a tensão excessiva desequilibrou o sentido pessoal em relação ao trabalho: “Não há limite, realmente não há. Isso transforma tudo em trabalho”. Em especial, durante a pandemia da Covid-19.
Por outro lado, talvez haja saída. Veja mais sobre isso abaixo, neste artigo, em que Gadsby e outros profissionais oferecem soluções possíveis para o problema.
Burnout e home office - de novo
Um longo e extenso estudo sobre influência das sessões de home office em saúde mental foi desenvolvido no Canadá. Trata-se do Great Workplace Study, realizado entre março e abril deste ano com 1001 canadenses e organizado por Léger for Hamster, conforme a Globe News Wire,
Na pesquisa, identificou-se desmotivação para o trabalho em 31% dos operadores home office. Os detalhes do levantamento são amplos: vão desde presença de crianças e animais na área das atividades à fluência em inglês ou francês, passando por dados como sexo, idade, região, nível acadêmico etc.
Vaibhav Sinha é diretor de tecnologia da BlocPal, fintech sediada em Vancouver. Demonstrou sua apreensão ao comentar os resultados da pesquisa, que alerta quanto aos efeitos da pandemia sobre o trabalho home office:
“O setor de tecnologia nunca viu problemas de saúde mental tão prevalentes quanto agora”. E complementa: “o trabalho remoto [em TI] agora é a norma. [Ou seja], há menos separação entre quando a vida profissional termina e sua vida pessoal começa”.
Para ele, a sensação de que os dias são intermináveis é enorme, pois os profissionais tendem a aumentar o ritmo de entrega de soluções. Esse pensamento acompanha a visão da vice-presidente Christine Gadsby.
Há solução?
Talvez. Contudo, para a grande maioria dos especialistas em saúde mental, em especial os voltados ao setor de Tecnologia da Informação, as soluções passam por política de relacionamento empresa-colaborador. A pressão por demanda causa desarranjos na equipe.
Gadsby é frequente na ideia de que a solução pode estar no uso da tecnologia como ferramenta de gerenciamento da própria tecnologia. O conceito é interessante e tem sido discutido por muitos especialistas.
Com isso, ela quer dizer que a automação das atividades dos desenvolvedores pode ajudar a criar espaço de tempo para lazer e para a família. Nesse cenário, as categorias Low Code e No Code são saídas atrativas (há diversos artigos referenciais no site Prensa).
Assim, a necessidade das empresas de obter soluções práticas em cada vez menos tempo pode ser aliviada. Por outro lado, especialistas consultados lembram que as empresas precisam alterar procedimentos internos para aliviar a carga de trabalho.
Portanto, é essencial que líderes criem mecanismos de discussão e de avaliação do comportamento dos colaboradores. Detalhes na expressão corporal, fala, resultados diários etc. podem indicar os níveis de estresse acumulado.
É dessa maneira que os devidos cuidados podem ser antecipados e os riscos de perda de profissionais podem diminuir .
Este artigo foi escrito por Serg Smigg e publicado originalmente em Prensa.li.