Caça-Fantasmas - Quem você vai chamar?
Pode ler com calma. Você só vai ter um spoiler no finalzinho deste artigo. Além dos que já são óbvios.
Os Caça-Fantasmas foi um sucesso estrondoso nas bilheterias do final de 1984, mesmo ano em que fomos apresentados a outro clássico oitentista, Gremlins.
A comédia/aventura/terror sobre o grupo de professores que forma um grupo para erradicar ectoplasmas errantes (e acaba enfrentando um problema muito maior) deu origem a uma continuação em 1989 e também a duas séries de animação bem interessantes, The Real Ghostbusters e Extreme Ghostbusters.
Fantasmas domésticos
A ideia original foi do ator Dan Aykroyd (acredite, baseada em ocorrências com parentes seus), o professor Ray Stantz do filme. Em alta no Saturday Night Live, conseguiu emplacar a produção e atrair o colega Bill Murray (professor Peter Venkman) e o roteirista e ator Harold Ramis (professor Egon Spengler). Ramis, falecido em 2014, deu tratos à bola na ideia original, e coincidentemente seu personagem é a força motriz desta nova produção.
Tem mais?
A ideia de uma sequência para os dois primeiros Ghostbusters é nova: os primeiros rumores surgiram logo no início dos anos 1990, mas sempre havia algum empecilho, entre eles alguns desentendimentos entre Bill Murray e Harold Ramis, dificultando bastante o andamento.
Mas também haviam motivos de sobra para apostar num retorno, sendo o principal a bilheteria. Para se ter uma ideia, apenas o primeiro filme arrecadou cerca de 227 milhões de dólares, segundo a CNN. E vá por mim, se esta cifra impressiona agora, pense em quanto significava em meados da década de 1980.
Sem alma
Mas então veio o reboot de 2016, meio que pinçando aqui e ali uma referência aos originais, passando por cima de muita coisa… e resultando num desastre de público e de crítica. Apesar de todo o esforço de Melissa McCarthy e equipe.
O filme “das meninas” não é ruim, mas trocadilhos à parte, não preservava o espírito original. Não dava pra ser Ghostbusters sem ser Ghostbusters. Parecia que a franquia estava condenada ao descanso eterno.
Evocando velhos espíritos
Mas a Columbia Pictures não quis enterrar a ideia e resolveu acionar a “velha guarda”, ou melhor, quem tinha um contato profundo com ela, e claro, com a essência de Ghostbusters.
Sob a batuta de Jason Reitman, filho de Ivan Reitman, diretor dos dois filmes originais (e agora produtor executivo, além de guru informal da produção), Caça-Fantasmas - Mais Além (em inglês é Afterlife), entrega uma aventura honesta e original, e ainda tem alguns fanservices de respeito.
A começar pela trilha sonora que traz de volta o hit Ghostbusters, de Ray Parker Jr. , e trechos da trilha original incidental do mestre Elmer Bernstein, a qual as composições atuais de Rob Simonsen evocam com muito cuidado – e carinho.
E claro, a presença obrigatória do ECTO-1, me arrisco a dizer, um dos automóveis mais icônicos do cinema em todos os tempos.
Ectoplasmas rurais
A premissa da história é simples. Uma família (que em pouco tempo você começa a entender quem são) muda-se para o interior e começa a ser perturbada por fenômenos inexplicáveis, rapidamente se espalhando por toda a cidade.
Como você entrou no cinema para assistir uma produção da franquia Ghostbusters, já deve estar consciente que as perturbações são obra e graça de almas d’outro mundo.
E esse é um ótimo começo, pois situando a aventura em Oklahoma, interior dos Estados Unidos, já tira um pouco o foco dos filmes anteriores, cujas histórias se passavam no meio de Manhattan. Os nova-iorquinos agradecem o descanso.
Mas recorde que quase quarenta anos se passaram desde os eventos de Os Caça-Fantasmas. Na história e fora dela, muita gente se esqueceu dos eventos daqueles dias em Nova York. Se você, caro leitor, é um destes, sugiro pesquisar por Zuul, ou ainda Monstro de Marshmallow.
Foram dias bem loucos aqueles. Ah, se foram. Então, pra muita gente, os Ghostbusters não passavam de uma lenda urbana.
Fantasmas sem descanso
Muitas coisas estranhas começam a acontecer naquela fazendinha, e a neta do Dr. Spengler, seu irmão e um amigo apelidado “Podcast” (lembrei do personagem “Dado” de Os Goonies) passam a investigar o caso, recebendo a ajuda de um professor de ciências. Mais anos 1980 feelings, impossível.
E afinal, que família não esconde nenhum segredinho debaixo do tapete? Bom, nesse caso essa expressão é elevada à décima potência.
Não é de se estranhar que tal professor entre de cabeça na história dos adolescentes, já que o ator é mais conhecido por protagonizar Homem Formiga da Marvel. Para quem já cavalgou um inseto, caçar ectoplasmas é lucro.
Brincadeira à parte, o elenco funciona muito bem. Paul Rudd está a vontade no papel do professor, os dois garotos emulam bem o espírito Sessão da Tarde (do qual Caça-Fantasmas é um digno representante) e McKenna Grace dá um show no papel de Phoebe, a neta de Egon.
Quem vocês irão chamar?
Como disse que não daria spoilers, mantenho a palavra. Mas saiba que essa turminha do barulho vai aprontar altas confusões (deste e de outro mundo), cheias de reviravoltas e surpresas (algumas previsíveis e outras nem um pouquinho).
E é claro que as coisas ficarão feias. Feias mesmo, como convém a um legítimo filme Ghostbusters… e nessa hora… bem, eles saberão muito bem a quem chamar, num fanservice impecável e impossível de não deixar os fãs minimamente enlouquecidos.
Preste atenção aos efeitos especiais: mesmo produzidos com a tecnologia atual, você reconhecerá elementos que eram feitos até mesmo em stop motion nos anos 1980. A sequência com o professor Grooberson na loja é um destes momentos.
Caça-Fantasmas: Mais Além diverte, emociona, e merece ser visto. E o melhor, aproxima o público atual da franquia e abre espaço (atenção para as cenas pós-créditos) para um futuro promissor.
De verdade?
Uma pequena e dolorosa observação antes de fechar a matéria: revi recentemente o filme original. Num determinado momento, os três protagonistas procuram a prefeitura de NY alertando que se alguma providência não for tomada, haverá uma crise (no caso, com fantasmas) sem precedentes.
Lembre-se, os três são professores e cientistas. Os políticos, muito mais preocupados com seus interesses pessoais, preferem ignorá-los e é claro, dá no que dá.
Não parece nada conhecido? Só pra pensar…
Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.