Cadê o Blu-Ray que estava aqui?
Na esteira do sucesso do DVD, que havia chegado para ficar, o padrão Blu-Ray desembarcou para valer no mercado em 2006.
Com imagem em alta definição, qualidade superior de áudio, possibilidade de maior armazenamento de dados e mais um punhado de recursos, estava destinado ao sucesso.
Os sistemas de home theater proliferavam nos lares das classes mais abastadas e até mesmo na classe média. Logo, filmes, shows e outras atrações começaram a ser oferecidos exclusivamente em Blu-Ray.
Aparentemente, os DVDs, que haviam condenado as fitas VHS, estavam fadados a uma morte horrível, lenta e dolorosa, apesar do imenso número de mídias lançadas e vendidas, com milhares de unidades em filmotecas caseiras ao redor do mundo. A evolução tecnológica mostrava, mais uma vez, ser implacável.
Tão implacável que, na surdina, enquanto o Blu-Ray colhia os louros da vitória, outra tecnologia vinha lentamente tomando corpo: o vídeo on-demand, mais conhecido como streaming.
Inimigo Invisível
As primeiras experiências começaram a acontecer pouco tempo após o lançamento do Blu-Ray. Nestes primeiros tempos, eram exibidos numa definição muito aquém do Full HD. Para economizar espaço na nuvem e funcionar com conexões de internet nem sempre muito favoráveis, eram oferecidos conteúdos em SD (definição padrão similar ao da TV analógica) ou SD Anamórfico (que nada mais é do que um conteúdo em definição padrão, esticado para se assemelhar ao formato retangular da TV em alta definição). A qualidade padrão era 720x480 pixels, um pouco superior às transmissões da TV, mas ainda muito longe dos 1920x1080 do Blu-Ray.
Parecia que a tecnologia do laser azul seria imbatível. Mas o mundo dá voltas, algumas bastante curiosas. Até cruéis.
Em 2008, momento em que muita gente adquiria uma enorme quantidade de filmes em Blu-Ray, incluindo-se locadoras (alô, alô, Blockbuster!) e consumidores domésticos, uma crise aconteceu em escala mundial. A coisa ficou feia em boa parte do mundo.
Os Blu-Ray eram mídias caras, exibidas em equipamentos caros. Enquanto o valor dos discos e aparelhos DVD baratearam, a crise fez o valor dos Blu-Ray aumentar exponencialmente. As vendas dos DVDs começaram a retomar terreno. Já seu concorrente com melhor qualidade, estancou.
Paralelamente, a tecnologia da internet evoluiu em passos largos. Praticamente saltos. Conexões cada vez mais ligeiras se popularizaram, e principalmente, com valores menores.
Isso possibilitou o crescimento de serviços de streaming em diversos países. E a surpresa: novos padrões de compressão e codificação surgiram, permitindo o armazenamento e transmissão dos conteúdos em alta definição.
O Predador
O Blu-Ray sentiu o baque. As vendas, que haviam parado de crescer, despencaram. O DVD havia retomado o crescimento. Os tocadores de DVD começaram a ganhar as prateleiras das lojas com um número ainda maior de fabricantes, com valores mais baixos.
Ainda assim, as locadoras, que começavam a enfrentar uma maré desfavorável, ainda tinham um grande acervo em Blu-Ray para quem quisesse assistir. Não tinha como dar errado, tinha?
É nesse momento que vamos invocar a Lei de Murphy, em seu artigo seminal, o verdadeiro cerne de sua existência: “se uma coisa pode dar errado, é certo que dará”.
Lembram do vídeo on-demand, ou, se preferir, streaming? Pois saiba que uma tal Netflix, que começou pequenininha, vinha correndo por fora e era a responsável principal pelo esvaziamento das locadoras. Com os conteúdos em Full HD, e preços populares, surgia como um concorrente voraz à indústria do Blu-Ray.
Então, veio o grande golpe: se a qualidade já era comparável aos discos do laser azul, imagine a situação quando a Netflix e outros players de menor porte anunciaram que disponibilizariam conteúdos em 4K.
A queda das locadoras e do mercado de venda de Blu-Ray foi vertiginosa. Os DVDs também foram pelo mesmo caminho. A Blockbuster, citada anteriormente, maior rede de locação de filmes em mídia física, que chegou a ter mais de nove mil lojas no mundo (cento e vinte sete no Brasil), encolheu até restar apenas uma única loja nos Estados Unidos e alguns quiosques na Austrália.
Os Blu-Ray se tornaram um luxo para colecionadores. Muitos guardam os filmes em casa, quase como um tesouro. E aqui entra o maior dilema. Suponha que você, amante da sétima arte e entusiasta da tecnologia, tenha um bom número desses. Aí percebe que seu player pode estar velhinho, já apresentando alguns pequenos defeitos mecânicos.
Qual a atitude mais lógica? Procurar um novo equipamento para substituí-lo! Fácil, é só procurar nas lojas de eletroeletrônicos ou nos portais de e-commerce. Vai lá, eu espero.
Mas vou esperar sentado, talvez deitado, porque essa missão não será simples. Assim como as mídias, os equipamentos tocadores de Blu-Ray simplesmente desapareceram do mercado, condenando os seus filmes armazenados em casa a um final melancólico, porque nem como peso de papel funcionam direito, devido ao pouco peso. E de mais a mais, quem usa papel com tanta frequência atualmente?
Missão: impossível
Em sites de comércio eletrônico onde geralmente você acha de tudo, achar um player Blu-Ray é uma missão árdua. Se você procurar na gigante Amazon, por exemplo, vai ter como retorno da pesquisa uma série de aparelhos de DVD padrão, estes sim encontrados com facilidade e valor baixo. Aliás, hoje em dia são fabricados por dezenas de empresas, não só as tradicionais.
Já os Blu-Ray de verdade, quando são encontrados, são de lojas internacionais que fazem a venda para o Brasil, por valores nada amigáveis ao cordial público brasileiro.
Uma Nova Esperança
Não que lá fora essa tecnologia tenha dado certo: ela é inexpressiva em quase qualquer país, mas aqui o baque foi bem mais forte. As sucessivas crises que enfrentamos, somadas à inflação, desvalorização do real e valorização do dólar e euro, praticamente tornaram o Blu-Ray um produto de nicho.
Um nicho pequeno, e que, diante da oferta de conteúdos via streaming em qualidade superior, preferiu deixar o laser azul morrer à míngua.
Mas nem tudo se perdeu. Os aparelhos de DVD, com aquela resolução mais baixinha, continuam por aí. Já viram dias melhores, mas continuam firmes e fortes. E podem ser a salvação de quem tem um bom acervo de Blu-Ray em casa.
Mas como, você questiona com propriedade: afinal, aparelhos Blu-Ray conseguem ler as mídias DVD, mas a recíproca está muito distante de ser verdadeira.
Porém, vá até sua estante, onde o Blu-Ray de seu filme preferido acumula uma fina camada de poeira. Não sei se prevendo um possível fracasso do sistema, a grande maioria dos filmes nesta tecnologia trazia de “brinde” um segundo disco, e não me refiro à mídia de Extras; boa parte deles trazia uma cópia do filme, vejam só, em DVD.
Portanto, você correrá o risco de não conseguir tocar mais seu filme em alta definição, mas conseguirá assistir na hora em que quiser, usando o disco do seu “primo pobre”, o velho e bom DVD, que se mostrou muito mais resiliente ao tempo e às novas tecnologias do que se poderia esperar.
Você é uma destas pessoas que tem filmes em casa? Ainda consegue manter seus players? Quero saber! Manda mensagem aqui no Twitter, ou na página do Facebook. Vamos lá, continuo esperando.
Até a próxima!
Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.