Café é muito mais que uma bebida
Imagem - Bach Hanzo - Pexels
Hoje vamos falar de café e como ele influencia as artes e nossa convivência social
Uma lenda diz que Kaldi um pastor, observou que seus carneiros conseguiam andar grandes distâncias e ficavam mais animados quando comiam folhas do cafeeiro até que ele mesmo experimentou o fruto e se sentiu mais atento
Também existe a história que um monge da mesma região deste pastor, usava o café para se manter acordado durante suas orações.
Essas lendas representam só um pouco das propriedades saudáveis que existem no café.
Existem qualidades que vão muito além do benefícios físicos e mentais de uns pequenos grãos que são torrados e moídos e se transformam em uma bebida que movimenta bilhões por ano.
Café social
Existia uma tradição na minha família que a pessoa não podia beber café puro até ser mais velha, por mais velha, eles entendiam uma pessoa de quatorze anos. .
Antes disso eu bebia café só na casa da tia Najla e mesmo assim com água.
Podem imaginar como era uma bebida estranha, mesmo assim eu gostava daquele gosto meio amarguinho, me sentia mais velho e inserido na sociedade.
O detalhe é que quando pude tomar café oficialmente recusei e dificilmente tomava café em casa, só pra ser do contra mesmo.
Só fui me ligar em como o café é um ato social depois dos trinta, quando reparei que o pessoal do trabalho ia tomar café mas na verdade, era a desculpa perfeita para discutir os temas mais quentes do momento, tanto no ambiente de trabalho quanto fora dele.
O lugar que vende café já nos remete a socialização e mesmo que vá sozinho, sempre é agradável estar entre pessoas alegres.
O café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo que não admite acompanhamento sólido.
Mas eu o driblo,saboreando, junto com ele, o cheiro das torradas-na-manteiga
que alguém pediu na mesa próxima.
Mario Quintana
O espaço do café
O café além de gerar empregos, gera muito estudo.
Achei uma tese de mestrado do Departamento de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Universitário de Lisboa.Onde a mestranda Soraia Sofia Rodrigues Ferreira disserta sobre os espaços onde são servidos café.
Claro que os objetos de estudos dela são lá de Portugal, tanto que o título da tese é:
OS CAFÉS DE LISBOA COMO ESPAÇOS DE SOCIALIZAÇÃO mas acredito que certos conceitos sirvam para o mundo inteiro.
Logo na primeira parte está escrito:
Os cafés são espaços de consumo, que refletem as necessidades básicas do ser humano, permitindo formas de estar e de interação social mais descontraídas, genuínas e informais, promovendo encontros entre vários modelos culturais de forma livre e autêntica, e, por sua vez, diferentes níveis de contacto entre indivíduos.
Exatamente isso que mais me encanta sobre essa bebida , o fato dela ser usada como expansor não só relações humanas como também de negócios.
Desde a tiazinha que vende café para os funcionários dos mais diversos setores logo de manhã, até as cafeterias mais caras.
Tudo passa pelo humano querendo se relacionar com outro humano, segurando um copo ou uma xícara de café.
Tudo serve de desculpa
Fazer turismo em fazendas cafeeiras e até mesmo visitar outras cidades, tudo serve de desculpa para tomar um bom café.
Pessoas viajam quilômetros para conhecer o museu do café em santos (SP),tomar um café no Starbucks ou no WE Coffee, a mais nova moda entre as cafeterias em São Paulo.
Fazem alguns anos que aqui em São Paulo era sinônimo de alegria tomar um café no Fran´s café, lá você tinha a sensação de estar em um lugar da moda, mas como ninguém se mantém na crista da onda pra sempre o Fran`s foi perdendo a fama e a graça, talvez pela concorrência mais especializada.
Hoje em dia é mais uma cafeteria que você vai quando está de passagem ou esperando alguma coisa.
Na música clássica o café foi muito bem representado.
Johann Sebastian Bach compôs uma cantata que é “um tipo de composição vocal para uma ou mais vozes, com acompanhamento instrumental e, às vezes, também com coro” ¹ . chamada de Cantata do café.
Essa cantata conta a história de uma moça que gosta muito de café, mas o seu pai não acha isso um bom hábito para uma mulher, sendo que realmente nessa época do século XVIII, o consumo de café não era bem visto para mulheres, pelo menos em Viena.
Tudo sobre essa obra musical achei em um site da Universidade Federal do Rio Grande do Sul “que aborda o assunto música desde os primórdios até o século XIX.”
Personalidades atribuem parte do seu sucesso ao café
O site Entrepreneur fez uma matéria sobre personalidades que tomam café.
As mais interessantes são essas:
David Letterman ( apresentador de tv nos EUA) disse em uma entrevista que “Eu bebia muito café. Se não fosse pelo café, eu não teria uma personalidade identificável. Então é isso o que temos por aqui.”
David Lynch (cineasta) falou –
Eu costumava comer no Bob's Big Boy.
Eu ia às 14h30, depois da correria do almoço. Tomava um milk-shake de chocolate e quatro, cinco, seis, sete xícaras de café - com muito açúcar. E tem muito açúcar nesse shake de chocolate.
Eu ficava animado com todo esse açúcar e tinha muitas ideias!
Mais músicas e café
O compositor Chico Buarque cita o café em uma de suas músicas chamada Cotidiano.
Nela ele retrata o dia a dia metódico de um casal, que faz sempre as mesma ações, Mostrando como o cotidiano pode ser repetitivo e tedioso.
Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pr'o jantar
E me beija com a boca de café
Só quem toma a bebida que entende como é ter uma “boca de café”
Marisa monte na música “não é fácil “ fala explicitamente do gosto amargo do café em uma letra que retrata saudades de um amor que foi e ninguém sabe se volta.
Todo dia de manhã
Enquanto eu tomo meu café amargo
É, ainda boto fé
De um dia te ter ao meu lado
Na verdade eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil
Acredito que já consegui mostrar as diversas vertentes que essa bebida pode influenciar e que por ser uma grande paixão mundial atrai todo tipo de criador.
Ainda faltou falar sobre os filmes que tem o café como maior inspiração.
Isso vou deixar para outro texto.
Depois de tanto falar de café só falta fazer uma pergunta.
Vamos tomar um cafezinho ?
Este artigo foi escrito por Cássio Racy e publicado originalmente em Prensa.li.