Cannabis e meio ambiente: uma relação de preconceito e ignorância
A luta pela legalização da cannabis não é um evento recente, por certo, traz cada vez mais visibilidade para a planta e seus fins, além dos já comprovados para a saúde. No entanto, ainda há muito preconceito acerca do seu uso e um mercado que envolve toda a proibição, o que cria alguns mitos em relação a planta e o impacto do seu cultivo no meio ambiente.
Em 2017, a revista Superinteressante trouxe um artigo de pesquisadores ingleses e estadunidenses sobre os impactos do cultivo da cannabis no meio ambiente. Os principais pontos levantados são o elevado gasto de água e o intenso gasto energético para que a planta cresça em condições ideais - isto é, por volta de 25º e 30º C.
Contudo, o impacto negativo que esse cultivo traz, é pensado em um âmbito industrial e capitalista. Nesse sentido, questiona-se:
A culpa é da cannabis?
Comparando as indústrias e alguns mercados, o agronegócio atualmente é o que mais consome água. Em relação à pecuária, pode-se dizer que o mercado bovino, por exemplo, está logo em seguida no ranking de gasto hídrico. Segundo a Embrapa, são cerca de 15,5 mil litros de água por quilo da carne.
Veja bem, o fato desses setores financeiros serem um dos principais fatores no consumo inconsciente dos bens naturais, não justifica que o cultivo da cannabis possa chegar a continuar com a destruição em massa do planeta. Em fato, os pesquisadores do artigo que a Superinteressante traz diz que as pesquisas foram feitas com plantações ilegais em que por conta da falta de regulamentação, o manejo do cultivo e a responsabilidade da água ficam fora de controle.
Por isso, faz-se importante que cada vez mais estudos sejam realizados em relação à plantação e ao consumo. De preferência, com legalidade, a fim de entender exatamente os gastos ideais que a planta necessita. Destacando, é claro, que a maconha não serve apenas para fins recreativos.
Infinitas possibilidades
Poucos sabem, na verdade, do que a cannabis é capaz de trazer, além dos benefícios para a saúde e do seu uso recreativo. Este, inclusive, é um dos fatores para os debates acerca da legalização serem tão fracos, principalmente no Brasil, já que o preconceito de um lado tenta, por todas as formas, inviabilizar os argumentos do outro.
Em 2019 a marca 8000kicks lançou o primeiro tênis com um processo de fabricação eco-friendly e fibras de cânhamo - uma variação da cannabis. O tênis vem com a premissa de que é mais resistente e durável, isso porque a fabricação a partir da fibra de maconha não consome tanta água quanto a produção que utiliza algodão.
O cânhamo por vez é a melhor opção em se tratando de sustentabilidade, já que todas as partes da planta podem ser reutilizadas. Além da indústria têxtil, a qual pode substituir o já citado algodão e também o eucalipto, essa variação ainda é útil em setores como plástico, construção civil e outros.
O cultivo faz também a restauração do solo, além de absorver mais dióxido de carbono do ar do que outras plantas cultivadas para fins comerciais, podendo auxiliar na reversão da situação climática atual do mundo.
Por certo, ainda há muito a ser descoberto, mas não é com preconceito, ou com a proibição, que chegaremos ao consenso do uso da planta para um bem maior.
Referências
1. GRANATO, Marina. Como a cannabis pode contribuir com o meio-ambiente? Granja Talks, disponível em: https://ganjatalks.com/2021/11/29/veja-as-formas-que-a-cannabis-pode-contribuir-com-o-meio-ambiente/
2. LEONARDI, Ana Clara. Legalizar maconha pode fazer mal para o meio ambiente. Superinteressante, disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/legalizar-maconha-pode-fazer-mal-para-o-meio-ambiente/
3. ASHWORTH, K; VIZUETE, W. High Time to Assess the Environmental Impacts of Cannabis Cultivation. Environmental, v. 51, 2017, disponível em: https://pubs.acs.org/doi/full/10.1021/acs.est.6b06343
4. NOGUEIRA, Evelyn. Tênis vegano, eco-friendly, à prova d’água e feito de maconha. Casa, 2020, disponível em: https://casa.abril.com.br/sustentabilidade/tenis-vegano-eco-friendly-a-prova-dagua-e-feito-de-maconha/
Este artigo foi escrito por John Oak e publicado originalmente em Prensa.li.